Luta das mulheres por melhores condições nas universidades continua em Ponta Grossa

Em 2023, o número de mulheres que estavam na faixa etária de 15 a 29 anos e não estudava era 11,4% maior que o número de homens na mesma condição

O curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) realizou o painel “Mulheres na Universidade: Barreiras e tetos interseccionais, lutas por condições de igualdade”, para apresentar as vivências das mulheres no meio acadêmico. O evento foi promovido com apoio dos projetos de extensão Elos, Alô Mulheres e Democracia e Direitos Humanos, além do grupo de pesquisa Jornalismo e Gênero e da Gente Feminista de Ponta Grossa.

A doutora em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e psicóloga, Célia Ratusniak, falou sobre as desigualdades dentro da universidade. Segundo ela, a trajetória das mulheres neste espaço quase nunca é linear porque há muitas barreiras erguidas por conta do gênero. 

Um dos motivos que mais levam à desistência escolar feminina no Brasil é a gravidez, representando 23% dos casos, de acordo com o IBGE. Conforme Célia, “ser mãe na universidade é exigente e humilhante, significa não se sentir parte da academia”, complementando que a licença maternidade estudantil não é eficiente, pois a mulher realiza atividades domiciliares durante os 3 meses ao invés de poder se dedicar ao cuidado do recém-nascido.

Outros fatores apontados por Célia, que também é pedagoga, são a limitação do apoio institucional para as mães na universidade, além da falta de espaços para discussão sobre as necessidades. “O silenciamento é um problema, pois se a pessoa não consegue falar sobre o assunto não há denúncia, nem mudança”, afirmou.

Entre as exigências que a doutora disse serem necessárias no meio universitário, estão um espaço para trocar e amamentar as crianças e maior flexibilidade de horários quando diz respeito a prazos de trabalhos e atividades estudantis.

 

 

Foto: Victor Schinato

 

Já na perspectiva de ser mãe durante a trajetória acadêmica, a integrante do Núcleo de Relações Étnico-raciais, Gênero e Sexualidade do Laboratório de Estudos do Texto da UEPG, Indianara dos Santos, fez seu relato. “Nunca tinha percebido que existiam mães na universidade até eu me tornar uma delas”, confessou. 

Indianara sofreu comentários constrangedores dentro da universidade e não se sentiu bem-vinda naquele ambiente. “A maternidade não é somente um fator biológico, mas também um fator social”, explicou, ressaltando ainda a importância de dar visibilidade ao problema, pois só assim eles serão solucionados. “É papel fundamental da instituição acolher as mães, mas também é preciso que os alunos tenham acesso aos discursos dessas mulheres”, finalizou.

Para completar o debate, a assistente social e professora da UEPG, Lenir Aparecida Mainardes, contou sobre os resultados do relatório de insegurança alimentar, realizado em 2023, com os estudantes da UEPG. Conforme pesquisa, as mulheres na universidade representam 37% de taxa de insegurança alimentar, enquanto mulheres com filhos apresentam 56%. 

Ela falou sobre a importância da divulgação destas informações para torná-las públicas. “As discussões que ocorrem na universidade e a maneira como se é dado a formação do conhecimento influenciam em quais serão as oportunidades fora da universidade”, afirma.

O Relatório Global de Desigualdade de Gênero, publicado em 2023 pelo Word Economic Forum, analisou as questões de igualdade de gênero que pararam de avançar durante os anos de pandemia. Conforme conclusão, serão necessários 131 anos para eliminar as desigualdades de gênero presentes na política, economia e oportunidades em geral.

            Repórter Ester Roloff

LEIA TAMBÉM

COMENTÁRIOS

Deixe uma resposta