Maristela Staveski: memórias de uma vida dedicada ao amor e resgate de animais

Maristela Aparecida Staveski, de 46 anos, é farmacêutica e amante dos animais. Ela dedicou grande parte de sua vida à causa animal. O primeiro resgate foi em 2012, de uma cachorrinha que apareceu no terreno de sua casa. Maristela fez a escolha de tratá-la mesmo não encontrando o dono ou a dona. A cachorrinha estava com câncer no útero, e por conta do tratamento realizado desenvolveu cinomose canina, doença que apenas piorou seu quadro. Maristela teve que tomar pela primeira e única vez a decisão de sacrificar um animal para que ele deixasse de sofrer. “Comecei com os dois pés esquerdos na causa animal”, comenta da experiência traumática.

Ela então passou a atuar apenas como ajuda financeira nos grupos do facebook que participava: Doação Ponta Grossa e Animais Perdidos Ponta Grossa. Mas foi em 2014, dois anos após seu encontro com a cachorrinha que Maristela começou a ativamente fazer os resgates de animais. “Eu ajudei vários, mas tem alguns que me marcaram mais”, relembra. O Valente foi um dos cachorros que mais marcou Maristela, pois o resgate do animal foi muito difícil, ele era muito arisco por tudo que tinha passado na rua.

“Eu sentia que a partir do momento que eu resgatava o animal, até eu conseguir que ele fosse adotado, ele era meu”. Maristela conta que fazia visitas diárias aos animais e  dava nomes. Foi assim com a Sofia, Pirata, Francisco, Valente, Paçoca, Capitão e tantos mais.  “Eles não tinham mais ninguém, só tinham a mim”. Com um ar melancólico ela conta que quando os animais morriam ela chorava, mas quando eram adotados ela também chorava, porque de certa maneira eles não seriam mais dela. “Se eu tivesse uma casa grande, eu ficaria com todos que já resgatei”.

Outro caso marcante foi o da cachorrinha Sofia que tinha uma bicheira muito grande no pescoço e quando foi anestesiada para o tratamento ela chorou. “Nunca tinha visto um cachorro chorar, escorriam lágrimas dos olhos dela”. Já o cachorro Francisco estava com as patas da frente tortas no resgate, Maristela lembra de ficar preocupada ao achar que ele era paraplégico.  “O que iria fazer? Ninguém iria querer adotar ele, teria que pagar hotel para ele pro resto da vida”. Mas, felizmente, foi apenas uma fratura calcificada, hoje Francisco vive uma vida normal com a família que o adotou.

Um dos últimos animais resgatados foi o gato Paçoca, encontrado na rua com a mandíbula quebrada, o veterinário disse para Maristela que o animal provavelmente recebeu uma pancada na cabeça, ou seja, alguém propositalmente o machucou. “Fazia dias que ele não comia ou bebia, com certeza ficou muito tempo naquela situação”. Maristela explica que muitas pessoas devem ter passado e visto o animal machucado. “É comum fingir  que não vê, porque a ajuda está vinculada a uma despesa financeira, as pessoas até querem ajudar, mas não podem pagar”, lamenta. Paçoca se recuperou e continua na família, ele foi adotado por sua sobrinha.

Maristela ainda comenta sobre os casos que deram problema após as adoções. “Achar bons adotantes é outra responsabilidade da causa animal, você salva o animal, trata, gasta, se apega e depois espera doar para alguém que vai dar amor para ele”. O Pirata foi um cachorro que havia sido abandonado longe para morrer, Maristela achou uma família para ele, mas após dois anos o animal foi devolvido para ela. “Não entendo como a família não se apegou, quem gosta de animais já pega um amor na hora”. Pirata foi então doado para outra família que estava disposta a amá-lo da maneira como merecia.

O Capitão foi um dos animais mais marcantes para Maristela. Ele constantemente fugia da casa em que foi adotado pelas frestas do portão. Maristela pediu para o adotante arrumar o portão várias vezes, mas o problema continuou, até que um dia Capitão foi atropelado por um caminhão.  “Se eu tivesse doado para outra pessoa, talvez ele ainda estivesse vivo”, lamenta Maristela. Ela disse que carrega até hoje o peso na consciência e o sofrimento deste caso. “Quando eles morrem uma parte de mim vai junto, porque eles eram responsabilidade minha”.

Maristela confidencia que sua trajetória envolveu muitas lágrimas, e os constantes abalos emocionais somados com o financeiro levaram ela a parar de fazer os resgates. Ela deixou de acompanhar os grupos, porque era muito difícil ver e não poder ajudar. “Ao mesmo tempo que te gratifica recuperar um animal é muito sofrido quando não é possível salvar ele”. Maristela salvou muitos animais durante os anos em que fez os resgates, e mesmo afastada ela ainda se preocupa profundamente com os bichinhos. “É uma alegria imensa salvar uma vida”, finaliza.

 

Repórter Ester Roloff

 

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