Tudo por um lar: Famílias abordam dificuldades enfrentadas em ocupação de PG

As mais de 700 famílias que vivem no acampamento Ericson John Duarte, imploram por suporte e compreensão, tanto dos órgãos municipais como da população

Desde dezembro de 2021, mais de 700 famílias encontram na ocupação Ericson John Duarte a chance de ter um espaço para construir uma casa própria. O terreno, localizado no Parque das Andorinhas, no Rio Verde, foi planejado justamente para a moradia das famílias cadastradas pela Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar). Porém, desde 2011, ano em que as obras começaram, o local não possui investimentos do poder público. O que resultou em um amplo espaço esquecido pela companhia. 

A Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), coordenada por Leandro Dias, organizou a ação junto às famílias ponta-grossenses sem casa na ocupação do local. Sem apoio da prefeitura, das companhias de água (Sanepar)  e energia elétrica (Copel), as famílias sofrem com a negligência e carência dos recursos básicos. 

Qual é o perfil das famílias?

Membros de quatro famílias se mostraram receptivos para falar sobre a situação que enfrentam na ocupação Ericson John Duarte com o Projeto Elos. Todas abordaram as dificuldades de moradia e financeira que as levaram a migrar para o local. Outro ponto em comum e de destaque entre os relatos é a indignação de serem comparadas a desocupados, visto que a maioria que reside no terreno ocupado pela FNL possui emprego. A pandemia impôs uma situação a estas famílias em que muitas precisaram escolher entre pagar o aluguel ou alimentar os filhos. 

Confira as entrevistas:

“Lutar pelo o que é nosso por direito e ter um teto para morar!”

Diego de Lima Ribeiro, de 31 anos, afirma sua luta diária. O motoboy e participante ativo da FNL revela a dificuldade financeira da família, que é composta por ele, a esposa e dois filhos. O que já era difícil, com a pandemia apenas piorou. Ele, que era microempreendedor, se viu sem serviços por quatro meses. Tempo suficiente para não conseguir pagar os 600 reais de aluguel da casa em que residia. “Antes eu não conseguia comprar uma bolacha para os meus filhos, pois não sobrava dinheiro, agora sobra, já que não pago aluguel”, destaca o morador da ocupação.

Com cadastro ativo na Prolar há mais de sete anos, Diego demonstra indignação em não conseguir sequer um terreno para conseguir construir um lar para a família. “Eu quero construir uma casa para os meus filhos, pois sei que se eu morrer, a casa vai ser deles”, revela. O desejo de Diego para o futuro de sua família é ter uma casa própria, lutar pelas pessoas que se encontram na mesma situação: ter um teto para morar. Ele também espera que as pessoas entendam a real situação de quem ocupa um terreno que é deles por direito. “Em vez das pessoas criticarem, por que não fazem alguma doação? Ou só fiquem cada um no seu canto que já ajuda”, afirma Diego sobre a falta de sensibilidade das pessoas que não vivem o mesmo que as mais de 700 famílias da ocupação.

“A gente veio pra cá pra tentar uma vida melhor, pra comprar um remédio, dá mais conforto pras criança, meus dois netinhos”. Dona Terezinha de Lima Nascimento, 65 anos, aposentada e residente da ocupação desde dezembro de 2021, nos conta um pouco mais sobre sua rotina e seus obstáculos. O relato comum entre eles é o desejo de um futuro melhor para a família e,  principalmente, para as crianças. Doente e com dificuldade de locomoção, dona Terezinha descreve o desamparo que sofre junto aos filhos. “Eu me vi na rua, não posso comprar remédio. Ou compra remédio, ou compra comida.”, enfatiza. 

Foto: Bettina Guarienti

Dona Terezinha, 65, com uma de suas netas em frente a residência recém construída na ocupação Ericson John Duarte.

 

“E têm luz, água, aluguel. Eu como sou uma pessoa honesta gosto de já pagar, não deixar acumular”

Com cadastro ativo há cerca de 20 anos na Prolar, Terezinha aponta a falta de eficiência do programa. “ Todo ano eu ia lá, desde quando meu filho era pequenininho, e nunca podiam arranjar casa pra mim, nada até agora.” Ao ser questionada sobre a rotina na ocupação, dona Terezinha descreve as dificuldades impostas pelo local. “Não temos banheiro, no começo era sem água, sem luz, sem nada. Tanto que eu pensei várias vezes em desistir. Mas daí pra onde que eu vou agora?”. O drama da falta de assistência vivida pelas famílias sem apoio do governo municipal, sem saneamento e sem qualquer visita por porte dessas entidades, dificulta ainda mais a sobrevivência na ocupação.

Elisiane Alves Correia, de 45 anos, nos revela que além dos obstáculos vividos no dia a dia, outro ponto prejudicial são as fake news e palavras desrespeitosas ditas sobre os moradores do local. “Muitos falam que nós somos um bando de desocupados, que nós somos um bando de vagabundos. Mas não é verdade, nós precisamos muito daqui sabe?”, desabafa. O sonho e direito da casa própria comum entre milhares de brasileiros, encontra nessas ações uma forma de ser realizado. 

Foto: Bettina Guarienti

Elisiane Alves Correia, 45, abre a porta de sua casa, onde mora com o marido e o filho mais novo.

 

“Fiz uma casinha, não é uma mansão, mas é um lugarzinho meu”

Foto: Bettina Guarienti

A moradora mostra o lugar ao qual dormia, antes de conseguir construir a sua casa.

A locação, ocupada pelas famílias, é um terreno irregular que estava nas plantas da Prolar há anos para construção de casas populares. Entretanto, nunca foi construída nenhuma residência no lugar. Dona Elisiane nos relata quando conseguiu uma casa pelo programa, mas que devido à localização, precisou sair do local. “Eu cheguei a pegar a casa da Prolar, mas onde eu morava era muito perigoso.” O medo foi devido aos homens que ameaçavam as filhas de Dona Elisiane, para que elas fossem obrigadas a se relacionarem com eles. “Tive que sair porque falaram pras minhas meninas que se elas não fossem deles, eles iam matar elas, daí eu tive que sair correndo.”

Catharina Silva, de 56 anos, conta que tem diabetes e, dessa forma, é dependente da insulina e consequentemente da energia elétrica. “Eu tomo remédio, tenho problema de diabete tudo, tomo insulina então sempre tem que ter a geladeira”, aponta a moradora. Como a ocupação não possui energia elétrica, a idosa deixa a geladeira na casa da cunhada para poder conservar o remédio. Companheiro de Catharina, Olivio Machado, de 58 anos, tem cadastro na Prolar há cerca de 10 anos e assim como nos outros relatos, ele também não teve retorno do programa. Ambos possuem o mesmo objetivo, terminar de construir a casa, para terem um lugar para chamarem de seu. 

Foto: Bettina Guarienti

O casal, Catarina e Olavo, posam ao lado da futura residência, que ainda está em construção.

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