Impactos do contexto pandêmico na saúde mental da pessoa idosa

Serviços de assistência a pessoas acima de 60 anos reforçam cuidados durante a pandemia da Covid-19

Desde março de 2020, com a consolidação do cenário da pandemia da Covid-19 pelo mundo todo, restrições de isolamento social se tornaram necessárias para a contenção do alastre do vírus, principalmente em relação aos grupos de risco. Entre eles, os indivíduos de 60 anos ou mais se tornaram mais vulneráveis a situações de negligência e abandono. Em Ponta Grossa, a população idosa é de aproximadamente 22.885 pessoas, de acordo com a Fundação Municipal de Promoção ao Idoso (FAPI).

Desta forma, reforça-se a necessidade de atenção e cuidados com os sinais de comportamento apresentados por idosos nas famílias e comunidades, que podem significar solidão, temperamento alterado ou desenvolvimento de transtornos emocionais decorrentes da má adaptação com o isolamento social. De acordo com Fernanda de Almeida da Silva, assistente social e coordenadora da Instituição de Longa Permanência para Idosos em Ponta Grossa (ILPI),  idosos solteiros e sem filhos são os que correm maiores riscos de abandono, “uma vez que não existem membros da família próximos o suficiente para assumir a responsabilidade sobre uma possível necessidade de remédios, cuidados com a alimentação, higiene e atenção à saúde mental em geral”, afirma. 

A saúde física também se inclui na esfera da qualidade de vida da pessoa idosa. A diminuição da autonomia dos idosos em ações que eram consideradas comuns e simples na rotina anterior à pandemia, como passeios e caminhadas, afeta diretamente na saúde mental e psicomotricidade do indivíduo idoso. Fernanda avalia os impactos da redução de atividades autônomas na saúde do idoso. “Em alguns casos, o idoso desenvolve depressão por falta de estímulos motores, doença que traz como sintomas a imunidade baixa, falta de apetite, desânimo e inconformidade”, diz.

A assistente também compara a recepção de uma nova realidade entre idosos fragilizados e mais dependentes de cuidados com os indivíduos de lucidez mais nítida. “A readaptação de um idoso lúcido é a mais dolorosa pois ele não quer aceitar a sua nova realidade por estar acostumado com a constante presença de sua família, sua vizinhança”. Em alguns casos, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), que atua diretamente no serviço de acolhimento institucional, pode permanecer como auxiliar da família, oferecendo atendimento psicológico e assistência para os familiares. No caso de idosos sem parentes próximos, a institucionalização na casa de repouso é prioritária para que o idoso seja acolhido e bem cuidado.

As instituições oferecem atividades interativas, como jogatinas em grupo, ações  escolares e religiosas e aulas artísticas, como teatro, canto e pintura. Para Fernanda, o apoio à arte criada pelos idosos gerou um grande impacto no apoio à expressividade e recuperação da autoestima durante o período de isolamento. “Eles conseguem expressar os seus sentimentos com as pinturas e ficam contentes com o resultado, levam os quadros aos seus quartos e se sentem orgulhosos da sua produção”, afirma.

Estas ações internas nas instituições foram uma forma de compensar as dificuldades do isolamento, considerando que anteriormente à pandemia grupos de teatro como os Doutores da Alegria visitavam a ILPI. Mesmo com a vacinação completa dos indivíduos institucionalizados e dos funcionários da instituição, o sistema de visitações ainda se encontra comprometido.

Em Ponta Grossa, a Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) atua em parceria com a Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (Faspg) há 95 anos na cidade para o atendimento e acolhimento de idosos que se encontram em situação de vulnerabilidade social, dando prioridade aos idosos que não possuem cônjuges e/ou filhos. Fernanda afirma que a negligência de idosos é recorrente: “o custo de vida na terceira idade é alto e algumas famílias não possuem condições econômicas para o sustento de remédios, consultas, alimentos, cuidadores. Isso gera problemas emocionais e familiares, e muitas vezes, resulta em abandono”.

A assistente enfatiza o Alzheimer e demência como principais doenças relacionadas à saúde mental que afetam a estrutura dos cuidados com o idoso. “Os familiares e vizinhos o enxergam como briguento, confuso, e passam a ignorar o idoso: isto é negligência, e se não existe a reestruturação dos vínculos familiares para que os parentes cuidem do idoso, a equipe do CREAS é acionada para o institucionalizar”, explica. 

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