Isolamento social impacta na saúde mental da população LGBTQIA+

Faz parte de uma das milhares de coisas que eu queria apenas que ela entendesse e aceitasse” relata jovem que vive a opressão familiar

O tópico da piora da saúde mental da população LGBTQIA + durante a pandemia tem preocupado especialistas da saúde. Para identificar os desafios da comunidade LGBT+ durante o período de isolamento social, o coletivo #VoteLGBT conduziu o estudo Diagnóstico LGBT+ na pandemia, de 28 de abril a 15 de maio de 2020. A pesquisa aconteceu por meio de um formulário online, obtendo o resultado de mais de 10 mil pessoas de todo o país. 

A piora na saúde mental foi citada por 43% dos entrevistados e desse total 54% afirmou a necessidade de apoio psicológico. A mudança brusca de rotina e o aumento no convívio familiar foram destacados por cerca de 39% dos participantes. A parte mais vulnerabilizada é a parcela menor de idade, uma vez que, não tem outra alternativa a não ser conviver com familiares que muitas vezes não aceitam sua sexualidade. 

Durante a fase da adolescência, expressar-se faz parte do processo de autoconhecimento dos jovens para construir sua identidade antes de atingir a vida adulta. Segundo Flavia Fanchin, estudante de psicologia do quinto ano da faculdade Sant’Ana de Ponta Grossa, adolescentes com uma dinâmica familiar muito rígida, que impede o filho de entender questões a respeito da sua sexualidade e individualidade, faz com que o adolescente passe por constante opressão.

A partir disso, vivenciar situações sem um apoio parental em uma fase essencial para o amadurecimento emocional pode desencadear casos de depressão e outros transtornos psicológicos. “Em um país que anda para trás, muitos menores de idade LGBTQIA+ não têm refúgio nas próprias casas. Principalmente agora em meio à pandemia que jovens menores de idade não têm a opção de ficarem distantes de suas famílias por dependerem delas”, destaca a estudante. 

Flavia Fanchin menciona o aumento do contato com a internet devido ao isolamento, para fins de expressão e busca de apoio. “A internet pode ser muito útil para jovens LGBT+ por conta da quantidade de informação que pode colaborar com as questões relacionadas a sua sexualidade. Porém, se o jovem vive em constante opressão e questionamento de pais homofóbicos, atos de desespero para achar apoio em desconhecidos, pode expor eles de maneira perigosa”, acrescenta.

Uma jovem de 16 anos, que preferiu não se identificar, relata os impactos negativos em sua saúde mental ao conviver mais tempo com sua mãe durante o isolamento. Segundo ela, passa por constantes humilhações e provocações vindas da sua família, a respeito de sua sexualidade. Mesmo tendo contato com seus amigos e colegas pelas redes sociais, a adolescente queria apenas se sentir aceita. “Escolhi não fazer nada por ter medo, mas eu sempre me senti muito rejeitada. Faz parte de uma das milhares de coisas que eu queria apenas que ela entendesse e aceitasse”, relata.

Se você precisa de auxílio psicológico, busque o centro de valorização da vida disponível gratuitamente 24 horas no número 188.

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