Home Blog

Participantes do projeto de extensão Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã apresentam trabalho no EAIC pela primeira vez

0

Estudantes apresentam os resultados das pesquisas desenvolvida ao longo do ano sobre direitos humanos

No próximo dia 14, iniciam as apresentações do XXIX Encontro Anual de Iniciação Científica, o EAIC. No evento, integrantes do projeto de extensão Direitos Humanos, Jornalismo e Formação Cidadã Alex Daniel Dolgan, Maria Eduarda de Oliveira e Thais de Lima Silva apresentarão trabalhos com temática de direitos humanos, resultado de um ano de pesquisa.

Os três são estudantes do ensino médio e participam pela primeira vez do Encontro Anual de Iniciação Científica Júnior, dentro da programação do EAIC, porém destinado a alunos e alunas de escola pública e que desenvolvem atividades de iniciação científica júnior.

A estudante Thais Silva apresenta na segunda-feira, 14, o trabalho “Jornal Escola, Jornalismo e Formação Cidadã”, sob orientação da professora Paula Melani Rocha, conta que descobriu o projeto de extensão através da escola que cursa o ensino médio. “Minha pesquisa e interesse é na área da diversidade, respeito e estudo dos nossos direitos. Eu entrei no Elos através do colégio Estadual Regente Feijó e com a ajuda de uma professora”, lembra Thais.

A estudante Maria Eduarda apresenta no dia 15 a pesquisa “As Mídias Digitais Na Difusão De Conteúdos Sobre Direitos Humanos: Monitoramento e Análise do Projeto de Extensão Elos” sob orientação da professora Karina Woitowicz. Ela lembra que ainda não tinha tido nenhuma experiência com pesquisa científica, porém o processo foi bom para a aprendizagem. “O processo de pesquisa foi realizado com calma até porque não tinha tido nenhuma experiência com produção científica. Na criação tive que juntar várias informações relacionadas às redes sociais do ELOS”.

As apresentações deste ano acontecerão diferente dos outros anos. Em razão da pandemia do Covid-19 as mesas serão de forma remota e transmitidas pelo canal da oficial UEPG no Youtube. Para conferir, clique neste link.

 

 

10 anos do Massacre aos professores no Centro Cívico de Curitiba

Professores relembram o episódio que marcou a luta por direitos e protestam pelo desmonte da educação pública no Paraná 

Foto: André Lopes (arquivo Lente Quente)

Bombas, bala de borracha, golpes de cassetete, jatos de spray de pimenta, essa foi a resposta do Estado para os servidores públicos que reivindicavam seus direitos em protesto pacífico no Centro Cívico de Curitiba no dia 29 de abril de 2015. Os protestantes foram alvos da polícia militar, sob as ordens do então secretário de Segurança Pública do Paraná, Fernando Francischini, e do governador da época, Beto Richa. O governo estadual havia enviado à Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) um projeto de lei que alterava a forma de custeio do sistema previdenciário estadual. 

Em resumo, o projeto permitia o uso de recursos do fundo previdenciário dos servidores para pagar aposentadorias de servidores inativos, o que era visto como uma manobra para aliviar as contas do Estado. Além disso, estavam acontecendo atrasos salariais e cortes na educação pública. Nesse cenário, os servidores públicos, principalmente os professores da rede estadual foram às ruas protestar. O ato que era para ser um protesto pacífico deixou mais de 200 feridos. Apesar da resistência, o projeto foi aprovado. 

O professor Carlos Oliveira, que trabalha na rede estadual do Paraná há 30 anos, relembra o dia do massacre. “A situação era momento de resistência, de luta. Estávamos em vigília quando, às 15 horas, iniciou um processo de gás lacrimogêneo, bombas que vinham em nossa direção, tanto pelo chão, como pelos helicópteros que sobrevoavam a praça Nossa Senhora de Salete. Colegas nossos, numa tentativa de defesa e mesmo de resistência, foram agredidos com cassetetes e balas de borracha”, desabafa.

Carlos ainda ressalta a situação atual dos servidores públicos do Paraná, “Nos dias atuais, não temos um massacre com bombas, balas de borracha, gás lacrimogêneo. Mas podemos considerar que ainda existe um massacre quando temos a retirada dos nossos direitos, quando o atual governador Ratinho Junior manda projetos ou não cumpre aquilo que é decidido pelo Judiciário. Então, na verdade, desde 2015, o massacre continuou”. 

Foto: José Tramontin (arquivo Lente Quente)

O docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Érico Ribas, tinha recém iniciado sua carreira como professor efetivo da instituição e acreditava que teria boas condições de trabalho até viver o massacre. “Foi a maior violência que eu já vivi até hoje no âmbito profissional, estava animado com o meu trabalho, estava achando que ia ter um futuro promissor”. O professor acrescenta que aquele dia era o início de um desmantelamento da educação pública paranaense. “ Os governos que se sucederam foram governos sempre violentos que passaram a ouvir cada vez menos o funcionalismo público. O governo atual, Ratinho, não ouve os professores, somos uma categoria cada vez menos respeitada”, lamenta.  

Registros – A importância dos estudantes na luta 

Foto: José Tramontin (arquivo Lente Quente)

O ato do dia 29 de abril de 2015 foi a primeira cobertura fotojornalística do então estudante do primeiro ano de jornalismo da UEPG, agora jornalista e doutorando pelo programa de pós-graduação da UFPR, Angelo Rocha. Ele conta que na ida para Curitiba, ainda no ônibus o sentimento era de tensão, sentiam que ia acontecer algo. “Ao chegarmos no centro cívico o ambiente parecia tranquilo, porém, ao caminhar até a ALEP, encontramos uma mobilização policial fora do comum. Os comentários eram de que tinham cachorros, cavalos, tropa de choque, tanques de água, helicópteros e até atiradores nos telhados. Nesse momento, a tensão voltou”. Angelo relata que entenderam que a agressão e massacre dos professores tinha começado, assim que soltaram a primeira bomba, que caiu ao lado do seu irmão. “Depois disso foi o caos, violência atrás de violência”. 

Foto: Rodrigo Menegat (arquivo Lente Quente)

Assim como Carlos, Angelo também descreve um cenário de desmonte e massacre contínuo da educação no Estado como: implementação da da Lei Geral das Universidades (LGU), e os ataques às escolas estaduais, como a implementação de escolas cívico-militares, a privatização, além de diversos cortes. “Temos que entender que a educação pública, gratuita e de qualidade está sendo alvo, querem retirar esse direito da sociedade. Portanto, a participação dos estudantes, assim como de toda a sociedade, é fundamental e necessária!”, afirma.

Angelo Rocha registrou o horror em fotografias, “Foram cenas e mais cenas impactantes. Entendo que meus registros foram testemunhos daquele momento, ato realizado por inúmeras pessoas que vivenciaram aquele crime praticado de forma escancarada em praça pública e com dinheiro público sobre professores, servidores e estudantes que estavam defendendo a educação pública”. As fotos de Ângelo, e de outros estudantes e fotógrafos, fazem parte do livro ‘Massacre 29 de abril’ que resulta da cobertura fotojornalística do episódio, produzido pelo projeto de extensão do curso de jornalismo da UEPG, Lente Quente, por meio de financiamento coletivo.

Além disso, foi produzido um documentário em vídeo resultado de uma parceria entre o curso de jornalismo – representado nos projetos de extensão Lente Quente, o sindicato dos Docentes da UEPG e a TV comunitária.  A produção está disponível no canal do Youtube de Gabriel Carven. Para conferir clique aqui youtube .

Hoje, 10 anos depois do ocorrido, professores de todo o Estado estão em paralisação como ato de resistência para jamais esquecer o Massacre do Centro Cívico e de luta contínua na defesa da educação pública do estado do Paraná. 

O Sindicato dos Docentes da UEPG (SINDUEPG) organizou três atos para este dia, iniciou com panfletagem em ato público no Campus Central, seguido de seminário “Carga Horária x Regime de Trabalho” que foi realizado no miniauditório (Sala B – 108) – Campus Central e finaliza a data com a ‘Vigília 29 de abril’ – Memória, Justiça e Resistência que acontecerá no Campus Uvaranas às 18 horas. 

Por Amanda Grzebielucka e Pietra Gasparini

Ponta Grossa realiza o primeiro circuito da Rota Preta PG

Projeto destaca trajetos históricos que valorizam a presença e a cultura negra em Ponta Grossa

Merylin Ricielli lidera o circuito da Rota Preta PG, explicando a história da Catedral Diocesana Paróquia Sant’Ana. Foto: Maria Gallinea

O primeiro circuito do projeto Rota Preta PG foi realizado nesse sábado (26) em Ponta Grossa, reunindo participantes em um trajeto dedicado à memória da população negra da cidade. A ação, vinculada ao Museu Campos Gerais (MCG) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), faz parte de uma importante iniciativa de extensão voltada ao reconhecimento de espaços ligados à história preta do município.

O circuito percorreu locais mapeados ao longo de seis meses por pesquisadores, estudantes de graduação e licenciatura em História, estagiários do museu e integrantes da comunidade local. Ao todo, 51 pontos de relevância histórica e cultural foram identificados, cobrindo regiões centrais da cidade, bairros como Uvaranas e Olarias, além de áreas da zona rural.

Quem guiou o trajeto histórico foi Merylin Ricielli, pós-doutoranda em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que destacou a importância do levantamento realizado. Para Ricielli, além das marcas históricas que os locais representam, foi possível identificar uma rede de práticas culturais que conecta diversos territórios negros da cidade, como o samba e a capoeira, que continuam a enriquecer a vivência cultural de moradores.

O projeto terá diferentes roteiros temáticos, e a proposta é oferecer passeios regulares abertos ao público. O intuito é incentivar a educação patrimonial, promover a valorização da memória coletiva e reforçar o reconhecimento da presença negra na formação histórica de Ponta Grossa.

Segundo a equipe organizadora, novas edições do circuito serão programadas nos próximos meses, e outras atividades complementares, também voltadas ao resgate e preservação da história negra, estão previstas.

Por Maria Gallinea

Ocupação Nova Esperança completa cinco anos de luta por moradia digna

Exemplo de sustentabilidade, a comunidade abriga cerca de seis mil pessoas


A comunidade localizada em Campo Magro, região metropolitana de Curitiba, teve início em maio de 2020, quando 400  famílias sentiram dificuldades de se manter no período de pandemia e então ocuparam um terreno da prefeitura que estava abandonado há mais de uma década. Em 2025, Nova Esperança conta aproximadamente com mil e duzentas famílias, cerca de seis mil pessoas, sendo 30% imigrantes vindos do Haiti, Venezuela e Cuba. 

Após cinco anos de existência, atualmente a comunidade não está recebendo mais famílias. O líder do Movimento Popular por Moradia (MPM), Julian Pol, explica o porquê.  “Respeitamos os limites ambientais e a segurança dos moradores. Não vamos colocar os moradores onde há risco de desmoronamento, queremos proporcionar uma vida digna a essa população”.

 

Julian também relata como a comunidade se organiza. “É uma área muito grande com um número significativo de moradores, por isso a Nova Esperança é organizada em 12 setores, cada um conta com um líder, que irá repassar as demandas desses moradores às coordenações e se organizar na luta por melhorias”, observa.

 

A ocupação é exemplo de preservação ambiental, com regras que priorizam o meio ambiente e instalações de fossas ecológicas feitas a partir de árvores de bananeiras nas residências. O coordenador geral da comunidade, Rodrigo José da Silva, descreve a preocupação com a sustentabilidade. “Os moradores não podem queimar lixo, se precisarem colocar fogo em alguma coisinha precisa ser dentro de um tambor e em um horário específico. Não podem cortar árvores devido à preservação ambiental e em todas as moradias existe uma fossa ecológica que a UFPR nos ajudou na construção”, explica. José acrescenta que a conscientização maior não vem das regras e sim dos próprios moradores, que priorizam cuidar daquilo que é deles.

 

 Além da questão ambiental, a comunidade conta com espaços coletivos que incentivam a convivência e o desenvolvimento dos moradores, como um barracão destinado a práticas esportivas e aulas de artes marciais para todas as idades, uma cozinha comunitária, além de uma biblioteca e salas de aula para atividades com as crianças, cursos e reuniões.

Texto por Amanda Grzebielucka e Maria Eduarda Leme 

Uma Vitória nacional

Filme estrelado por Fernanda Montenegro retrata uma história real sobre a luta pelos direitos humanos no combate ao aliciamento de crianças para o tráfico, violência e corrupção policial em uma comunidade no Rio de Janeiro. 

Por Milena Leal

Fernanda Montenegro em “Vitória”. Foto: reprodução.

  Lutar pelos direitos humanos é lutar pelo pluralismo político, é lutar pelo direito de escolha e de existência. O filme ‘Vitória’ (2025), dirigido por Andrucha Waddington, retrata como a estagnação policial diante à violência e ao tráfico na Ladeira dos Tabajaras, zona sul do Rio, em Copacabana, motiva uma senhora de quase 80 anos a filmar, da janela de seu apartamento, a rotina e movimentação da comunidade, com o objetivo de denunciar o crime. A idosa, outrora solitária,começa as gravações em 2003 mas tem sua história contada por Fábio Gusmão somente em 2005, jornalista investigativo que na época trabalhava no jornal Extra. Fábio é também o autor do livro Dona Vitória Joana da Paz, que inspirou o filme.

  O longa tem início com a atriz na praia, o olhar à deriva. Montenegro retrata a solitude de uma mulher idosa em uma sociedade etarista de maneira palpável, pelo mínimo ela dita o máximo e engaja a plateia, conduzindo uma ‘comédia de costumes’ em meio aos hábitos e à criminalidade no cenário carioca. O diretor consegue ilustrar perfeitamente uma Copacabana vivida, muito além das produções cinematográficas, com personagens únicos que dialogam diretamente com a narrativa e criam no público um vínculo afetivo, dando vida ao sentimento de identificação para com a obra.

  A trama é vivida ao máximo pelos personagens e a obra os conduz belamente pelo caos no morro, tornando o espectador íntimo com a cena. Thawan Lucas, Linn da Quebrada e Alan Rocha têm papéis de destaque, cada um sobrepondo a noção de coadjuvante, desenvolvendo tamanha complexidade dentro da tela que é possível visualizar não o personagem, mas a persona. Cada um representa um eixo; uma temática que demandava ser debatida em 2005, e demanda debate hoje, em 2025.

     

QUEM É VITÓRIA?

  As gravações feitas pela janela de dona Vitória denunciaram ações do Comando Vermelho, uma das maiores organizações criminosas do Brasil, e o envolvimento policial com o tráfico de armas e drogas. Este ativismo, essencial para a operação, colocou a idosa em uma posição perigosa, sendo necessária sua efetivação no sistema de proteção a testemunha, no qual precisou assumir uma nova identidade e mudar de estado, deixando a casa na qual viveu por 36 anos. Nascida Joana Zeferino Da Paz, alagoana, se tornou Vitória, responsável pela prisão de mais de 30 pessoas, incluindo 9 policiais.

  A heroína por trás da câmera era uma mulher negra, de personalidade forte, que enfrentou a violência desde tenra idade e nunca cedeu diante do que a vida lhe impôs. Viveu por 17 anos com a identidade velada, sem nunca retornar ao Rio de Janeiro e sem ter o devido reconhecimento por seu feito. Joana não viveu para receber o crédito, visto que os aspectos do caso, incluindo sua identidade, só foram divulgados após a sua morte.

Joana Zeferino da Paz com sua câmera. Foto: Fábio Gusmão 

 

“IDADE CERTA”

  Joana e Fernanda são resistência em uma sociedade misógina e etarista. Joana desestruturou o esquema do comando vermelho na Ladeira dos Tabajaras beirando os 80 anos. Fernanda interpreta essa história em ‘Vitória’, aos 93 anos (idade durante as filmagens).

  Agora, aos 95, Fernanda acompanha a promoção do filme e muda mais uma vez a indústria cinematográfica, desconstruindo o ideal de que atriz tem prazo de validade. Sua lucidez e agilidade, sua capacidade de dialogar com a cena e o público e, principalmente, sua capacidade de emocionar com um olhar prova que ninguém é menos pela idade que tem.

  A misoginia oprime mulheres, assim como o etarismo. Juntos atuam de forma interseccional discriminando as mulheres e as desvalorizando socialmente por serem do sexo feminino e de determinada faixa etária. Obras como ‘Vitória’ são fundamentais no papel de conscientização e de representatividade, afinal, a luta para desconstruir estigmas é árdua e demanda constância.

 

VIOLÊNCIA VELADA

  Mesmo antes de chegar no morro, Joana já vivenciava a violência; quando criança, foi feita de empregada doméstica e abusada por um patrão, fato que acarretou em uma gravidez. A história contada por Vitória se destaca, não por ser única, mas por ter sido ouvida; entretanto, na taciturnidade do abuso, são incontáveis as vítimas presas em situações abusivas, muitas vezes incapazes de se desvincular dessas. 

  Os fatores que impedem com que uma vítima deixe uma situação de abuso podem variar; na violência contra a doméstica, o medo de ter sua história desacreditada, a vergonha do que sofreram, o medo de perder o emprego e o medo de reviver o trauma são alguns dos motivos que reforçam e não permitem a denúncia. 

     

REPRESENTATIVIDADE TRANS

  No filme, a personagem de Linn da Quebrada interpreta Bibiana, vizinha de dona Nina, que acaba se tornando uma grande amiga da protagonista. Linn dá vida a uma mulher trans vivendo na Ladeira dos Tabajaras no contexto de 2005, um ano após a definição do dia 29 de janeiro como o Dia da Visibilidade Trans.

  Se ainda hoje, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Trans (Antra), o Brasil é, pelo 16º ano seguido, o país que mais mata pessoas trans e travestis, em 2005 pouco se noticiava a respeito das vítimas, gerando imensa subnotificação.

 

INFÂNCIA ROUBADA

  O longa é rico em temáticas. O personagem de Thawan Lucas se destaca ao retratar o licenciamento de crianças para o tráfico. Marcinho é um menino que reside na Ladeira  dos Tabajaras, ele ajuda dona Nina carregando as sacolas dela diariamente. É uma das únicas companhias da senhora, entretanto, a realidade do garoto acaba afetada pela violência do morro.

  Marcinho faz uso de entorpecentes e, mais tarde, é detido pela polícia ao ser pego vendendo drogas. A rápida liberação pela justiça permite com que o menino retorne às mesmas condições, sem nenhum órgão atuando pela sua segurança. O personagem de Thawan é fictício, mas representa a história de diversas crianças aliciadas ao tráfico, as quais não recebem ajuda judicial e acabam estabelecidas nas condições de violência.

Cartaz do filme. Imagem : Reprodução

       

 

     

    

 

   

 

Crimes, penas e torturas: a lei da anistia em perspectiva crítica

Heloísa Fernandes Câmara e Pedro Miranda abordam os abusos que aconteceram na ditadura militar e os golpes contra a democracia na atualidade

 

Heloísa Fernandes Câmara foi uma das participantes do VI Ciclo Descomemorar Golpes// Foto por: Maria Gallinea

 

Os traumas e as consequências da ditadura militar no Brasil, cujos ecos ainda reverberam nas estruturas sociais e políticas do país, foram tema de uma análise crítica sobre os crimes, penas e torturas perpetrados durante o regime. As repercussões atravessam décadas, chegando até os dias atuais, quando se debate no país um projeto de anistia aos golpistas envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 que resultaram na depredação da Praça dos Três Poderes. A relação entre passado e presente foi pautada no VI Ciclo Descomemorar Golpes, evento promovido pelo projeto Combate à Desinformação da UEPG no início de abril.

A palestra foi conduzida pela professora Heloísa Fernandes Câmara, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e pelo professor Pedro Miranda, da UEPG, com a mediação do presidente da Seção Sindical dos Docentes da UEPG (Sinduepg), Volney Campos dos Santos. O evento, de natureza acadêmica e ao mesmo tempo engajada com as questões políticas contemporâneas, buscou estabelecer uma ponte entre o passado traumático da ditadura militar e as tensões políticas atuais, refletindo sobre a importância da memória histórica para a construção de um futuro mais democrático.

A professora Heloísa trouxe um olhar fundamentado sobre o conceito de anistia, um tema que, devido aos recentes eventos de 8 de janeiro em Brasília, tem ganhado relevância no debate público. A professora não apenas explicou o significado original da anistia, mas também contextualizou sua implementação após a ditadura militar como uma tentativa de pacificar o país após anos de repressão.

Contudo, ela alertou sobre os riscos de uma releitura conveniente da história, em que o pedido de anistia, hoje, pode ser distorcido para suavizar ou até mesmo apagar os crimes cometidos durante o regime militar. Heloísa, de forma contundente, afirmou: “40 anos após a redemocratização, estamos vivendo um processo onde pedem por anistia”, destacando a atual onda de revisionismo e a crescente tentativa de legitimar atitudes autoritárias. Sua fala levantou um questionamento importante: até que ponto a sociedade brasileira está disposta a permitir que as lições do passado sejam esquecidas ou manipuladas para justificar ações que caminham na direção do autoritarismo?

Em seguida, o professor Pedro Miranda adotou uma abordagem diferente para aprofundar a discussão. Miranda destacou como as dinâmicas de repressão, controle e censura que marcaram o regime militar parecem ganhar novas formas nos dias atuais, seja por meio de discursos de ódio, censura à imprensa ou ataques à democracia. Através de uma análise comparativa, ele fez uma conexão crítica entre as estratégias de manipulação da opinião pública durante a ditadura e as táticas utilizadas por certos grupos políticos hoje, que buscam enfraquecer as instituições democráticas e garantir uma maior concentração de poder. Esse olhar para o presente, ancorado na memória do passado, provocou uma reflexão coletiva sobre a repetição de padrões autoritários.

As palestras indicaram que, apesar dos avanços conquistados desde a redemocratização, o país ainda está longe de alcançar uma plena reconciliação com o passado. O Brasil vive um momento de extrema polarização política, em que os ataques às instituições democráticas e aos direitos civis são recorrentes. O evento reafirmou a importância de manter viva a memória das vítimas da ditadura militar e de lutar contra qualquer forma de revisionismo que busque minimizar ou justificar os horrores daquele período.

No fim, o evento alertou os presentes sobre a necessidade de vigilância constante, pois o processo de consolidação da democracia no Brasil é frágil e exige um compromisso contínuo da sociedade para garantir que as conquistas sejam preservadas. “Olhar o passado, pensar o presente e construir o futuro” foi, assim, mais do que uma reflexão acadêmica: foi um apelo para que todos os cidadãos brasileiros se comprometam ativamente com a defesa da democracia e dos direitos humanos, sem jamais permitir que o país retroceda na luta contra a opressão e a repressão.

 

Texto por Bebel Costalonga e Maria Gallinea

Oficinas sobre alteridade no jornalismo e desafios da maternidade preta encerram 9° Colóquio Mulheres e Sociedade

Por Amanda Grzebielucka, Emanuelle Nunes, Karen Stinsky, Leonardo Correia Lima e Pietra Gasparini
As atividades foram conduzidas por Márcia Veiga, Letícia Costa e Juliane Carrico

O evento Colóquio Mulheres e Sociedade realizou na última sexta-feira (04) duas oficinas no período da tarde. A primeira, intitulada “Existir, educar, transformar – ser mãe preta no Brasil”, abordou as vivências e a realidade da maternidade preta no país, e foi ministrada por Letícia Costa, do Coletivo Mães Pretas, e Juliane Carrico, da Coletiva de Doulas de Ponta Grossa. A segunda oficina, “Calçando o sapato do outro”, discutiu a habilidade do jornalista de se colocar no lugar do outro e foi conduzida pela jornalista Márcia Veiga, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

A autora do livro “Masculino, o gênero do Jornalismo: modos de produção das notícias”, Márcia Veiga, ministrou a oficina “Calçando o sapato do outro”, que teve início com apresentações entre as participantes e um debate sobre gênero. A pesquisadora refletiu sobre como tudo é generificado em nossa sociedade, apontando que, mesmo de forma indireta, estamos constantemente falando sobre gênero. “Tudo que tem mais valor é convencionado como masculino. A força, coragem e resiliência são vistos como atributos masculinos, enquanto a sensibilidade é considerada uma característica feminina”, observou a professora. Ela ainda destacou que, na hierarquia masculinista das universidades, a docência é o “feminino”, enquanto a pesquisa é o “masculino”, sendo muito mais prestigiada.

Márcia Veiga fala sobre a capacidade do jornalista de se colocar no lugar do outro.
Foto: Pietra Gasparini.

Após o debate, as participantes foram divididas em grupos de três e receberam uma folha com “papéis” que deveriam interpretar, como deputados federais, madames e homens religiosos. Em seguida, foi exibida no telão a imagem de uma drag queen negra e os grupos foram solicitados a descrever a pessoa da foto de acordo com o pensamento dos papéis que estavam interpretando. As descrições foram em sua maioria adjetivos pejorativos, pois a ideia era entender como cada grupo identifica os indivíduos e grupos sociais. Márcia Veiga explicou que a intenção da atividade era levar as participantes a refletir sobre como frequentemente julgamos e estereotipamos as pessoas. A proposta era descrever e não julgar ou usar adjetivos, destacando que, ao “calçar o sapato do outro”, tendemos a reforçar estereótipos.

Participantes da oficina "Calçando o sapato do outro" fazem erxercício em grupo. 
Foto: Pietra Gasparini.

A oficina teve como objetivo convidar as participantes a refletir sobre como, especialmente os jornalistas, devem tentar entender o outro a partir dos valores dos outros, e não de sua própria perspectiva. A professora explicou que estamos constantemente julgando em vez de tentar compreender e que a solução para isso é escutar e descrever, citando a frase: “esvaziar-se de si e preencher-se do outro”. Essa escuta, no entanto, deve ser feita com a consciência de que somos etnocêntricos e influenciados por uma estrutura social preconceituosa. Ela enfatizou que, enquanto jornalistas, não estamos prontos e precisamos tomar muito cuidado com nossos julgamentos, pois a forma como construímos as histórias pode permitir que um grupo seja humanizado ou desumanizado.

Paralelamente, foi realizada a oficina “Existir, educar e transformar: ser mãe preta no Brasil”, com a jornalista Letícia Costa e a doula Juliane Carrico.  A atividade teve como objetivo debater as violências obstétricas e as vivências de ser uma mãe negra no Brasil. 

Letícia Costa e Juliane Carrico compartilham experiências e falam sobre questões
de gênero, raça e identidade. Foto: Emanuelle Nunes.

De acordo com Letícia, a mulher preta é a que mais sofre violência obstétrica no país. “Principalmente pelo mito que a mulher negra é mais forte. Existe o pensamento que ela não sente tanta dor, então não precisa de anestesia; deixa ela sofrer”, destaca. 

A jornalista também explica que a iniciativa de criar o coletivo “Mães Pretas” surgiu da necessidade de compartilhar vivências enquanto mãe negra, especialmente após ela e sua filha sofrerem racismo. “Eu fui conversar com uma amiga, que era mãe branca e contei a situação de racismo que sofri com a minha filha. Ela disse que não era para tanto”, desabafa. Ela ressalta que atualmente o coletivo cresceu e é um espaço para acolher mulheres. “Hoje o coletivo abraça as mulheres porque nasceu disso; tem situações que só as mulheres passam, que só as mães passam, mas também há situações que só as mães pretas enfrentam.”

Juliane também relatou os momentos de violência obstétrica que vivenciou em seu trabalho. Segundo ela, essa violência é recorrente na realidade das mães brasileiras, pois muitas vezes elas desconhecem e não percebem que estão sofrendo essa opressão. Ao iniciar a oficina com uma dinâmica que fez cada participante refletir sobre o que conhece acerca da violência obstétrica, a doula conduziu a discussão esclarecendo o papel informativo e de apoio à gestante oferecido pela doula. Além disso, destacou a importância de conhecer os direitos durante o parto como forma de enfrentar uma cultura profissional que restringe a autonomia das mulheres.

As oficinas fizeram parte da programação do 9° Colóquio Mulheres e Sociedade. O evento foi produzido pelo projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, Grupo de Pesquisa Jornalismo e Gênero, Programa de Pós – Graduação em Jornalismo e Departamento de Jornalismo da UEPG, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília e a Rede Antonietas/SBPJor.

Vivências compartilhadas: debate sobre preconceitos que afetam diretamente a vida de muitas pessoas

Última palestra do 9° Colóquio Mulheres e Sociedade debateu o machismo e ética dentro do jornalismo, racismo digital, violência obstétrica e a marginalização de pessoas trans na sociedade

Foto: Pietra Gasparini.

Nesta sexta-feira (04), o painel “Jornalismo, ativismo e resistências contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia” marcou o segundo e último dia do 9° Colóquio Mulheres e Sociedade. A palestra aconteceu no Grande Auditório do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A palestra contou com a participação de Marcia Veiga da Silva, Doutora em Comunicação e Informação, e autora do livro “Masculino, o gênero do jornalismo: modos de produção das notícias”; Letícia Costa, jornalista e integrante do Coletivo de Mães Pretas; Juliane Carrico, Doula, educadora popular e integrante do Coletivo de Doulas Ponta Grossa; e  Ronna Freitas Oliveira, professora da UEPG e Mestra em estudos da linguagem.

Durante o painel de discussão, a pesquisadora Marcia Veiga ressaltou como o machismo se manifesta no jornalismo e como é prejudicial, desvalorizando o trabalho feminino e impactando nocivamente na qualidade da informação que é transmitida. “Eu percebi que no jornalismo não basta ser homem, precisa ser conhecido como alguém corajoso, que corre riscos.”, sustentou Marcia, apontando que os homens precisam adotar comportamentos associados a estereótipos de masculinidade para serem reconhecidos e valorizados. Para a palestrante, as mulheres enfrentam barreiras adicionais e são vistas sob uma perspectiva diferente.

A jornalista Letícia Costa destacou como o racismo e outros tipos de preconceitos se adaptam de maneira escancarada nas redes sociais, “é isso que o racismo digital faz: ele tira um preconceito que era velado e o torna público.”

A doula Juliane Carrico trouxe para o debate a necessidade de falar sobre violência obstétrica. Ela expôs que as próprias pessoas que gestam não têm conhecimento sobre o que é a violência obstétrica e muitas vezes sofrem esta violência sem nem se dar conta. “Esse não é um debate só para pessoas que estão gestantes ou que vão gestar, esse é um debate para toda a sociedade” reforça a doula. Juliane também apresenta como a mídia ainda não aborda esse assunto como deveria, uma vez que essa violência acontece a todo momento, porém, é noticiada apenas quando é alguém com relevância midiática.

A professora da UEPG e Mestra em estudos da linguagem, Ronna Freiras Oliveira, falou sobre a marginalização das pessoas trans e travestis num contexto histórico. Durante sua fala Ronna faz menção as operações, “limpeza urbana” (1968), “pente fino” (1979) e a operação “Tarântula” (1987), todas operações com o propósito de prender as trans e travestis, que tinham como trabalho a prostituição. Ainda na sua fala a professora Ronna expôs dados atuais e ressaltou, “Nós não temos dados oficiais sobre pessoas trans no Brasil, e todos os dados nacional e internacionalmente são feitos por organizações ou de pessoas trans ou organizações LGBT’s”.

Esta foi a última palestra do 9° Colóquio Mulheres e Sociedade, mas as atividades seguiram no período da tarde com duas oficinas e a apresentação de trabalhos no modo remoto. Assim encerrando as atividades e painéis do evento promovido pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Gênero, pelo projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, pelo Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e pelo Departamento de Jornalismo da UEPG, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, e conta com o apoio da Rede Antonietas (SBPJor).

Por: Amanda Rafaella e Maria Victória Ribeiro.

Abertura do VI Ciclo Descomemorar Golpes trouxe falas sobre período ditatorial no Brasil com pesquisador e ex-preso político

Evento aconteceu no grande auditório da UEPG Central 

De acordo com o relatório promovido pela Comissão Estadual da Verdade, mais de 4 mil pessoas foram presas, e cerca de mil foram torturadas no Paraná, entre 1964 e 1985, época da ditadura militar brasileira.

Com a intenção de relembrar esses acontecimentos, para que não caiam no esquecimento e não se repitam, o projeto “Combate à Desinformação nos Campos Gerais”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, promoveu o “VI Ciclo Descomemorar Golpes”. 

O evento contou com a colaboração dos cursos de Jornalismo, História e Direito. Foto: Celyne Stefani

Na noite do dia 31 de março de 2025, data que marca 61 anos do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar brasileira, o público na UEPG recebeu os palestrantes Guilherme Bomba e Narciso Pires, para a discussão do tema: “Movimentos de resistência estudantil à ditadura cívico-militar”. 

Guilherme é formado em História Política pela Universidade Estadual de Maringá e tem uma pesquisa desenvolvida sobre a Ditadura Militar Brasileira, especialmente na região paranaense. Narciso foi militante do movimento estudantil e preso político em 1975, no estado do Paraná.

Em um dos estudos sobre o cenário ditatorial, Guilherme Bomba analisa o fato de Apucarana, no interior do Paraná, ter sido o epicentro de torturas, em 1964. “O município de Apucarana faz parte da região do “Norte Novo do Paraná”, localizado geograficamente entre as cidades metropolitanas de Londrina e Maringá. Possivelmente, essa é uma entre as várias razões que levaram à instalação do 30° Batalhão da Infantaria Motorizada, pois apresenta uma localização estratégica, está exatamente entre as duas maiores cidades dessa região”, argumenta o pesquisador.

E foi em um dos quartos deste quartel que Narciso Pires conta ter sido torturado durante uma noite inteira. Ele esclarece que em nenhuma de suas palestras dá detalhes sobre o que passou. Diz que quer conscientizar a população para que ninguém precise passar por isso novamente. “Eu não sou vítima, sou resistência” declara. 

“A ditadura durou 21 anos, mas não teve fim em 1985. Ela se faz presente em cada sequela que vítimas deste cenário carregam e em tentativas de golpe, como o de 8 de Janeiro de 2023. É preciso lembrar e conscientizar para que não se repita.” finalizou Narciso Pires.

Por Celyne Stefani, Lorena Santana e Matheus Leônidas

Vozes silenciadas: a luta contra a misoginia e ódio nas redes sociais

0

Palestra de abertura do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade discutiu sobre como as mulheres e grupos minorizados são vítimas de ataques digitais e as formas de resistência neste cenário

Palestrantes do painel de abertura do  9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Foto: Maria Gallinea

Nesta quinta-feira (03), o painel “Misoginia e discursos de ódio no ambiente das redes” marcou o início do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Com o tema “Corpos sob ataque: misoginia, racismo e violência a grupos minorizados nas redes”, o evento reúne apresentações de painéis, trabalhos acadêmicos apresentados em modalidades online e presencial, e oficinas. A programação presencial está sendo realizada exclusivamente na sede central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A palestra de abertura foi mediada pela professora Karina Janz Woitowicz, docente do curso de Jornalismo da UEPG, e contou com a participação das palestrantes Lola Aronovich, professora universitária, pedagoga, blogueira e ativista feminista; Zilda Mara Consalter, professora do curso de Direito da UEPG e autora do livro “Direito ao Esquecimento: Proteção da Intimidade e Ambiente Virtual”; e Eloni dos Santos Perin, professora da rede estadual de ensino do Paraná e doutora em Gestão da Informação.

Apesar das formações acadêmicas e profissionais diversas, as palestrantes convergiram em um ponto crucial: a crescente onda de misoginia nas redes sociais digitais têm impactos profundos na qualidade de vida das mulheres e de grupos minorizados, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Os ataques digitais direcionados a essas mulheres, muitas vezes baseados em ódio e desinformação, geram consequências devastadoras, afetando desde a saúde mental até a integridade física e emocional das vítimas.

Durante a mesa de debates, Lola Aronovich destacou como as redes sociais, em um contexto de crescente polarização e falta de moderação eficaz, funcionam como  terreno fértil para o espalhamento de discursos de ódio. “A gente tem que continuar lutando, não pode se render a eles, a gente sempre incomodou e a gente ficou exausta!”, afirmou Lola, fazendo referência ao impacto dos governos que violentam as minorias. Para ela, a misoginia digital é uma forma de violência estrutural que perpetua desigualdades históricas e fragiliza as conquistas sociais das mulheres.

Zilda Mara Consalter, por sua vez, enfatizou a importância do “direito ao esquecimento” como um mecanismo de proteção da intimidade no ambiente virtual. “O direito ao esquecimento é um direito para o futuro, para que lá na frente, possamos ter controle sobre o que diz respeito apenas sobre nós, e está na rede violando nossos direitos pessoais”, explicou. Zilda também apontou a maneira como as redes sociais amplificam os danos causados por ataques: “As redes visibilizam e potencializam as ofensas!”. Ela defendeu, ainda, que a legislação brasileira seja mais rígida em relação à responsabilização das plataformas digitais por permitir que conteúdos abusivos circulem sem o devido controle.

Eloni dos Santos Perin trouxe para a discussão o impacto da misoginia digital sobre mulheres periféricas e negras. Ela apontou como as interseções entre gênero, raça e classe social geram um cenário ainda mais desafiador para mulheres que, além de enfrentarem o machismo, são alvos de racismo e discriminação. “Existem influencers que se autodeclaram misóginos, isso é muito perigoso, porque eles servem como modelo para outros”, disse Eloni, alertando sobre a influência de figuras públicas na propagação de discursos de ódio. “A resistência precisa ser estratégica, e as mulheres precisam estar empoderadas com informações que as ajudem a lidar com os ataques. Isso envolve desde a educação digital até o fortalecimento de redes de apoio e iniciativas políticas que combatam a violência de gênero”, argumentou.

A reflexão sobre as formas de resistência foi central no painel. Karina Janz Woitowicz, mediadora do debate, trouxe à tona a importância da conscientização coletiva e do ativismo digital como ferramentas poderosas para a resistência. “Não basta apenas denunciar os ataques, é preciso mobilizar a sociedade e pressionar as plataformas para que adotem práticas mais rigorosas contra discursos de ódio e misoginia”, afirmou.

O 9º Colóquio Mulheres e Sociedade segue com sua programação até a sexta-feira (4), reunindo acadêmicas, ativistas e profissionais que compartilham o compromisso com a luta pela igualdade de gênero e contra a violência nas redes sociais digitais.

Texto por Malu Dip e Maria Gallinea

Vozes silenciadas: a luta contra a misoginia e ódio nas redes sociais

Palestra de abertura do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade discutiu sobre como as mulheres e grupos minorizados são vítimas de ataques digitais e as formas de resistência neste cenário

Palestrantes do painel de abertura do  9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Foto: Maria Gallinea

Nesta quinta-feira (03), o painel “Misoginia e discursos de ódio no ambiente das redes” marcou o início do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Com o tema “Corpos sob ataque: misoginia, racismo e violência a grupos minorizados nas redes”, o evento reúne apresentações de painéis, trabalhos acadêmicos apresentados em modalidades online e presencial, e oficinas. A programação presencial está sendo realizada exclusivamente na sede central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A palestra de abertura foi mediada pela professora Karina Janz Woitowicz, docente do curso de Jornalismo da UEPG, e contou com a participação das palestrantes Lola Aronovich, professora universitária, pedagoga, blogueira e ativista feminista; Zilda Mara Consalter, professora do curso de Direito da UEPG e autora do livro “Direito ao Esquecimento: Proteção da Intimidade e Ambiente Virtual”; e Eloni dos Santos Perin, professora da rede estadual de ensino do Paraná e doutora em Gestão da Informação.

Apesar das formações acadêmicas e profissionais diversas, as palestrantes convergiram em um ponto crucial: a crescente onda de misoginia nas redes sociais digitais têm impactos profundos na qualidade de vida das mulheres e de grupos minorizados, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Os ataques digitais direcionados a essas mulheres, muitas vezes baseados em ódio e desinformação, geram consequências devastadoras, afetando desde a saúde mental até a integridade física e emocional das vítimas.

Durante a mesa de debates, Lola Aronovich destacou como as redes sociais, em um contexto de crescente polarização e falta de moderação eficaz, funcionam como  terreno fértil para o espalhamento de discursos de ódio. “A gente tem que continuar lutando, não pode se render a eles, a gente sempre incomodou e a gente ficou exausta!”, afirmou Lola, fazendo referência ao impacto dos governos que violentam as minorias. Para ela, a misoginia digital é uma forma de violência estrutural que perpetua desigualdades históricas e fragiliza as conquistas sociais das mulheres.

Zilda Mara Consalter, por sua vez, enfatizou a importância do “direito ao esquecimento” como um mecanismo de proteção da intimidade no ambiente virtual. “O direito ao esquecimento é um direito para o futuro, para que lá na frente, possamos ter controle sobre o que diz respeito apenas sobre nós, e está na rede violando nossos direitos pessoais”, explicou. Zilda também apontou a maneira como as redes sociais amplificam os danos causados por ataques: “As redes visibilizam e potencializam as ofensas!”. Ela defendeu, ainda, que a legislação brasileira seja mais rígida em relação à responsabilização das plataformas digitais por permitir que conteúdos abusivos circulem sem o devido controle.

Eloni dos Santos Perin trouxe para a discussão o impacto da misoginia digital sobre mulheres periféricas e negras. Ela apontou como as interseções entre gênero, raça e classe social geram um cenário ainda mais desafiador para mulheres que, além de enfrentarem o machismo, são alvos de racismo e discriminação. “Existem influencers que se autodeclaram misóginos, isso é muito perigoso, porque eles servem como modelo para outros”, disse Eloni, alertando sobre a influência de figuras públicas na propagação de discursos de ódio. “A resistência precisa ser estratégica, e as mulheres precisam estar empoderadas com informações que as ajudem a lidar com os ataques. Isso envolve desde a educação digital até o fortalecimento de redes de apoio e iniciativas políticas que combatam a violência de gênero”, argumentou.

A reflexão sobre as formas de resistência foi central no painel. Karina Janz Woitowicz, mediadora do debate, trouxe à tona a importância da conscientização coletiva e do ativismo digital como ferramentas poderosas para a resistência. “Não basta apenas denunciar os ataques, é preciso mobilizar a sociedade e pressionar as plataformas para que adotem práticas mais rigorosas contra discursos de ódio e misoginia”, afirmou.

O 9º Colóquio Mulheres e Sociedade segue com sua programação até a sexta-feira (4), reunindo acadêmicas, ativistas e profissionais que compartilham o compromisso com a luta pela igualdade de gênero e contra a violência nas redes sociais digitais.

Texto por Malu Dip e Maria Gallinea