Segundo a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), a carência habitacional de Ponta Grossa é de 23.656 casas, sendo o quarto maior déficit habitacional do Paraná. Segundo o artigo 6° da Constituição Federal, todo brasileiro tem direito a moradia e uma vida digna. Em busca de oferecer o mínimo de dignidade a famílias que residem em casas sem estrutura, a enfermeira Evelyn Nogueira criou o projeto Brasil sem Frestas, que tem o intuito de revestir casas de madeira com caixa de leite, impedindo o vento de entrar nas residências.
O projeto foi criado em 2018 na cidade de Ponta Grossa. A idealizadora se inspirou no projeto que já existia em Curitiba e hoje paralisou as atividades. O trabalho não conta com nenhuma ajuda política ou religiosa, funciona apenas com o empenho de voluntários. Na pandemia, a instituição ajudou na fabricação de lençóis, máscaras e toucas cirúrgicas para os hospitais da cidade, principalmente para o Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais. “Foram mais de 150 mil máscaras entregues por toda a cidade”, relata Raquel Rossoni, voluntária do projeto.
O trabalho tem cerca de 100 voluntários indiretos e 12 que atuam diretamente. “Decidi me voluntariar após um aluno reclamar que passou frio à noite e que não foi para aula pois não conseguiu dormir. Vi o Brasil sem Frestas na TV e resolvi me voluntariar’’, conta Marta Camargo, nova integrante. Desde 2018 foram atendidas 49 casas em Ponta Grossa e três na cidade de Carambeí. As residências têm a durabilidade de cerca de cinco anos. A presidente do projeto, Mariléia Paulovski, expõe a sensação de poder ajudar as famílias com algo simples: “A alegria das famílias vendo a casa pronta é inexplicável”. Ela ainda ressalta a necessidade de novos voluntários para ampliar as ações do projeto.
A moradora do bairro Ouro Verde, Evelyn Melo, descreve a sua experiência com o projeto: “O Brasil sem Frestas me ajudou muito, eu não tinha condições de revestir minha casa e sempre que chovia ela alagava; depois que o projeto revestiu, nunca mais isso aconteceu”. Para ser auxiliado ou se tornar voluntário basta entrar em contato com a página Brasil sem Frestas no Facebook. Para a doação das caixas de leite é necessário que as embalagens sejam cartonadas e estejam devidamente higienizadas. O local de entrega é na Rua Pedro Mascarenhas Ribas, número 5, no bairro Jardim Carvalho.
Durante o mês, atendimentos psicológicos, oficinas e discussões sobre qualidade de vida são ofertados à comunidade
Em 2022, no Paraná, foram registradas 790 mortes em decorrência do suícidio, conforme os dados do Anuário Nacional de Violência Pública. O suicídio é uma realidade que atinge o mundo todo e, para evitá-lo, medidas foram adotadas por órgãos internacionais e posteriormente nacionais, dando origem à campanha do Setembro Amarelo.
A campanha iniciou nos Estados Unidos em 1994, após o suicídio de Mike Emme, um garoto de 17 anos. No dia do velório, cartões amarrados com fitas amarelas foram distribuídos como forma de apoio às pessoas com problemas emocionais. A fita amarela fez uma referência ao carro de Mike, um Mustang 68 na cor amarela, restaurado e pintado por ele. Já no Brasil as movimentações para debates da temática aconteceram de maneira tardia, somente em 2014, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
A campanha deste ano tem o slogan: “Se precisar, peça ajuda”, que visa sensibilizar toda a comunidade acerca do tema, visto que a prevenção é uma das melhores maneiras de evitar o suícidio. Em Ponta Grossa, ações direcionadas estão programadas para acontecer durante todo o mês.
A Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG), em parceria com o Conselho Municipal LGBTI+, Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PG), ONG Flor de Lis e faculdades da cidade, realizaram ações voltadas à comunidade LGBTQIAPN+ nos dias 11 e 13 de setembro. Durante o evento, foi oferecido atendimento psicológico individual, coletivo e atendimento jurídico.
A Coordenadora da ONG Flor de Lis, Marcia Cristina da Silva Rodrigues, falou da importância de eventos direcionados à comunidade LGBTQIAPN+, que precisa ser ouvida e acolhida: “Esse evento é muito importante para que a gente consiga ter essa primeira conversa com as pessoas da comunidade, para ajudar a sair dos sofrimento que estão sentindo e vivendo”, ressalta.
A psicóloga especialista na comunidade LGBTQIAPN+, Jussara Prado, informa que nas estatísticas de suicídio quem mais sofre com problemas psicológicos como ansiedade e depressão são as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. Esse fato reflete em altos índices de suicídio e exige ações específicas.
Um dos fatores agravantes para a saúde mental citados por Jussara é o preconceito múltiplo sofrido pela comunidade, que se sente sozinha e internaliza o sofrimento: “Dificuldades de arrumar emprego, dificuldades para estudar em decorrência do bullying, agressões físicas e a expulsão de casa”. Devido a essas situações, Prado acredita na importancia não só de divulgação da campanha do setembro amarelo, mas também na prevenção do suicídio por meio do cuidado da saúde da comunidade LGBTQIAPN+.
Outra ação em alusão ao mês amarelo é o evento promovido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UEPG (PRAE-UEPG) no dia 21 de setembro, com discussões sobre a temática de qualidade de vida e a busca por uma vida valorizada. Serão ofertadas oficinas, auriculoterapia e mesa redonda ao longo do dia. Para participar, os interessados devem preencher a ficha de inscrição: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd00NhyEN_yFoKPdgvI0Osqark_im2OeutJHx4YqmJw0xOxVQ/viewform
ATENÇÃO AOS SINAIS
Qualquer sinal de mudança no comportamento de um amigo ou familiar é motivo para ficar atento e oferecer ajuda psicológica quando necessário. Alguns comportamentos comuns se manifestam em pessoas que estão passando por algum tipo de sofrimento. Entre eles, falta de autoestima, visão negativa de sua vida, futuro e culpa. Certos comentários que incitam ideias suicidas também devem ser considerados, bem como o isolamento por tempo prolongado.
COMO BUSCAR AJUDA
Se você acha que está tendo problemas relacionados à sua saúde mental ou conhece alguém que está passando por alguma dificuldade, busque ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um órgão que presta atendimentos gratuitos de apoio emocional e prevenção do suicídio sob total sigilo e atende em todo território nacional. Os contatos podem ser realizados pelo número 188, 24 horas por dia ou pelo site do CVV nas modalidades e-mail ou chat.
Outra forma de buscar ajuda é através de Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidade de Pronto Atendimento 24H (UPA) e hospitais, além de números de emergência como o 192, do SAMU.
Círculo de leitura traz quatro livros escrito por mulheres
Iniciativa conta com dinâmicas de valorização da história das mulheres. / Foto: Paula Schamne
O projeto “Círculo de Leitura de Mulheres para Mulheres”, aprovado pelo Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura (PROMIFIC), teve início no dia 20 de julho na Cáritas Diocesana, na Vila Liane. A iniciativa, criada pelo Coletivo Fiandeiras, consiste em encontros voltados para a literatura, debate e reflexão sobre a vivência feminina.
Os encontros, realizados periodicamente, reúnem mulheres da comunidade em exercícios de meditação, troca de experiências e ensino de gêneros literários. O projeto tem o objetivo de difundir a literatura para mulheres da periferia, criar um espaço de acolhimento e por fim produzir uma obra literária com histórias escritas pelas participantes da iniciativa.
Além dos quatro encontros programados na Cáritas, sobretudo com mulheres imigrantes da instituição, o projeto também compreende encontros na Ocupação Ericson John Duarte e no Centro Pontagrossense de Reabilitação Auditiva e da Fala (CEPRAF). No último, a ação será feita com o auxílio de intérpretes de libras da própria instituição. Cada instituição receberá quatro encontros com duração de três horas, com exceção do CEPRAF, que terá um único encontro mais longo.
Um dos livros trabalhados é “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, que aborda a vida de uma mulher negra na periferia em formato de diário, introduzindo o gênero ao projeto para que as participantes possam escrever suas próprias histórias. “Meu livrinho vermelho”, de Rachel Kauder Nalebuff, que traz à roda temas como a menstruação e gestação, e “A menina que virou lua”, de Cardoso Morena, com conhecimentos ancestrais relativos ao uso de ervas na medicina, costura, artesanato, etc, também foram selecionados. Por fim, uma coletânea de poemas escritos por mulheres, como Conceição Evaristo, se soma às quatro obras que integram a iniciativa.
O Coletivo Fiandeiras é composto por Fernanda Burgath, Ligiane Ferreira e Indianara Santos. Fernanda e Indianara possuem formação na área de linguagem, enquanto Ligiane é formada em artes. Em relação ao coletivo e seus objetivos, Ligiane afirma: “O intuito é trabalhar com literatura. Todo mundo deve ter acesso a literatura, e facilitar esse acesso”.
Em relação ao propósito do projeto, Fernanda Burgath, proponente no edital, considera que a literatura possui o potencial de fazer com que as mulheres reconheçam suas vidas como histórias dignas de serem contadas, valorizando assim a vivência da mulher na sociedade.
Darly, que prefere não expor seu nome completo, participou do primeiro encontro do Círculo de Leitura e afirma que planeja frequentar os outros. “Às vezes a gente pensa que só nós sentimos necessidade, ou temos problema, mas quando compartilhamos com outra mulher vemos que elas também têm problemas. Com isso, eu aprendo com a experiência delas e elas aprendem com a minha.”
Ligiane Ferreira ainda conduz outro projeto voltado à literatura. “A Glória do Meu Quilombo – A importância de Carolina Maria de Jesus” é uma iniciativa de palestras em escolas públicas da periferia também contemplada pelo PROMIFIC. Por meio das palestras, os estudantes entram em contato com a autora e ainda conhecem mais sobre a existência do Quilombo Sutil, nas redondezas de Ponta Grossa, origem da família de Ligiane.
A categoria alega que implantação da modalidade a distância para educação Jovens e Adultos pode aumentar a exclusão de estudantes
A Secretaria da Educação (Seed) do Paraná anunciou a implementação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na modalidade híbrida a distância para o segundo semestre de 2023. A nova proposta do governador Ratinho Jr. (PSD) visa oferecer uma alternativa flexível para jovens e adultos que possuem responsabilidades familiares e profissionais, permitindo-lhes continuar seus estudos. Essa decisão suscitou preocupações entre o Sindicato dos Professores e os profissionais da educação, que destacam os desafios da nova abordagem de ensino.
De acordo com o Governo, essa proposta tem o objetivo de ampliar o atendimento e flexibilizar os locais e horários de estudo para atender às necessidades específicas desse público. No entanto, essa justificativa não se aplica à maioria dos estudantes do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Prof. Paschoal Salles Rosa, onde Denise Gomes é diretora. Ela conta que o novo modelo é positivo para aqueles que têm acesso a tecnologia e um local de ensino adequado, o que foge da realidade da maioria de seus estudantes. “É muito boa para estudantes com perfil autodidata, que conseguem estudar sozinhos, mas eu vejo que os meus alunos não têm esse perfil. 90% deles não conseguem aprender sem um professor”, complementa a diretora.
A Associação dos Professores do Paraná (APP) e o Fórum Paranaense de EJA expressam preocupações com a decisão governamental. Em nota, eles argumentam que o modelo remoto de ensino apresenta diversas dificuldades de aprendizado, como já ficou evidente durante a pandemia. As particularidades dos estudantes da EJA, somadas às limitações tecnológicas e à falta de acesso a equipamentos agravam ainda mais as fragilidades.
O ponto crítico levantado é o risco de ampliar a exclusão educacional, já que muitos estudantes da EJA não têm acesso adequado às tecnologias necessárias para o ensino a distância. A falta de apoio e de acolhimento, proporcionado pelo ambiente escolar, podem agravar os índices de analfabetismo do Paraná, que já ocupa a pior posição entre os estados do sul. Conforme os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2022, cerca de 356 mil pessoas com 15 anos ou mais eram analfabetas no Paraná.
Para a pesquisadora do analfabetismo no Brasil, Vera Lúcia Martiniak, também coordenadora do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) a educação destinada a esse público não alcança um aprendizado concreto, mediado pela relação presencial entre professor(a) e estudante. “O ensino remoto pode proporcionar mais a exclusão do que a inclusão. No EJA online esses estudantes podem não ter uma aprendizagem realmente sólida e que possam usar de verdade em suas vidas”, afirma a pesquisadora.
Ainda, Vera Lucia destaca sobre com o uso de plataformas tecnológicas que afetam o acolhimento e o envolvimento dos estudantes. O ensino a distância pode levar à perda de vínculos, redução da qualidade do ensino e aumento da evasão. “É necessário a aplicação de uma metodologia específica para atender EJA e essa metodologia deve estar incluída ainda na modalidade remota de ensino. O que é diferente da presencial”, complementa Vera.
No dia 25 de agosto aconteceu o primeiro mutirão de Retificação de Prenome e Gênero para pessoas trans e não binárias em Ponta Grossa, chamado “Meu Nome, Meu Direito”. O evento foi realizado na Sede da Defensoria Pública da cidade e se propôs a trazer atendimento jurídico gratuito para a população.
A ouvidora geral da Defensoria Pública do Paraná, Caroline Nascimento, conta que o projeto teve início em 2019 com o Transgrupo Marcela Prado, que atua na defesa e promoção dos direitos das pessoas travestis e transexuais, em parceria com a Defensoria Pública do Paraná. Mais tarde surgiu a proposta de passar por todo o estado realizando as edições do “Meu Nome, Meu Direito”, para conseguir atender o maior número de pessoas.
Caroline Nascimento diz que no Paraná o primeiro mutirão atendeu 233 pessoas. “Com a possibilidade de interiorizar o atendimento, as buscas têm aumentado e mais oportunidades de parcerias com instituições e movimentos sociais surgiram”, explica. O projeto tem planos de ocorrer em todas as cidades do Paraná, inclusive as que não têm sede da Defensoria Pública.
A ouvidora também fala sobre a importância social do projeto. “O propósito é trazer visibilidade para esse público e fazer com que se sintam pertencentes à sociedade”. O Conselho Municipal dos Direitos LGBT de Ponta Grossa ajudou na realização do evento e distribuiu cartilhas sobre o respeito e a valorização da dignidade de todas as pessoas LGBTQI+.
A defensora pública, Raysa Edi Moura, explica sobre o papel da comunidade perante as questões legais. “Esse mutirão reforça a necessidade da população LGBT+ se dirigir aos espaços de poder, como os cartórios, e visibilizar os seus direitos mais básicos”. A retificação de prenome e gênero é um direito fundamental e humano presente na Constituição Federal.
Ação de conscientização sobre IST’s ocorreram em ambos os campi da Universidade em Ponta Grossa
Nos dias 29 de junho e 6 de julho, o Serviço de Atenção Especializada (SAE), em parceria com a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) realizou exames para detecção de infecções sexualmente transmissíveis. A ação ocorreu no campus central e, posteriormente, no campus Uvaranas. Foram feitos exames para HIV, sífilis e hepatite tipo B e C.
A ação beneficiou cerca de 100 pessoas, entre acadêmicos, visitantes e servidores. De acordo com as enfermeiras que realizam os exames, a iniciativa visava apenas testar os alunos, mas despertou o interesse de quem passava e dos funcionários ao redor.
“O SAE nos buscou por conta de uma preocupação da saúde pública em atingir a população jovem, que é a que menos realiza testagens”, afirma Silmara Carneiro e Silva, chefe de Programas e Projetos da PRAE.
Além da testagem gratuita, a iniciativa ofertou auto exames de HIV, que podem ser feitos em casa com amostras retiradas da saliva. O objetivo da ação é conscientizar a comunidade acadêmica da importância da discussão sobre a saúde sexual. Em caso de algum exame positivo, as enfermeiras responsáveis oferecem o encaminhamento para tratamento no SAE e também nas Unidades Básicas de Saúde.
“Todos nós estamos expostos, é importante a gente superar a ideia de que é um ou outro grupo. Todos nós temos risco de saúde, por isso é importante que procuremos atendimento”, comenta Silmara sobre a importância da ação. “Na abordagem que temos feito, a gente percebe que a maioria das pessoas nem sabem o que são as doenças, e acaba deixando passar batido. O primeiro passo é retirar o tabu, e então disponibilizar a informação”, complementa.
De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente de 2022, o sul do país abriga a segunda maior concentração de AIDS do país. E o Paraná é o segundo estado com maior quantidade de casos de HIV na região Sul.
Para além da conscientização sobre saúde sexual, a PRAE realizou uma pesquisa sobre o impacto da universidade na saúde mental. “Nós queremos, a partir do resultado da pesquisa, desenvolver uma ação que dialogue com as respostas dos estudantes. Para que além disso, possamos pensar em atendimentos à demandas ali colocadas”, explica Silmara.
“Foi um momento que me vi se espelhando em mim mesma”, compartilha Safira Pereira, enquanto fala sobre sua jornada como mulher trans. Com coragem e determinação, ela abraçou sua individualidade e encontrou sua voz. Safira descreve esse momento como um vislumbre de si mesma refletido no espelho, uma sensação de reconhecimento e validação. Desde então, ela vem trilhando um caminho de auto aceitação e empoderamento, passando pelas dificuldades e desafios, mas também celebrando as conquistas e a alegria de viver sua identidade de gênero.
Exigências burocráticas e restrições prejudicam o acesso dos alunos ao benefício garantido por lei
O transporte coletivo é um direito social, assegurado pelas Leis Municipais Ordinárias 7018/2002 e 12071/2015. A primeira lei trata sobre a prestação de serviços públicos municipais de transporte coletivo reservado a grupos específicos da população como crianças de até 6 anos, pessoas com 65 anos de idade ou superior, gestantes, pessoas com deficiência física, mental ou motora e agentes de segurança.
A segunda lei é voltada aos estudantes da cidade e autoriza o poder executivo a adquirir créditos do transporte coletivo e doá-los aos alunos do município, através da lei do Passe Livre. Tem direito ao passe, estudantes do ensino fundamental, ensino médio de escola pública e de escolas particulares com bolsa integral de estudos. Assim como estudantes do ensino superior público e bolsistas de ensino superior privado com cem por cento de bolsa, ou com financiamento de programa governamental ou ainda da própria instituição.
Apesar de ser um direito garantido, estudantes do ensino superior encontram dificuldades para adquirir o benefício do Passe Livre. Isso acontece devido às exigências que o Departamento de Transporte impõe por meio da Viação dos Campos Gerais (VCG), empresa de transportes da cidade. Para os alunos e as alunas das duas instituições públicas sediadas no município -Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), é exigido: comprovante de matrícula, comprovante de residência atualizado, RG e CPF do estudante e dos pais em cópia e original, extrato que conste as disciplinas está matriculado e em quais dias e horários. Mas o que tem dificultado o acesso ao benefício é a exigência da folha de resumo do cadastro único (CadÚnico).
Conforme a Secretaria Especial de Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania, o cadastro único é concedido a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Através do cadastro são colhidas informações da população e são utilizadas pelo Governo Federal, pelos Estados e pelos municípios para a concessão de benefícios sociais, como é o caso do passe livre.
Mas para que uma pessoa consiga esse cadastro, deve ter paciência e tempo, pois é um processo demorado e burocrático, muita gente está aguardando pelo benefício. Fato que se comprovou no ano passado, quando os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), local onde é feito os cadastros, realizaram pela cidade mutirões para atender a solicitação de novos cadastros e também atualizações. Porém, foi recorrente a insatisfação da população com o serviço, houve relatos da população sobre enormes filas e senhas que encerram logo nas primeiras horas de atendimento.
Perante essa situação, alunos do ensino superior público estão carecendo de seus direitos. É o caso da estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas da UEPG, Maria Luiza Mendes, que utilizou o passe livre durante o período do Ensino Fundamental até o Ensino Médio, por mais de 5 anos. Porém, perdeu o benefício a partir do momento que ingressou na universidade.
De acordo com Maria, a perda do benefício se deu após a atendente da VCG alegar de que a acadêmica já estava apta a trabalhar pois estudava no período da noite.“ O passe livre para mim é fundamental por conta dos custos. É muito difícil arrumar um serviço que dê certo com os horários em que estudo.” A estudante ressalta a importância do passe livre para os alunos, pois a maioria não tem emprego fixo e acaba dificultando a ida até a faculdade. Devido a esse impasse, Maria está utilizando a meia passagem, assim como tantos outros estudantes.
A caloura do curso de Direito da UEPG Maria Carolina Machado conta que mesmo utilizando a meia passagem diariamente e pagando metade do valor, o processo para adquirir o benefício foi demorado. “Para conseguir a meia passagem foi muito burocrático. Precisa de comprovante de residência, grade de horário das aulas da faculdade e documentos pessoais, além da demora de ficar pronto depois de tudo aprovado,” relembra.
Outra dificuldade enfrentada é que tanto o passe livre quanto a meia passagem é limitada, podendo ser utilizados somente durante o horário de aula que consta na grade curricular exigida para elaboração do cartão. Ademais, somente é liberado a utilização de determinadas linhas de ônibus, aquelas que constam no trajeto da ida para a faculdade e da volta para a casa. Essas limitações dificultam o rendimento acadêmico pois é comum que estudantes precisem se deslocar para outras localidades da cidade para a realização de atividades impostas pelos cursos.
Maria Carolina relembra de um fato que aconteceu com ela ainda quando frequentava o ensino médio em 2019. A estudante precisou se deslocar até um bairro que não era o habitual na ida para a escola e nem na volta para casa. Esse deslocamento ocasionou um sério problema, pois seu cartão foi bloqueado quando tentou passar a catraca do ônibus. Indignada e sem entender o que havia acontecido, buscou informação em um guichê localizado em um terminal de ônibus e lhe informaram que o bloqueio aconteceu devido ao desvio de rota que havia sido programado para ela no momento da elaboração do cartão.
Mesmo com essa informação, a estudante ainda ficou confusa sobre o ocorrido pois a atendente do guichê afirmou que o bloqueio é incerto, podendo ocorrer algumas vezes e outras não. Após essa situação, Maria nunca mais utilizou o cartão do passe livre fora da sua rota casa-faculdade.
Aleff Cristian Francisco, 28 anos, é um dos fundadores do grupo de drag queens Jambalaya. A sua drag Humakik é uma mulher forte, poderosa e divertida. Aleff conta confiante como foi sua trajetória sendo um homossexual de gênero fluido e todos os desafios que passou desde sua infância. Desde pequeno, ele sentiu o peso do preconceito de sua família em relação à sua sexualidade. Esse preconceito, mesmo que de forma velada, foi intensificado pela religião católica que sua família segue. “Por sermos uma família católica existia toda uma pressão e isso me aprisionou. Eu nunca fui diferente de quem eu sou, mas não tocava no assunto e não tinha essa liberdade de falar sobre as minhas experiências, minhas frustrações, medos e curiosidades”, desabafa.
Ainda quando criança, Allef Francisco relata que não teve com quem conversar a respeito da descoberta de sua sexualidade. Isso fez com que buscasse informações em veículos errados, o que acabou dificultando a sua própria descoberta pessoal. Aos 20 anos ele contou para a família. “Além do peso que me saiu por não sentir que eu escondia alguma coisa, eu fui de certa forma bem acolhido, não tive nenhum problema familiar em relação a minha sexualidade. Isso é um privilégio dentro de nossa comunidade”, destaca.
Essa trajetória, fez com que Aleff ajudasse outras pessoas a se descobrirem “Me despertou a vontade de falar mais sobre o assunto e tentar ajudar e inspirar outras pessoas a se libertarem e criarem essa independência emocional, sem o peso de ser uma vergonha ou carregar isso como um problema”. Ele foi um dos fundadores do Jambalaya, grupo de drag queens que tem como princípio acolher todos aqueles que buscam ajuda. Também participou da comissão organizadora da Parada Cultural LGBTQIA+ dos Campos Gerais durante dois anos e meio.
Para Aleff, as pessoas da comunidade LGBTI+ carregam desde crianças o medo do preconceito da sociedade enraizado dentro de si. Contudo explica que este medo pode ser combatido, principalmente por meio da educação. “O preconceito é algo ensinado, então se conscientizarmos a nova geração ela não gerará mais preconceito”.
No mês do Orgulho, eventos são realizados em Ponta Grossa promovendo debates, arte e a visibilidade das lutas pelos direitos LGBTI+
Por: Alex Dolgan e Camila Souza
No mês do Orgulho LGBTI+, a cidade de Ponta Grossa avançou no debate e no reconhecimento dos direitos da comunidade. A cidade contou com eventos que promoveram a arte e a cultura do movimento LGBTI, visibilidade para a diversidade e debates acerca dos direitos dos LGBTI, destacando a luta pela garantia desses direitos. Os eventos foram o Cine Debates com a exibição do documentário “Falas de Orgulho”, apresentação de drag queens com o “Show Holofotes” e outros eventos dos movimentos sociais.
A advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos LGBTI de Ponta Grossa (CMLGBT), Thaís Boamorte, acredita que a inserção da causa em políticas públicas tem feito a diferença, trazendo resultados positivos. “A nossa cidade é extremamente conservadora, porém também é visionária em outro aspectos. Ponta Grossa foi a primeira cidade a ter um conselho municipal voltado à temática LGBT. E também a primeira a ter uma comissão da diversidade sexual de gênero da OAB”. Essas iniciativas são importantes para promover a inclusão e garantir a representatividade da comunidade LGBTi+.
Para Guilherme Portela, ativista do movimento LGBTI+, existe a necessidade de reinventar o mês do orgulho, abraçando as novas lutas e demandas do movimento LGBTI+. Ele ressalta que os corpos devem ser livres para construírem suas vidas, sem serem tratados como algo escondido, criminoso ou patológico, mas sim com amor e acolhimento. “Antes esses momentos eram calados e escondidos, agora as lutas passadas são essenciais para termos eventos como estes sem repressão, sem precisar ficar escondidos”, afirma o ativista. Portela enfatiza que eventos como os realizados em Ponta Grossa são essenciais para dar visibilidade e fortalecer a comunidade.
Uma das iniciativas foi o evento “Cine Debate”, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Ponta Grossa. O documentário “Falas de Orgulho” foi exibido, seguido de um debate sobre a representatividade dos corpos LGBTI e suas lutas por respeito. No dia 28, em comemoração ao Dia do Orgulho, um espetáculo de drag queens intitulado “Holofotes” foi realizado no Centro de Cultura de Ponta Grossa. Com todos os ingressos vendidos, as arrecadações obtidas com o evento foram destinadas aos cachês das performers, valorizando a arte drag. Além disso, foi disponibilizado um ônibus gratuito para levar os moradores de Ponta Grossa à 6ª Marcha Pela Diversidade, que ocorreu em Curitiba no dia 25.
A noite do Show Holofotes também serviu como uma oportunidade de informação para quem estava lá. Neste evento foi lançada uma cartilha desenvolvida pelo conselho. A cartilha, entregue pelo conselho, tem o objetivo de desmistificar conceitos e fornecer informações para as pessoas sobre a comunidade LGBTI+. A presidente do conselho ressalta que a conscientização é essencial para combater a LGBTfobia.
Layla Barbosa, uma mulher lésbica, compartilhou sua visão sobre o orgulho. Para ela, o orgulho vai além das siglas e representa a liberdade de ser quem se é e amar quem se deseja. “Ter orgulho é ser. Esse ser é o reconhecimento para além de uma sigla, é pelo o que eu amo e pelo o que eu faço. Esse é meu orgulho”. Ela acredita que eventos como os realizados em Ponta Grossa são fundamentais para que as pessoas possam compreender que o preconceito mata e que o amor está presente em todas as formas de identidade.
LGBTfobia em Ponta Grossa
Mesmo que com legislação e políticas públicas que prezam pela igualdade e o respeito à diversidade, a LGBTfobia ainda se mostra como um desafio a ser superado. No ano de 2022, Ponta Grossa ficou em quarto lugar entre as cidades do Paraná com o maior número de denúncias de LGBTfobia por habitantes. A cidade registrou 56 casos no período de janeiro a novembro de 2022, o que equivale a 0,15 por mil habitantes. No entanto, é importante destacar que nem todas as agressões à comunidade LGBTI+ são registradas oficialmente.
Dados divulgados via e-mail pelo Centro de Análise, Planejamento e Estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) mostram que, em 2022, o número de ocorrências envolvendo homofobia e transfobia caiu no estado. Em 2021, foram registradas 1.560 ocorrências no total. No período de janeiro a novembro de 2022, o número decresceu para 1.382. Entretanto os números podem não corresponder com a realidade da violência LGBTI+ na cidade como destaca Thaís Boamorte, “A violência deve ser maior do que mostram os números. Dependemos dos critérios da Sesp para registar esses boletins, dessa forma, existe uma alta subnotificação mesmo que a LGBTfobia seja equiparada ao crime de racismo”.
Como denunciar?
É importante que as vítimas de LGBTfobia saibam como denunciar. A ocorrência pode ser realizada em qualquer delegacia, não sendo necessário ser uma delegacia específica de crimes de LGBTfobia. Quando os crimes são cometidos com o uso da internet, é possível fazer a denúncia no site SaferNet, sendo necessário que a vítima salve as mensagens para comprovar o crime. Casos envolvendo mulheres travestis, transexuais e intersexo podem ser atendidos nas delegacias especializadas de atendimento à mulher.
As denúncias também podem ser realizadas pelo Disque 100, especificamente na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. No caso de mulheres LBTI, a denúncia pode ser feita pelo Disque 180, recorrendo à Lei Maria da Penha. Esses serviços funcionam 24 horas por dia, nos sete dias da semana, incluindo feriados, e a ligação é gratuita.