Profissionais da educação se posicionam contra a EJA na modalidade híbrida no Paraná

A categoria alega que  implantação da modalidade a distância para educação Jovens e Adultos pode aumentar a exclusão de estudantes

 

A Secretaria da Educação (Seed) do Paraná anunciou a implementação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na modalidade híbrida a distância para o segundo semestre de 2023. A nova proposta do governador Ratinho Jr. (PSD) visa oferecer uma alternativa flexível para jovens e adultos que possuem responsabilidades familiares e profissionais, permitindo-lhes continuar seus estudos. Essa decisão suscitou preocupações entre o Sindicato dos Professores e os profissionais da educação, que destacam os desafios da nova abordagem de ensino.

De acordo com o Governo, essa proposta tem o objetivo de ampliar o atendimento e flexibilizar os locais e horários de estudo para atender às necessidades específicas desse público. No entanto, essa justificativa não se aplica à maioria dos estudantes do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Prof. Paschoal Salles Rosa, onde Denise Gomes é diretora. Ela conta que o novo modelo é positivo para aqueles que têm acesso a tecnologia e um local de ensino adequado, o que foge da realidade da maioria de seus estudantes. “É muito boa para estudantes com perfil  autodidata, que conseguem estudar sozinhos, mas eu vejo que os meus alunos não têm esse perfil. 90% deles não conseguem aprender sem um professor”, complementa a diretora.  

A Associação dos Professores do Paraná (APP) e o Fórum Paranaense de EJA expressam preocupações com a decisão governamental. Em nota,  eles argumentam que o modelo remoto de ensino apresenta diversas dificuldades de aprendizado, como já ficou evidente durante a pandemia. As particularidades dos estudantes da EJA, somadas às limitações tecnológicas e à falta de acesso a equipamentos agravam ainda mais as fragilidades.

O ponto crítico levantado é o risco de ampliar a exclusão educacional, já que muitos estudantes da EJA não têm acesso adequado às tecnologias necessárias para o ensino a distância. A falta de apoio e de acolhimento, proporcionado pelo ambiente escolar, podem agravar os índices de analfabetismo do Paraná, que já ocupa a pior posição entre os estados do sul. Conforme os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2022,  cerca de 356 mil pessoas com 15 anos ou mais eram analfabetas no Paraná.

Para a pesquisadora do analfabetismo no Brasil, Vera Lúcia Martiniak, também coordenadora do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) a educação destinada a esse público não alcança um aprendizado concreto, mediado pela relação presencial entre professor(a) e estudante. “O ensino remoto pode proporcionar mais a exclusão do que a  inclusão.  No EJA online esses estudantes podem não ter uma aprendizagem realmente sólida e que possam usar de verdade em suas vidas”, afirma a pesquisadora. 

Ainda, Vera Lucia destaca sobre com o uso de plataformas tecnológicas que afetam o acolhimento e o envolvimento dos estudantes. O ensino a distância pode levar à perda de vínculos, redução da qualidade do ensino e aumento da evasão. “É necessário a aplicação de uma metodologia específica para atender EJA e essa metodologia deve estar incluída ainda na modalidade remota de ensino. O que  é diferente da presencial”, complementa Vera.

 

Por: Alex Dolgan

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