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Participantes do projeto de extensão Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã apresentam trabalho no EAIC pela primeira vez

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Estudantes apresentam os resultados das pesquisas desenvolvida ao longo do ano sobre direitos humanos

No próximo dia 14, iniciam as apresentações do XXIX Encontro Anual de Iniciação Científica, o EAIC. No evento, integrantes do projeto de extensão Direitos Humanos, Jornalismo e Formação Cidadã Alex Daniel Dolgan, Maria Eduarda de Oliveira e Thais de Lima Silva apresentarão trabalhos com temática de direitos humanos, resultado de um ano de pesquisa.

Os três são estudantes do ensino médio e participam pela primeira vez do Encontro Anual de Iniciação Científica Júnior, dentro da programação do EAIC, porém destinado a alunos e alunas de escola pública e que desenvolvem atividades de iniciação científica júnior.

A estudante Thais Silva apresenta na segunda-feira, 14, o trabalho “Jornal Escola, Jornalismo e Formação Cidadã”, sob orientação da professora Paula Melani Rocha, conta que descobriu o projeto de extensão através da escola que cursa o ensino médio. “Minha pesquisa e interesse é na área da diversidade, respeito e estudo dos nossos direitos. Eu entrei no Elos através do colégio Estadual Regente Feijó e com a ajuda de uma professora”, lembra Thais.

A estudante Maria Eduarda apresenta no dia 15 a pesquisa “As Mídias Digitais Na Difusão De Conteúdos Sobre Direitos Humanos: Monitoramento e Análise do Projeto de Extensão Elos” sob orientação da professora Karina Woitowicz. Ela lembra que ainda não tinha tido nenhuma experiência com pesquisa científica, porém o processo foi bom para a aprendizagem. “O processo de pesquisa foi realizado com calma até porque não tinha tido nenhuma experiência com produção científica. Na criação tive que juntar várias informações relacionadas às redes sociais do ELOS”.

As apresentações deste ano acontecerão diferente dos outros anos. Em razão da pandemia do Covid-19 as mesas serão de forma remota e transmitidas pelo canal da oficial UEPG no Youtube. Para conferir, clique neste link.

 

 

Conferência discute propostas de políticas públicas para mulheres em Ponta Grossa

Evento contou com palestras e debates sobre direitos das mulheres e formulação de políticas para o município

Por Leonardo Correia e Pietra Gasparini

Participantes discutem vivências e políticas públicas na V Conferência Municipal de Políticas para Mulheres. Foto: Leonardo Correia

No último sábado (28) aconteceu a 5ª Conferência Municipal de Políticas para Mulheres, com o tema “Mais democracia, mais igualdade e mais conquistas para todas”. O evento promovido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Ponta Grossa, em parceria com a Procuradoria da Mulher, a Câmara Municipal e a Secretaria Municipal da Família e Desenvolvimento Social, ocorreu na Câmara Municipal, das 8 às 18 horas.

A conferência contou com a presença de lideranças, especialistas, gestoras públicas, representantes de movimentos sociais e a comunidade em geral, com o objetivo de fortalecer as políticas públicas voltadas às mulheres e promover a igualdade de direitos. O evento foi organizado pela presidenta do Conselho, Andrea Marques, com a colaboração de conselheiras representantes do governo municipal e da sociedade civil.

Pela manhã, a professora Dra. Ana Claudia Marochi, do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Norte Pioneiro (UENP) e representante do Conselho Estadual de Política para Mulheres, ministrou a primeira palestra do dia, com o  tema “Mulheres, Estado e Participação Social: Uma Análise Crítica das Políticas Públicas Contemporâneas”. A palestrante apresentou avanços na política de participação das mulheres como cotas para gênero, financiamento de campanhas, programas de conscientização, projeto “Filia Mulher”, fundo ELAS, Casa da Mulher Brasileira e o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero.

Também foram relatadas dificuldades como uso de mulheres como laranjas, desvalorização das falas e propostas de mulheres nos parlamentos e falta de políticas para paridade de gênero nas câmaras. “É uma longa caminhada, porque nós temos cidades muito conservadoras, temos um discurso que reforça esse processo de que a mulher deve ser bela, recatada e do lar, mas isso não pode permanecer, nós precisamos somar esforços com pesquisas, com produção de políticas, com enfrentamento e ocupar espaços sempre que a gente puder para avançar nessa pauta”, observa a professora.

Durante a formação da mesa de abertura da conferência, que contou com representantes dos governos municipal e estadual e lideranças políticas, foi entregue pela deputada estadual Mabel Canto o Código Estadual da Mulher Paranaense, que consolida a legislação paranaense relativa aos direitos da mulher. O código torna o Paraná referência nacional no combate a todas as formas de violência enfrentadas pelas mulheres.

No período da tarde, a diretora do Departamento da Mulher, Beatriz Aparecida, apresentou um panorama das ações desenvolvidas pelo órgão e os atuais desafios enfrentados. Durante sua fala, destacou iniciativas importantes como o processo de construção do Plano Municipal de Políticas para as Mulheres, a elaboração de um protocolo para o atendimento às mulheres em situação de violência no município e as ações preventivas relacionadas às diversas formas de violência contra as mulheres, entre outras medidas. Ao final, foi debatido como essas políticas públicas podem, de fato, alcançar mulheres quilombolas e aquelas que vivem no meio rural.

Em seguida, a assistente social judiciária Bruna Miranda, doutora e mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ministrou a palestra “Políticas para mulheres e o direito de viver sem violência”. “Além de ser filha da minha mãe, eu sou filha das políticas públicas, porque foi isso que nos fez chegar onde estamos hoje”. Foi assim que Bruna iniciou a palestra, reforçando a importância das políticas públicas voltadas às mulheres.

Ela destaca que o direito a viver sem violência perpassa outros direitos, visto que a mulher passando por uma situação de violência pode ter sua liberdade cerceada, sua saúde afetada, seu direito sobre o próprio corpo violado, entre outros direitos prejudicados.

Durante a palestra, Bruna destacou que todas as mulheres estão sujeitas a violações, independentemente de raça, idade ou classe social. Ela enfatizou que a violência contra a mulher não é algo linear, e sim um problema complexo, com consequências diversas para cada mulher. Por essa razão, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres está estruturada em quatro eixos principais: saúde, assistência social, segurança pública e justiça. No entanto, ressaltou que a rede de enfrentamento vai muito além dessas frentes institucionais, e que todas e todos devem ser parte ativa no enfrentamento da violência. 

A palestrante apresentou dados sobre a violência contra a mulher em Ponta Grossa. Segundo os registros oficiais, judicializados e notificados, “em média, uma mulher a cada quatro quadras da cidade está vivendo uma situação de violência”. Um dos dados apresentados é que a maioria das vítimas tem pelo menos um filho, o que fortalece a importância do entendimento sobre violência vicária, que acontece quando o agressor atinge terceiros com o objetivo de causar sofrimento emocional à mulher. Os terceiros normalmente possuem um forte vínculo afetivo com a vítima, sendo os alvos mais comuns os filhos dessas mulheres. 

Elaboração de propostas

À tarde, a Conferência Municipal de Políticas para Mulheres dedicou um espaço à formação dos Grupos de Trabalho divididos em eixos temáticos indicados pelo Conselho Estadual de Políticas para Mulheres. Os eixos foram: I- Democracia, Participação e Governança das Mulheres; II -Trabalho, Equidade Salarial e Autonomia Econômica; Ill- Territórios Livres de Violências e Qualificação das Redes de Atenção à Mulher; IV-Direito ao Território e Sustentabilidade; V- Educação Não Sexista e Cultura Para Igualdade; VI- Saúde Integral e Bem-Estar da Mulher.

Após a discussão entre os participantes de cada eixo, as propostas foram apresentadas e aprovadas e devem ser levadas para discussão na V Conferência Estadual de Políticas para Mulheres. Ao final, foram escolhidas as delegadas e suplentes que irão representar o Conselho na conferência e também aprovadas as moções propostas pelas participantes.

A conferência contou com um espaço kids disponível durante todo o evento, para que as mães e responsáveis pudessem deixar seus filhos enquanto participam da programação. Também teve venda de artesanatos, comidas caseiras e produtos orgânicos, além de apresentações culturais. 

Numape registrou 893 medidas protetivas de urgência em 2024

Bairro Contorno e Uvaranas lideram o ranking dos bairros com mais solicitações

Amanda Grzebielucka, Bebel Costalonga e Malu Dip

 

 Em 2024, o Núcleo Maria da Penha (Numape), da Universidade Estadual de Ponta Grossa, registrou 893 medidas protetivas de urgência. De acordo com levantamento, os bairros do município com maiores índices de violência contra a mulher a partir das situações judicializadas encaminhadas ao NUMAPE são o Contorno com 138 solicitações, Uvaranas com 121 e Neves com 96 pedidos. Juntos, os três bairros representam aproximadamente 40% dos casos.

 De acordo com a assistente social do Núcleo e uma das autoras do levantamento, Thais Aniskievicz, algumas atividades de sensibilização em redes como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidade Básica de Saúde (UBS) e escolas são realizadas nos bairros numa tentativa de combater os casos de violência doméstica. “O Numape constantemente busca a publicização de eventos como rodas de conversa, palestras e panfletagens a fim de atingir uma comunidade como um todo, cumprindo os objetivos do projeto de extensão”, afirma Thais. Ela ainda acrescenta que não existem dados publicados referente a este ano para fazer comparação ao ano anterior, porém, os índices tendem a crescer anualmente.   

 O Núcleo trabalha  com um atendimento interdisciplinar, em que a mulher tem acesso a uma equipe composta por quatro advogadas, uma assistente social e uma psicóloga. O processo inicia com a assistente social, momento no qual acontece o acolhimento inicial da vítima, a identificação das necessidades socioeconômicas e o direcionamento para os serviços de apoio.

 Depois disso, as advogadas realizam os requerimentos para a medida protetiva de urgência e as orientações sobre como prosseguir a partir desse momento, com orientações jurídicas gratuitas das ações (divórcio, guarda e visitas) e também o acompanhamento nos procedimentos judiciais. É importante destacar que os atendimentos ainda incluem, após a análise jurídica dos casos, o encaminhamento para as redes de proteção adequadas (saúde, assistência social, judiciário e educação) e a realização de atividades externas de cunho educativo que auxiliam na prevenção e ressocialização das vítimas. 

  A atenção psicológica também desempenha um papel fundamental e indispensável no andamento dos casos. “A psicóloga oferece suporte emocional, auxílio no enfrentamento da violência e acompanhamento psicológico individual, buscando ressignificar e promover autonomia da assistida”, destaca Aniskievicz.  O  atendimento tem como objetivo a reconstrução da autoestima e fortalecimento emocional das mulheres atendidas. 

 Após a abertura do chamado, o Núcleo oferece um acompanhamento contínuo, tanto juridicamente quanto socialmente, com o objetivo de obter informações e monitorar as situações já apresentadas e caso haja a necessidade de novas providências, o mesmo também realiza. O suporte pode se estender a depender da complexidade do caso, mas geralmente o acompanhamento permanece ativo até o final do processo judicial e enquanto existir risco ou demanda da mulher.

 O NUMAPE conta com apoio institucional e financeiro da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná, Programa Universidade Sem Fronteiras (USF) e da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) para que possam realizar os acompanhamentos.

População deve ficar alerta com o aumento nos casos de gripe em Ponta Grossa

Previsão da Secretaria de Saúde do Paraná é que o mês de junho de 2025 tenha 81% mais internações do que o mesmo período no ano passado

 

No final do mês de maio, a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA) anunciou a contratação de 13 novos leitos, três Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e dez leitos de enfermaria para o Hospital do Coração Bom Jesus, em Ponta Grossa, com todos os custos cobertos pelo Estado. O motivo é a alta nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), infecção que causa dificuldade para respirar e pode levar a lesões nos pulmões. Em muitos casos, a doença é acompanhada de pneumonia e pode ser causada por diferentes vírus, incluindo influenza e Covid-19.

O secretário de saúde do Estado, Beto Preto, em depoimento oficial ao site da Secretaria de Saúde do Paraná, confirma a gravidade do problema. “Os casos em crianças muitas vezes evoluem para internações, o que mostra a importância da ampliação da rede de saúde”, afirma. A SESA divulgou que das 85 pessoas que faleceram de gripe no último mês, apenas nove tinham se vacinado.

A enfermeira, Glaucia Staveski, explica o porquê do aumento do número de casos da doença no frio. “O vírus se espalha através da respiração, nos espirros, tosses e até na fala, como no frio ficamos em ambientes mais fechados, geralmente com janelas fechadas, isso propicia a contaminação de uma pessoa para outra”, exemplifica. Ela frisa que a vacina é importante, mas não substitui um sistema imunológico fortalecido. Alimentação nutritiva, dormir bem, tirar momentos para o descanso e o lazer, são algumas das atividades que ela cita que fortalecem o corpo. “Só tomar a vacina não é o suficiente, é preciso ter um estilo de vida saudável e, principalmente, quem está contaminado deve ter consciência de lavar as mãos e de cobrir tosses e espirros”, avisa.

O movimento antivacina é uma oposição à vacinação pública. Ele já ocorre há vários anos, mas se intensificou durante a pandemia do Covid-19. “Todo radicalismo é errado, claro que a vacina sozinha não realiza a proteção total, mas ela é fundamental para salvar vidas, principalmente quando envolve doenças mais graves”, ressalta a enfermeira Glaucia. A Organização Mundial da Saúde classifica a hesitação em vacinar como uma das 10 ameaças à saúde mundial. A vacina contra a Influenza é capaz de evitar entre 60% e 70% dos casos graves e dos óbitos relacionados à doença.

 

Serviço

Foi decretado o Plano de Ação Estadual para enfrentamento da Síndrome Respiratória Aguda Grave em crianças, gestantes e idosos. Pacientes gripais passam a ter atendimento prioritário em hospitais e unidades básicas de saúde. A vacinação gratuita está disponível para todos os públicos, assim como os testes rápidos para detectar influenza A, B e Covid-19.

As vacinas estão disponíveis em 24 Unidades de Saúde da cidade, no Centro Vacina PG, localizado na região central de Ponta Grossa e nas ações do Ônibus da Vacina.

Por Ester Roloff

Vivências de casais LGBTQIAPN+ especial dia dos namorados 

Entre o amor e a resistência, casais compartilham suas histórias. 

Amanda Grzebielucka e Pietra Gasparini

 

 Em uma sociedade tão preconceituosa, vivenciar o amor homoafetivo é uma batalha diária. Encaramos olhares enviesados, comentários ditos inofensivos, mas que são puro ataque a quem somos. Mas no meio disso, histórias de amor que devem ser celebradas  se constroem, como a nossa. Nós, autoras desse texto, somos um casal de mulheres, e neste dia dos namorados, ou no nosso caso “das namoradas”, buscamos mostrar histórias de casais LGBTQIAPN+, que assim como nós, amam e resistem todos os dias. 

 Junho é também o mês do orgulho LGBTQIAPN. Sabemos que o dia dos namorados é construído para casais heterossexuais e cisgêneros, porém neste texto buscamos celebrar diferentes formas de amor. 

Resistência à dois 

 Renan Penteado da Silva e Carlos Ricardo Grokorriski, são dois homens cisgêneros que formam um casal gay. Eles se conheceram  em um aplicativo de namoro há 2 anos. “É até interessante como os casais homossexuais se encontram, quando a gente fala no aplicativo as pessoas podem  pensar muita coisa, mas é o lugar que a gente tem para conseguir se comunicar com uma certa liberdade. Ser quem você é sem ser  julgado”, conta Ricardo. Logo, Renan completa: “E deu tudo certo, no caso, estamos juntos até hoje. Depois de  duas garrafas de vinho, a gente está aqui juntos e é muito bom”.

 Os dois explicam que sempre foram muito bem recebidos pela família um do outro, mas que sentem uma barreira muito grande em relação à sociedade. “Eu sofri muito fora da família, uma vez num posto aqui em Ponta Grossa,  levei um tiro de raspão na cabeça. Não era pra eu estar aqui. Tanto que fiquei sem reação na hora. Essas situações acontecem e é por homofobia. São coisas que  não gosto de lembrar, mas que ficam marcadas”. Renan conta que na época ficou com muito medo, então não fez boletim de ocorrência nem pediu as imagens da câmera de segurança. Ricardo complementa falando sobre o julgamento, “Eu fico me perguntando por que a gente causa tanto pavor assim, por que a gente causa tanto medo? Até mesmo nessa questão dos direitos”.

 A dificuldade em se auto aceitar é algo que muitas pessoas passam, e para Renan isso é como um tobogã, com seus altos e baixos. “ Desde criança, tem dias que eu falo é, eu sei o que eu sou, é isso mesmo, e tá tudo bem. E daí tem dias que eu me pergunto por quê? Por que que eu fui sorteado com essa história? Por que esse cara se implicou com a gente na balada? Por quê? Sabe?”, desabafa.  

 Renan e Ricardo contam como os acontecimentos cotidianos para casais héteros ganham outra dimensão na vida de um casal homo. O que parece pequeno, como um almoço de domingo, vem carregado de outro significado: acolhimento. Eles comentam do dia no qual o pai de Renan convidou Ricardo para tomar um café.“Acho que o grande lance de colocar a cara para dizer é justamente comemorar esses pequenos detalhes do dia a dia que ninguém passa”, afirma Ricardo. Segundo ele, quem é homossexual muitas vezes precisa se virar sozinho. “Quando você acha alguém para viver isso com você as coisas ficam muito mais fáceis, a gente se apoia um no outro, me sinto forte ao lado dele”. 

Amor sem armários

 “Nunca tive tanta certeza de algo como tenho dela. meu sonho de ter uma família, agora é ter uma família com ela”. É assim que Luana Andreoli descreve seu relacionamento com  Giulia Bergonsi. As duas são mulheres cigenero que compõem um casal sáfico. Elas se conheceram  há 1 ano em um aplicativo de relacionamentos e estão juntas desde então. 

 No meio da paixão o casal também precisa ser resistência, como viver tentando ignorar constantemente seus pensamentos de que viver um amor com a pessoa do mesmo sexo é errado, e que por muitas vezes pensa em evitar afeto em espaços público por medo da violência, “É uma sensação constante de alerta que pesa muito. Sei que esse medo não está errado, infelizmente, mas eu escolho ter coragem para amar, para ser quem eu sou, para mostrar nosso amor sem medo”, conta Giulia 

 A família de ambas apoia o relacionamento e é muito receptiva, elas reconhecem que isso que é algo normal para casais heterosexuais e cisgeneros, porém, para a maioria dos casais LGBTQIAPN+ é extraordinário, “Uma das coisas mais importantes em um relacionamento homoafetivo são as coisas cotidianas, como um churrasco em família, andar de mãos dadas, demonstrar afeto em público, quero cada vez mais me sentir aberta a tudo isso”, desabafa Luana. Giulia também relata que os simples momentos significam muito, “O pequeno ato de dar as mãos ou trocar um beijo pode parecer simples para outros, mas para a gente é um ato de resistência e de afirmação da nossa existência”. 

 As duas contam que já viveram situações de homofobia, “Lembro a primeira vez que sofri, tinha apenas 14 anos, e recém começado terapia com uma psicóloga nova, logo nas primeiras sessões, quando falei sobre minha sexualidade, ela disse que tudo que eu precisava era ir para a igreja”, relembra Luana. Giulia fala dos olhares atravessados em todo lugar que demonstra afeto com sua namorada, “Além disso, em relacionamentos anteriores, cheguei a enfrentar homofobia vinda da família da outra pessoa, o que foi muito doloroso e difícil de lidar”.

 

Se assumir no amor do outro 

 “Viver um amor que também é uma forma de resistência é ir contra a maré, é mostrar que somos livres para vivermos como queremos e encontrar a felicidade nisso”, essa é a visão de Vinícius Valença sobre o relacionamento que tem com seu companheiro, que não identificamos por não ser assumido. Namorado de Vinicius acrescenta que a relação entre amor e luta causa um misto de sentimentos, “Ao mesmo tempo que é lindo e natural amar, sabemos que cada demonstração de afeto em público é um ato de coragem, uma forma de dizer que existimos e merecemos o mesmo respeito que qualquer outro casal”.

 Os dois também se conheceram em um aplicativo de namoro no final do ano passado. O casal falam sobre o julgamento da sociedade, “Temos um pouco de medo e desconforto de  demonstrar em público, mas sempre busco pensar que devo lutar contra isso, principalmente em lugares que sei que são mais “seguros”, como forma  de resistência a essa cultura que vive na própria insensatez”, desabafa Vinicius. 

 Seu companheiro que não é assumido conta, “Tenho medo da reação, como seria a aceitação, a gente percebe por comentários em almoços de família, entre outras coisas. Comigo nunca teve nada nesse sentido, mas vendo essas reações fico pensando como seria”. O casal relata que o fato de morarem sozinhos e longe da cidade de origem contribui para terem mais liberdade e não precisarem se esconder tanto. Eles contam que transformaram a vida um do outro, “A vida ficou mais leve e feliz. Ter alguém para compartilhar os medos e as alegrias, e que me faz sentir completamente aceito, é transformador. Aprendemos muito um com o outro”, afirma o companheiro. 

 

 

 

Paraná é o estado com maior taxa de óbitos devido ao uso de álcool

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Mesmo que o consumo médio no Brasil tenha diminuído nos últimos 10 anos, a região Sul apresentou crescimento de 37% no consumo de álcool durante o período

                                             Repórter Ester Roloff

  O Ministério da Saúde e o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) disponibilizaram a pesquisa anual de 2024 intitulada “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024”. Os dados revelam que o consumo médio de álcool no Brasil passou de 8,6 litros (por pessoas com mais de 15 anos) em 2010, para 7,7 litros no último levantamento, em 2019 (último ano em que foi feito um levantamento geral da situação no país, para os anos seguintes, o relatório apresenta os dados individuais de cada estado). Mesmo com essa diminuição, o Brasil continua acima da média global de consumo, que é de 5,5 litros. No Paraná, o problema se agrava ainda mais.

 Em 2023, o Paraná foi o segundo estado com maior número de internações relacionadas a complicações de saúde decorrentes do consumo de álcool (65,5 a cada 100 mil habitantes), ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul (69,9 a cada 100 mil habitantes). Ambos os percentuais são consideravelmente maiores do que os do restante do País, com a maioria dos estados apresentando menos da metade destes valores. A situação se agrava ao observar a taxa de óbitos devido ao uso do álcool. O Paraná apresenta o maior índice (42 a cada 100 mil habitantes), ficando acima da média do país (32 a cada 100 mil habitantes).

 O consumo abusivo de álcool é um comportamento mais comum entre os jovens e está associado ao aumento no risco de envolvimento em acidentes e situações de violência, além dos prejuízos sociais e econômicos ocasionados. As causas para o vício envolvem a combinação de diversos fatores, como idade, gênero, classe social e escolaridade.

Experiências nos CAPS

 O coordenador do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas (CAPS AD) de Ponta Grossa, Luiz Culesel, relata a preocupação que tem com o bem-estar mental dos funcionários que atuam na instituição. “Temos que ficar atentos com nossa saúde mental, pois todos que vêm aqui buscam ajuda, têm uma história difícil, não podemos levar para a vida pessoal o que acontece no trabalho”. Ele explica que a relação que tinha com o álcool mudou após começar a trabalhar no CAPS. “Eu tomava muita cerveja, hoje já tenho consciência de qual é meu limite, porque o limiar entre estar bem e o uso abusivo é muito pequeno”, observa. Luiz destaca a importância de sempre manter atenção à quantidade e à frequência do consumo de bebidas alcoólicas. 

 A assistente social, Jordana Gabriela Murmel, trabalhou em diferentes CAPS de Ponta Grossa, entre eles, o específico voltado para o uso de álcool e drogas. Ela explica que existe um preconceito contra os CAPS que dificulta o atendimento dos que precisam. “É difícil as pessoas virem para cá, então, quando isso acontece, precisamos fazer de tudo para mantê-los com a gente”, ressalta.

 Jordana expõe que também faz uso de bebidas alcoólicas. “Os pacientes perguntam e eu não nego, mas a diferença é que eu sei o meu limite, não bebo para suprir uma frustração ou para ficar bem”. Ela fala que o trabalho mudou a maneira como ela via o uso de bebidas alcoólicas anteriormente. “O uso está inserido historicamente na nossa cultura, crescemos vendo nossos pais beberem e somos incentivados a beber em festas e comemorações, o que acaba nos levando ao consumo”, finaliza.

Serviço

 Se precisar de ajuda, ou conhecer alguém que precise, dirija-se a um CAPS da cidade. Os centros funcionam das 08 às 18 horas, de segunda a sexta, e não é necessário agendar horário prévio.

CAPS-AD: Rua Vicente Esposito, S/N, Bairro Órfãs – do lado do terminal Uvaranas. Telefone para contato: (42) 3220-1000.

CAPS II: Avenida Antônio Rodrigues Teixeira Júnior, Nº 229, Jardim Carvalho. Telefone para contato: (42)3901-3020.

CAPS Infantil: Rua Coronel Dulcídio, Nº 09, Centro. Telefone para contato: (42)3027-2088.

Rodas de conversa: um lugar seguro para a troca de experiências maternas

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As rodas são uma das contrapartidas previstas pelo projeto do livro “Mamãe é um montão”, financiado pela Lei de Incentivo à cultura Aldir Blanc 

                                  Por Lorena Santana e Natalia Almeida

   

 No último dia 04, aconteceu a roda de conversa “Maternidade: desafios enfrentados no cotidiano”, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A ação foi organizada por estudantes do terceiro ano de Serviço Social da UEPG e fez parte das contrapartidas do projeto que deu origem ao livro “Mamãe é um montão“, de autoria de Carina Mirelli e financiado pela Lei de Incentivo à Cultura Aldir Blanc, que exige que artistas contemplados por editais públicos realizem atividades de retorno à comunidade. O evento aconteceu no período noturno e foi aberto ao público.

 Carina conta que a ideia do livro surgiu de forma despretensiosa a partir do desejo de compartilhar suas próprias experiências com a maternidade. “Para mim, a maternidade é algo muito pulsante, então escrevi o livro e enviei para algumas editoras, e no meio do caminho surgiu o edital do Aldir Blanc, montei um projeto e passei em primeiro lugar”, relata. 

 A autora destaca que entre as atividades previstas pelo projeto está a distribuição gratuita dos livros. Ela ressalta a importância desse acesso à comunidade e pessoas que não teriam condições de realizar a compra. O lançamento do livro está previsto para julho, no SESC Estação Saudade, e a agenda de contrapartidas, com as rodas de conversa sobre maternidade, continua até setembro.

A roda

 Dentre os assuntos que surgiram na roda, a sobrecarga materna e a falta de rede de apoio tiveram destaque durante a conversa. A saúde mental materna é ainda ignorada pela sociedade e não recebe a atenção necessária, como pode-se observar a partir dos relatos da matéria “Invisibilidade da Saúde Mental Materna”, que foi produzida pelo Elos em junho de 2024. 

 Carina Mirelli define os momentos de reunir mães em uma roda de conversa como um respiro diante do caos. “É necessário que grupos que vivem os mesmos desafios se encontrem e compartilhem suas vivências. Existem situações que por mais apoio que essa mulher tenha, por mais companheira que seja a pessoa que está do lado dela, só outra mãe vai entender”, declara. 

 De acordo com a professora de yoga e participante da roda, Bianca Kotviski a romantização da maternidade adoece as mulheres e esse fardo é imposto a elas todos os dias. Em rodas de conversa, ela diz que consegue derrubar essas fantasias e contemplar uma maternidade real. “Às vezes, a mãe se sente um monstro por estar encarando determinado sentimento e quando ela ouve outra pessoa que também passa por isso, ela se identifica e não se culpa como antes”, afirma.

 A segurança do trabalho, Erika Camargo, também integrante da roda, um peso muito grande na trajetória da maternidade são os palpites. “Depois de encarar diversas intromissões em relação ao meu maternar, esse lugar de acolhimento, longe de julgamentos, faz toda a diferença e renova a vontade de resistir e seguir com a criação das minhas filhas da maneira que eu acredito”, diz. 

 A mãe e doula, Juliane Carrico, esclarece que esse movimento de rodas de conversa acontece com bastante frequência e é promovido por diversos grupos, tanto na região central de Ponta Grossa como em variados bairros da cidade. Ela faz um apelo para que as mães fiquem atentas e compareçam. ”O peso da maternidade é grande e quando isso não é dividido, acaba explodindo. Essa troca e compartilhamento de experiências proporciona um sentimento de companhia e pode tornar essa caminhada mais leve”, defende Juliane. 

 

Audiovisual como resistência: Festival Araucária enaltece produções nacionais e locais em sua primeira edição

Evento gratuito em Ponta Grossa conta com a exibição de curtas-metragens

Bebel Costalonga e Malu Dip

 

 O Festival Araucária é um evento de audiovisual dedicado à celebração e exaltação das produções cinematográficas dos Campos Gerais. A primeira edição acontece de maneira gratuita e integralmente na cidade de Ponta Grossa no período de 2 a 8 de junho. O evento surgiu a partir do desejo de produtores de audiovisual em promover e incentivar a produção, exibição e circulação de produções na região paranaense. A programação desta primeira edição do festival conta com mostras competitivas, sessões itinerantes em escolas e projetos sociais e oficinas, contribuindo com a educação cultural e artística dos participantes. 

Primeira edição do Festival Araucária acontece no Centro de Cultura de Ponta Grossa. Foto: Malu Dip. 

 Na noite da última quarta-feira (04), aconteceu no Centro de Cultura a primeira mostra de curtas-metragens aberta à comunidade. As mostras Floração e Paulo Gustavo contaram com a exibição de 12 produções de diferentes gêneros, como ficção e documentários que exploraram temas diversos, como o folclore brasileiro, a fome, violência contra a mulher e outros. 

 As obras “Aquela Mulher” e “Raposa”, especificamente, retratam desafios no cotidiano feminino a partir de diferentes perspectivas. O primeiro curta, dirigido por Cristina Lago, é uma ficção ambientada no subúrbio carioca. A narrativa acompanha uma noite na vida de Camila e Cíntia, um casal que administra um restaurante à beira da falência. Enquanto tentam encerrar mais um dia difícil, a chegada inesperada de uma senhora misteriosa interrompe a rotina e desencadeia um clima silencioso e desconfortável entre as personagens. A visitante observa e questiona todas as atitudes de Camila, provocando discussões que se intensificam até o momento em que a energia do local acaba. Em um cenário de suspense, surgem conflitos internos, memórias e fragilidades que destacam as complexidades da identidade e da busca por pertencimento ao tentar conciliar a vida profissional com a pessoal.

 Já “Raposa”, dirigido por Margot Leitão e João Fontenele, é uma narrativa ambientada no interior do Ceará e que traz a parceria entre Raposa, uma mulher muito quieta de comportamento peculiar e considerada louca pela vizinhança, e Lelé, um diarista homossexual recém contratado por uma senhora. Com o passar do tempo, trabalhando ao lado da casa de Raposa, Lelé começa a escutar diariamente gritos vindos da casa dela e resolve tentar uma aproximação para entender o que estava acontecendo. Mesmo sendo criticado pela patroa, que menosprezava a situação, afirmando que a mulher era apenas uma maluca herege, ele persistiu e começou a passar mais tempo com a moça. Ao descobrir que os gritos eram em razão de uma série de abusos sexuais diários, Lelé decidiu tomar uma atitude, e assassinou o abusador. A obra explora de maneira sensível a violência sexual, o isolamento e a marginalização de pessoas na sociedade. 

 De acordo com o site oficial do festival, o evento se consolida como um espaço de resistência no cenário audiovisual e é o primeiro que visa a valorização das produções locais. A programação vai até este domingo e está disponível no site de divulgação. 

 

Mulheres na fotografia; relato e gerações

Por Lorena Santana 

Segundo relatórios da World Press Photo, menos de 20% dos profissionais atuantes na área fotográfica são mulheres. Apesar de notáveis avanços, ainda há muito para progredir quando o assunto é a valorização do olhar feminino na fotografia. Indo na contramão desse pensamento, fotógrafas ganham destaque ao atuarem nas mais diversas áreas da fotografia, como jornalismo, publicidade e mercado artístico. O que prova a capacidade feminina de criar registros em qualquer situação.

Tais defende: “Não é você quem escolhe a área da fotografia, é ela quem te escolhe”. Foto: Lorena Santana.

Tais Maria Cruz, técnica do laboratório de fotografia do departamento de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, enfatiza que esteve presente na transição do analógico para o digital na fotografia. Ela expressa satisfação em ter participado dessa história e relata com orgulho sua trajetória. 

Tais conta que seu contato com a fotografia começou despretensiosamente. Ela lembra que em um dia de trabalho, ao notar o baixo movimento do estabelecimento, a patroa da loja de tecidos em que ela trabalhava, a colocou para tirar os matos que se encontravam em frente a calçada. Tais obedeceu. Enquanto exercia tal atividade, Tais foi abordada por “Seu Carlos”, proprietário do laboratório “Foto Carlos”, da cidade de Ponta Grossa. Ele afirmou que “aquilo” não era serviço para ela e logo propôs que ela se juntasse à sua equipe e trabalhasse no seu laboratório. Tais aceitou o convite de imediato e desde então constrói a sua vida ao redor das fotos. 

Com essa narrativa, Tais conclui: Desde a parte laboratorial, como revelação e ampliação, até os registros se tornaram de domínio da fotógrafa. No fim dos anos 90, já em outro laboratório, ela começa a trabalhar mediante contratos e relata não ter tido problema algum em relação à hostilidade, pois eram os clientes que a procuravam a empresa, logo o interesse era deles.  

A fotógrafa relembra que dentro da realidade empresarial, era nítida a preferência em contratar homens. E se quando contratada, a mulher se casasse, ela era automaticamente desligada da empresa, tendo como justificativa, o prejuízo que uma futura gravidez ou a dupla jornada pudesse trazer à firma. 

No ano de 2002, Tais inicia seus trabalhos na Universidade Estadual de Ponta Grossa durante o dia e durante a  noite ela atua como fotógrafa oficial da Secal. Fora as duas atribuições, ela também trabalhava de forma autônoma fazendo registros. E dentro dessa realidade, Tais enxerga com precisão o preconceito em relação à figura feminina dentro da fotografia. “Como eu sabia que a fotografia era tida como uma profissão masculina, eu tinha o hábito de me vestir com calça, sapato mais baixo, cabelo preso, como uma estratégia para minimizar o preconceito e para que terceiros não diminuíssem as minhas execuções simplesmente por se tratar de uma mulher”. relata a jornalista. 

Ela conta que apesar do machismo estrutural, nunca foi vítima de assédio sexual por parte de contratantes ou terceiros, mas que suas colegas que fotografavam campos de futebol, por exemplo, eram constantemente assediadas. 

Tais se formou em 2013, no curso de Jornalismo, na mesma universidade na qual já era fotógrafa oficial. Seu TCC foi sobre pioneiros da fotografia em Ponta Grossa. Ela se define como um “rolo compressor”, passa por cima de tudo que precisar para chegar ao seu objetivo e reconhece que tal personalidade se dá como uma espécie de defesa por ser uma mulher em ocupando um lugar majoritariamente masculino. Já ouviu durante sua trajetória que uma mulher nunca teria capacidade de liderar um laboratório de fotos e que isso era serviço de homem. Mas provou o contrário e hoje conta essa história, ocupando a posição de técnica do laboratório de fotografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Heloise Nichele, fotógrafa e jornalista, apesar de já ter iniciado a carreira profissional na era das digitais, não foi poupada dos preconceitos presentes na área. 

Durante o ensino médio técnico que Heloisa realizou, surgiu o desejo pela fotografia. Dentro desse meio de produção, ela inicia, em 2014, sua graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Federal do Paraná. Em 2016, juntamente com seus colegas da Universidade Federal do Paraná, levou o prêmio “Jovem Jornalista”, do instituto Vladmir Herzog, na modalidade multimídia, o produto de título “Do outro lado do rio tem uma história – as mulheres e o zika na Tríplice Fronteira”

Seu trabalho de conclusão de curso em 2018 teve como título “Livro-reportagem: a mulher no fotojornalismo paranaense”. Em 2022, fruto desse estudo, ela lança o livro “Elas em foco” onde a jornalista busca resgatar e documentar a presença das mulheres no exercício da profissão fotográfica. “O fato de eu realizar uma pesquisa que busca os dados sobre jornalistas mulheres e custar a achá-los, já escancara um constrangimento, visto que houve uma carência, uma necessidade em relação a esse assunto”. declara a jornalista. 

Heloisa também fez uma pesquisa sobre capas dos principais veículos de imprensa feita por homens e mulheres e pôde concluir que pautas como de política, economia e esporte, por exemplo, eram vinculadas em sua maioria a homens. O que, segundo ela, escancara o estereótipo de que lugares a mulher deve ocupar. 

Quando feito o questionamento determinada vez para um jornalista sobre a ausência de mulheres no fotojornalismo, recebeu a resposta de que era ‘porque as mulheres não conseguiam carregar muito peso no dia a dia’. “O machismo é tão naturalizado e aceito pacificamente que as pessoas realmente acreditam no preconceito que propagam”, lamenta a fotógrafa. 

Heloisa assume a felicidade em perceber a crescente das mulheres dentro do ramo fotográfico, mas afirma que o caminho a ser percorrido ainda é longo.

A socióloga Valéria Lopes, analisa a situação com entusiasmo e nutre esperança de que no futuro, os dados de mulheres ocupando o lugar que por tanto tempo lhes foi impedido, aumente cada vez mais. Valéria entende que não basta apenas ocupar os lugares, mas derrubar o machismo através do campo de atuação: “Assim como acontece em diferentes mercados e segmentos, na fotografia também existe alguns estereótipos sobre as áreas de atuação consideradas femininas. Por exemplo, quando as mulheres são as mais indicadas para produzir imagens familiares ou relacionadas à maternidade, de família ou de gestante”. 

A plataforma on-line Women Photograph (WP), fundada pela fotógrafa documental Daniella Zalcman, acompanha desde 2016 as fotos consideradas “Foto Principal”, ou seja, que receberam destaque na capa dos principais jornais internacionais, com o intento de comparar o número de fotos feitas por homens, mulheres e não-binários. A intenção da plataforma é expor e comparar os trabalhos a fim de uma visão mais justa e equiparável em relação a gênero e prestação de serviço. 

Piquenique reúne famílias em comemoração ao Dia Nacional da Adoção

O evento celebrou a data e reforçou a importância dos vínculos familiares formados por meio da adoção

Natalia Almeida

 

 No último domingo (25), cerca de 25 famílias se reuniram no Parque Monteiro Lobato para o primeiro piquenique “Famílias formadas pela adoção”. O evento faz parte da programação da VII Semana de Adoção do Judiciário do Paraná e foi promovido pelo Núcleo de Apoio Especializado/Vara da Infância e da Juventude de Ponta Grossa (NAE/VIJ), em comemoração ao Dia Nacional da Adoção.

 

Famílias se reúnem para celebrar vínculos formados a partir da adoção. Foto: Natalia Almeida.

 A  lei que decreta o Dia Nacional da Adoção foi sancionada em 2002 e busca reforçar a importância do ato de adotar, conscientizar a população sobre o tema e dar visibilidade aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é dever da família, da sociedade e do Estado garantir esses direitos e a nova lei da adoção assegura a prioridade de conviverem no ambiente familiar, usufruindo de todos os seus direitos. 

 Segundo informações divulgadas pela assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel, Ponta Grossa possui uma fila com 176 pessoas que desejam adotar e 17 crianças estão aptas à adoção. Dessas, quatro são adolescentes entre 12 e 17 anos.

Processo de adoção

 O processo de adoção envolve uma série de etapas. A assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel, explica que o primeiro passo é procurar a Vara da Infância e apresentar a documentação necessária exigida – Segundo o Ministério Público do Paraná os documentos que você deve providenciar são: identidade; CPF; certidão de casamento ou nascimento; comprovante de residência; comprovante de rendimentos ou declaração equivalente; atestado ou declaração médica de sanidade física e mental; certidões cível e criminal. Depois disso, inicia-se o processo de habilitação. “Esse processo vai ser formado, a juíza vai determinar que seja realizado um estudo social e a avaliação psicológica dos pretendentes”, esclarece. Em seguida, a habilitação dos pretendentes será deferida e eles serão inseridos na fila de adoção. “Existe a lista local da cidade e também o cadastro nacional de adoção, no qual eles serão cadastrados, e aí é só aguardar o tempo de espera”, afirma. Sequinel ressalta que o tempo de espera varia de acordo com o perfil escolhido pelos adotantes, e o mais procurado é o de crianças pequenas de zero a cinco anos. De acordo com ela, o tempo de espera varia em torno de cinco anos na cidade. 

 Durante todo o processo, também acontecem os encontros preparatórios com o Grupo de Apoio à Adoção Necessária (GAAN), com o objetivo de acompanhar as famílias que desejam adotar. O grupo trabalha em parceria com o Tribunal da Justiça e promove encontros tanto com os pretendentes que estão iniciando o processo de adoção, quanto com os que já estão habilitados e com os que já adotaram.

 Quando os adotantes chegam ao topo da lista e há uma criança apta para ser adotada, é passado o histórico da criança e eles vão dizer se querem ou não adotar. “Aí inicia o processo de adoção, a gente entrega a criança e realiza o acompanhamento posterior para garantir que esse processo dê certo, fazemos os encaminhamentos necessários até que a adoção se concretize”, conclui Jucelaine.

Assistente social do Tribunal da Justiça, Jucelaine Sequinel e suas estagiárias. Foto: Natalia Almeida.

 

A romantização da adoção e a expectativa do filho ideal 

 O presidente do Grupo de Apoio às Adoções Necessária (GAAN), Rodrigo Figueiroa, fala que desmistificar a romantização da adoção é um dos principais pontos trabalhados nos encontros preparatórios. De acordo com ele, muitos casais ou adotantes solos chegam até lá com o filho dos sonhos idealizado. “Muitos chegam com o pensamento de que vão adotar a criança loira de olho azul e sem nenhum problema de saúde”, relata. O presidente da entidade explica que o objetivo é retirar essa visão da criança perfeita e mostrar a realidade. “O processo de adoção é bem longo e burocrático, e a gente acredita que realmente deve ser, para evitar de acontecer a questão da devolução”, afirma. Segundo ele, os encontros são essenciais para os adotantes tirarem todas as dúvidas, e chegarem ao final do processo com a certeza de que é isso que eles querem. “O objetivo do GAAN  é ajudar os pretendes a fazer com que a adoção realmente se concretize e que seja constituída mais uma família a partir dali”, finaliza Figueiroa. 

Presidente do Grupo de Apoio às Adoções Necessárias, Rodrigo Figueiroa à esquerda. Foto Natalia Almeida.

 Pais de uma criança de cinco anos, Nilceia e Alex Wrobel falam sobre a importância do processo preparatório para a adoção. “É necessário entender que você não está fazendo caridade. É um filho. E filho não é só alegria, existem custos, despesas, brigas e precisa cuidar, mas é gratificante”, ressalta o pai. O casal adotou o filho com dez meses, após quase cinco anos na fila de espera. 

 Eles contam que quando a criança tinha cerca de um ano e meio, começaram a perceber comportamentos como o atraso da fala e a falta de interação. Os pais seguiram a orientação do pediatra em aguardar para observar como seria o desenvolvimento da criança no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI). Depois de constatarem que os comportamentos persistiam, iniciaram com o processo de investigação e, aos dois anos, a criança foi diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).  “E aí vem a importância de você estar bem preparado, fazer todos os encontros, preparar o psicológico, o bolso, e não criar expectativas”, afirma a mãe. 

 Os pais reforçam que é essencial não criar expectativas do filho ideal, porque o que existe é o filho real, independente de ser adotivo ou biológico. “É por criar essa expectativa que acontecem as devoluções das crianças, porque chega nesse processo e acontece o luto, a decepção e a pessoa não está preparada para isso”, diz a mãe. Os pais contam que após o diagnóstico iniciaram as intervenções necessárias e hoje o filho fala, interage, lê e adora tecnologia.  

Nilceia e Alex Wrobel com seu filho, atualmente com cinco anos. Foto: Natalia Almeida.

 No Brasil, a devolução de uma criança após o processo de adoção ter sido finalizado é ilegal, conforme estabelece o ECA. Porém, durante o processo de convivência, antes do processo ser finalizado, dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que os registros de devoluções somam 8,9% das adoções entre os anos de 2019 e 2024.

 

Adoção tardia

 O casal Elizabete de Lima e Vladimir Danilenko contam que, antes de adotar, participaram do “família acolhedora”. Trata-se de uma medida protetiva excepcional e provisória, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para crianças e adolescentes que precisam ser afastados de sua família de origem. Nessa modalidade, a criança e/ou adolescente é cuidada  temporariamente por uma família acolhedora que, durante o período de acolhimento, assume todos os cuidados.

 O casal abrigou em sua casa três meninos, de quatro, sete e 12 anos, e foi a partir disso que enxergaram a necessidade e importância de adotar crianças mais velhas. “A partir de uma certa idade eles vão ficando de lado. Têm adolescentes de 14 anos esperando por uma adoção, e é bem complexo, porque quanto mais velhos, menos chance eles têm de ser adotados”, afirma Elizabete.

 Depois de seis meses na fila de espera, Elizabete e Vladimir conseguiram adotar um casal de irmãos, ela com oito anos na época e ele com quatro. A mãe conta que no início o processo de adaptação é mais difícil. “Meu menino logo de início já se apegou com meu marido, mas minha menina era mais afastada, não conversava muito comigo e falava mais com o meu marido, aos poucos ela foi se soltando”, relata. Este processo é individual de cada criança, pois cada uma delas possui sua história e seu tempo de adaptação. A mãe reforça a importância de valorizar a história dos filhos e de conversar sobre isso com eles. “Eu sempre tento fazer com que eles valorizem a história deles, para que eles enxerguem que foi através disso que eles chegaram até mim, foi a partir da mãe biológica que hoje eu tenho eles”, afirma. 

Elisabete de Lima e Vladimir Danilenko com seus dois filhos, atualmente com 15 e 11 anos. Foto: Natalia Almeida.

Serviços 

Secretaria da Infância e Juventude

(42) 3309-1791 / 3309-1792 / 3309-1793/ 3309-1611 / 3309-1796 3309-1799

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NAE (Núcleo de Apoio Especializado)

(42) 3309-1684 / 3309-1685 / 3309-1689 / 3309-1690 / 3309-1798

 

Gabinete da Magistrada:

(42) 3309-1791 / 3309-1788

E-mail: thap@tjpr.jus.br

 

Painel sobre violências veladas marca início da 19° Semana de Integração e Resistência

Palestra expôs como desigualdades sociais impactam na vivência de cada indivíduo 

Amanda Rafaella e Pietra Gasparini

 

O início da 19° edição da Semana de Integração e Resistência, organizada pelo Centro Acadêmico João do Rio (Cajor), do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ficou marcado pelo painel “Vivências veladas e consciência de gênero no ambiente institucional”. A palestra foi ministrada pela professora e pesquisadora do departamento de Educação da UEPG, Marcela Teixeira Godoy, e aconteceu no Grande Auditório do Campus Central.

Professora e pesquisadora, Marcela Teixeira Godoy, fala sobre interseccionalidade e gênero. Foto: Pietra Gasparini.

 Com uma dinâmica reflexiva, a professora trouxe questionamentos ao público sobre gênero e preconceitos como racismo, LGBTfobia, machismo, adultismo e aporofobia. Durante a sua fala, a palestrante exemplificou a ideologia de que todos partem de pontos diferentes e que há uma subjetividade em cada um que deve ser levada em conta.

 A palestrante trouxe o conceito de interseccionalidade segundo a pesquisadora da teoria crítica de raça, Kimberlé Willams Creenshaw, que define o termo como a sobreposição entre diferentes marcadores sociais, explicando que nós não somos somente mulheres, ou homens, mas também transsexuais ou cis, ou idosos que se encontram em determinada classe social, então terão diferentes formas de opressão que se sobrepõem. Nesse sentido, a violência contra a mulher também ganha sobreposições. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 63,6% das vítimas de feminicídio são mulheres negras. A pesquisadora explicou também que a violência que uma mulher negra sofre é mais acentuada, e é diferente da sofrida por uma mulher branca. 

 Segundo dados da pesquisa “Percepções dos Homens sobre a Violência Doméstica contra a Mulher”, realizada em 2013 pelo Instituto Data Popular, ao serem perguntados se já cometeram  violência contra mulher, 16% dos homens assumiram que sim. Já ao mudarem a forma de perguntar para: “Alguma vez você xingou, empurrou, ameaçou, deu um tapa ou um soco, humilhou em público, ou a obrigou a fazer sexo?”,o índice foi de 56% dos homens que responderam afirmativamente. Isso exemplifica a violência velada que é aquela que nem sempre é vista como violência, e que foi trabalhada pela palestrante. Uma das formas de violência e preconceito velado é a diferença de tratamento entre mulheres e homens no dia a dia. “Se você não faria essa pergunta para um homem, por que você faz para uma mulher?”, questiona a professora instigando os participantes a refletirem como esses aspectos estão dentro de cada um e precisam mudar.

 Godoy também trabalha os termos Decolonizar e Contra-colonizar, noções que estão juntas, mas não significam a mesma coisa. A professora explica que a decolonidade é o reverter os efeitos deixados pela colonização, já o contra-colonializar é o contrariar o colonialismo e as práticas deixadas por ele, e é o movimento feito por quem não foi colonizado. A discussão vai além do descolonizar coletivo, mas abrange também o individual. A professora explica: “Nosso pensamento é colonizado e a gente vai aos poucos se desfazendo dessa trama”. Durante toda sua fala, a pesquisadora explicou como o subjetivo está em todas as áreas, e que todo discurso tem uma cor, um gênero e uma posição social.