“O jornalismo tradicional não trata corretamente as questões de gênero”, afirma jornalista argentina

“Quando o jornalista percebe o trauma que um abuso provoca na vítima, passa a ter cuidado em como noticia”, reflete a jornalista argentina Lenny Cácere, fundadora do site Diario Digital Femenino e membro da Red Internacional de Periodistas con Visión de Género. Para ela, a mídia tradicional ainda não sabe trabalhar a questão de gênero e reproduz injustiças, preconceitos e senso comum no discurso jornalístico.
Cácere cita duas formas para os meios jornalísticos trabalharem com a questão de gênero. A primeira é chamar os acontecimentos pelo o que eles são, como por exemplo, ao relatar um assassinato, não escrever “uma mulher foi encontrada morta”, mas sim “uma mulher foi assassinada”. Em segundo, não culpar ou julgar as vítimas. “Não importa o que estava vestindo, onde estava e qual a profissão que exercia, a culpa não é da vítima”, reforça.
Outra questão que a jornalista destaca é quanto ao uso de imagens, que podem causar gatilhos em vítimas e normalizar situações. Para ela, não é necessário reproduzir imagens de violência para contar uma história. “Devemos pensar que estamos falando sobre e para pessoas que são afetadas pelo nosso discurso”, lembra a jornalista. Para ela, a questão de gênero deveria ser obrigatória na formação de jornalistas.
O Diario Digital Femenino é o primeiro e único site dedicado exclusivamente para o agrupamento e produção de informações sobre questões de gênero. As pautas abrangem questões ligadas aos direitos e reivindicações das mulheres e da comunidade LGBT+ que não apareceriam na mídia tradicional. “Podemos seguir revoltadas, ou mudarmos a realidade a nossa volta”, declara Cácere.
A jornalista relata que, em 2018, o movimento das mulheres argentinas pela legalização do aborto se destacou também nas redes sociais digitais e por isso não pôde ser ignorado pelas mídias tradicionais. “Se não podemos contar uma história nas empresas em que trabalhamos, vamos contar nas nossas redes sociais e elas também serão repercutidas”, relata.
Lenny Cácere realizou a conferência de abertura do 6º Cóloquio Mulher e Sociedade, na manhã desta terça, dia 23. A programação completa do evento está disponível no site: http://sites.uepg.br/jornalismo/ocs/index.php/6mulheresociedade/6mulheresociedade

Por Daniela Valenga

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