Em média, os produtos chegam a custar três vezes o valor dos alimentos regulares em supermercados de Ponta Grossa
Estima-se que dois milhões de pessoas possuem doença celíaca no Brasil, a grande maioria sem diagnóstico. A doença celíaca é autoimune, ou seja, não apresenta cura e é desencadeada por tendências genéticas em qualquer idade. Ela é desencadeada pela ingestão de glúten, proteína presente no trigo, cevada, centeio e aveia. Os dados vêm da Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil (FENACELBRA), mas apenas como uma estimativa, pois não existem estudos concretos sobre a doença no país.
O único tratamento conhecido é a dieta sem glúten para o restante da vida. Glaucia Staveski foi diagnosticada como celíaca aos 45 anos de idade e contou ter dificuldades para se adaptar à nova dieta. “Em reuniões de família ou saída com os amigos era o mais complicado, porque eu não podia comer o mesmo que todo mundo, e muitas vezes nem havia a opção de alimentos sem glúten”, relembra. Alimentos básicos da dieta brasileira, como arroz, feijão, carne e ovo, não possuem glúten. O mesmo vale para frutas, laticínios, hortaliças e outros.
Estudos mostram que qualquer quantidade de glúten, por menor que seja, já é prejudicial para um celíaco. Isso significa que até mesmo as panelas usadas para cozinhar nunca podem ter tido contato com alimentos com glúten, para que não haja contaminação cruzada (quando um alimento sem glúten acaba por conter glúten por ser produzido em ambiente não isolado). “Por conta da dificuldade da produção dos alimentos sem glúten o preço acaba ficando maior, eu entendo, mas mesmo assim é um problema. Gasto mais nos mercados hoje e tenho menos opções de alimentos do que antes da doença”, lamenta Glaucia. A lei federal nº 10.674, de 2003, determina a obrigatoriedade de todas as empresas que produzem alimentos informarem no rótulo se o produto “Contém glúten” ou “Não contém glúten”.
O Elos fez uma pesquisa para investigar o preço dos alimentos sem glúten na cidade. Os dois mercados selecionados fazem parte de redes grandes de supermercados e permaneceram anônimos. O Mercado 1 apresentou uma maior variedade que o Mercado 2, que trouxe apenas o básico da alimentação. Alguns valores dos alimentos foram alterados para igualar com a quantidade das porções (ex: o pacote de farinha mais barato tinha 1 kg, enquanto que a farinha sem glúten só tinha em pacotes de 500g, então os valores foram convertidos para que no quadro abaixo eles representassem as mesmas porções).
*Não foi levado em consideração o preço dos macarrões mais baratos como o miojo (R$1,09 – Mercado 1), pois não havia um produto similar na versão sem glúten.
Os alimentos sem glúten apresentam, em média, valores 233% maiores que dos alimentos com glúten. A aveia, a batata chips na lata e o macarrão, em ambos os mercados, foram os alimentos sem glúten com menor aumento no preço, não chegando nem a aumentar o dobro do valor. Em compensação, a farinha no Mercado 1 e o pão de forma no Mercado 2 tiveram aumento de mais de 300% nos produtos sem glúten. O biscoito cracker sem glúten foi o alimento que apresentou maior variação de preço, chegando a 900% a mais do valor do variante com glúten.
Para saber se você possui a doença basta consultar um médico de forma gratuita pelo SUS e realizar exames de sangue.
Texto por Ester Roloff