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Projeto Elos participa do Labic Curitiba

A iniciativa promove oficinas sobre diversidade, sustentabilidade e combate à desinformação 

Foto: Divulgação

O projeto Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, foi selecionado para participar do programa Redes de Formação em Cultura Digital – Labic Curitiba. Entre os dias 13 a 16 de novembro a iniciativa realizará oficinas voltadas para o desenvolvimento e construção de redes em Cultura Digital. Os temas abordados serão diversidade, formação, sustentabilidade, ações culturais, culturas indígenas, meio-ambiente, usos da inteligência artificial para o bem comum, livros e leituras. Também serão discutidos tópicos como combate à desinformação, educação midiática, tecnologias para o bem comum e ações de mídia.

Fique por dentro da cobertura completa em nosso site e nas nossas redes sociais.

Por Karen Stinsky

Acesso à leitura no Brasil: Uma jornada entre desafios e oportunidades

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Em um país marcado pela desigualdade de renda e disparidades regionais, o incentivo à leitura enfrenta barreiras que vão desde a falta de bibliotecas até o alto custo dos livros

 

Em um país marcado pela desigualdade de renda e pela disparidade regional, o incentivo à leitura enfrenta barreiras que vão desde a falta de bibliotecas até o alto custo dos livros. Contudo, iniciativas comunitárias e avanços na tecnologia têm sido alternativas importantes para melhorar esse cenário. A seguir, vamos explorar os principais desafios, os dados mais recentes e as iniciativas que buscam transformar o acesso à leitura no Brasil.

 

O panorama atual da leitura no Brasil

 

A última Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e publicada em 2019, revela dados preocupantes sobre os hábitos de leitura dos brasileiros. Segundo o estudo, cerca de 44% da população não lê livros e 30% nunca compraram um livro. A média de leitura por pessoa no Brasil é de apenas 2,5 livros por ano (considerando leitura completa), enquanto em países como França e Japão, essa média chega a 10 livros anuais.

Essa realidade é influenciada por uma série de fatores, entre eles o baixo índice de alfabetização funcional. De acordo com o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), 29% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais, ou seja, têm dificuldades em interpretar textos mais complexos. Essa carência de habilidades de leitura e interpretação compromete o interesse pela leitura e o desempenho escolar, criando um ciclo vicioso que afasta cada vez mais a população dos livros.

 

Desigualdades regionais e econômicas

 

As desigualdades regionais têm um papel central na dificuldade de acesso à leitura. Regiões mais ricas, como o Sudeste, concentram o maior número de bibliotecas, livrarias e eventos literários, enquanto o Norte e o Nordeste enfrentam uma escassez de infraestruturas de incentivo à leitura. Ainda segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), mais de 30% dos municípios brasileiros não possuem uma biblioteca pública. Isso é especialmente grave em localidades pequenas e remotas, onde a população muitas vezes depende exclusivamente desses espaços para acessar livros.

 

Além disso, o preço dos livros é um obstáculo para muitas famílias. De acordo com uma pesquisa de 2020 da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o preço médio de um livro no Brasil gira em torno de R$ 40 a R$ 60, o que torna a aquisição de livros difícil para a população de baixa renda, especialmente em um contexto de crise econômica e alta inflação. Essa situação contrasta com a realidade de países como Argentina, onde políticas de incentivo à leitura permitem acesso mais barato a livros, e com países da Europa, onde há subsídios e incentivo à produção literária.

 

A importância das bibliotecas públicas e escolares

 

As bibliotecas públicas e escolares são fundamentais para garantir acesso gratuito à leitura, especialmente para jovens e crianças. No entanto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostra que a cada dez escolas públicas no Brasil, quatro não possuem uma biblioteca ou sala de leitura. A Lei 12.244/2010, que estabeleceu o prazo até 2020 para que todas as instituições de ensino possuíssem uma biblioteca, ainda não foi plenamente implementada. A ausência desses espaços agrava a desigualdade no acesso à leitura e prejudica o desenvolvimento educacional dos alunos.

 

Para tentar mitigar essa realidade, algumas escolas e organizações têm investido em bibliotecas itinerantes e em projetos de incentivo à leitura. No Ceará, por exemplo, a Secretaria de Educação do Estado criou a iniciativa “Bibliotecas em Movimento”, que leva livros para escolas e comunidades em áreas de difícil acesso. Em São Paulo, projetos como o “BiblioSesc”, realizado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), utilizam caminhões adaptados para circular em regiões com poucas livrarias e bibliotecas.

 

O papel das iniciativas comunitárias

 

As iniciativas comunitárias têm sido um pilar fundamental para o acesso à leitura no Brasil. Projetos como o Leia para uma Criança, da Fundação Itaú Social, têm como objetivo distribuir livros gratuitos para crianças em idade pré-escolar, visando o desenvolvimento do hábito de leitura desde a infância. Segundo dados da própria fundação, o programa já distribuiu mais de 57 milhões de livros desde o seu lançamento em 2010, alcançando milhões de famílias em todo o país.

 

Outra iniciativa importante é o Projeto Literatura nas Praças, que disponibiliza acervos em praças públicas de diversas cidades e incentiva a troca de livros entre a população. Esse tipo de ação cria um ambiente de leitura em espaços acessíveis e inclusivos, beneficiando principalmente as pessoas que não têm condições de comprar livros ou frequentar bibliotecas.

 

A Roda de Leitura, desenvolvida em comunidades no Rio de Janeiro, também é um exemplo de sucesso: ao criar um espaço de compartilhamento de histórias, o projeto promove a literatura como um meio de expressão, oferecendo à população local a oportunidade de interagir com autores, contadores de histórias e educadores.

 

Tecnologias e o acesso digital como alternativa

 

Com o avanço da tecnologia, o acesso à leitura digital tem se mostrado uma alternativa viável e promissora, especialmente durante a pandemia de COVID-19, quando o fechamento de bibliotecas e livrarias físicas restringiu ainda mais o acesso aos livros. A popularização de aplicativos de leitura digital, como o Kindle que é pago, e plataformas de livros gratuitos, como o Domínio Público e a Biblioteca Digital Camões, oferecem milhares de obras gratuitamente para download.

 

Um exemplo é o BibliON, uma biblioteca digital pública lançada em 2021 pelo Governo do Estado de São Paulo. Com acervo de cerca de 15 mil títulos, a plataforma oferece livros gratuitamente e facilita o acesso para leitores de baixa renda. No entanto, o acesso à leitura digital ainda enfrenta barreiras, como a necessidade de dispositivos eletrônicos e uma conexão à internet de qualidade, algo que, segundo o IBGE, 37% dos domicílios brasileiros ainda não possuem.

 

A Bienal do Livro e o acesso à cultura literária

 

Eventos literários de grande porte, como a Bienal do Livro, ainda não conseguem alcançar todo o potencial de acessibilidade e inclusão social. Apesar de ser um dos maiores eventos literários da América Latina, com uma programação diversificada que inclui palestras, lançamentos e atividades culturais, o custo da entrada e a localização em centros urbanos limitam o acesso para uma parcela significativa da população. O autor independente Paulo Novais, que está em seu décimo terceiro livro, destaca que a Bienal “ainda não é um evento para toda a população, pois o custo de deslocamento e o preço dos ingressos são barreiras para pessoas que vivem nas periferias e em áreas mais distantes do centro”. Segundo ele, o evento precisa de políticas que ampliem o acesso para comunidades de baixa renda, promovendo mais atividades inclusivas e facilitando o transporte e a distribuição de ingressos gratuitos.

 

Desafios e caminhos para o futuro

 

O acesso à leitura no Brasil enfrenta um caminho árduo frente à falta de políticas públicas. Investimentos na formação de professores e mediadores de leitura são igualmente necessários, pois são eles que desempenham o papel de incentivar o interesse pela leitura em crianças e adolescentes. Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil precisa aumentar a porcentagem de escolas com bibliotecas e capacitar profissionais para atuar nesses espaços, com vistas a promover uma educação de qualidade.

 

Iniciativas comunitárias, os avanços na tecnologia e a atuação de ONGs e fundações, por sua vez, têm sido importantes para tornar os livros mais acessíveis e criar uma cultura de leitura no país. Para que o Brasil se torne uma nação de leitores, é fundamental que todos os setores da sociedade trabalhem juntos, investindo em educação e promovendo o acesso à leitura como um direito essencial para a formação cidadã e o desenvolvimento social.

 

A jornada para o aumento da leitura no Brasil é longa, mas, com um esforço conjunto, é possível mudar esse panorama e criar uma sociedade mais informada, crítica e conectada com o poder das palavras.

 

Por Maria Gallinea e Roberto Indzejczak

Acadêmica produz documentário sobre a cobertura jornalística do aborto legal em Ponta Grossa

No Brasil, o aborto é autorizado por lei desde 1940 em casos de gravidez decorrente de estupro e risco à vida da gestante, bastando para isso o consentimento dela ou de seu responsável legal.  (Decreto-Lei nº 2.848, Art. 128).

Desde 2012, por entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), o aborto também é permitido em casos de anencefalia do feto – um tipo de má-formação congênita incompatível com a vida fora do útero e caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo. 

No estado do Paraná, apenas um hospital realiza o procedimento do aborto legal, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. 

De acordo com o estudo realizado pela acadêmica de Jornalismo, Rafaela Koloda, embora o aborto seja um direito garantido por lei, o assunto ainda não tem a visibilidade devida nos veículos de comunicação. A situação ainda se agrava nas regiões em que a onda de conservadorismo se faz fortemente presente. 

Com a intenção de abordar como são feitas as coberturas que possuem como tema o aborto legal nos portais jornalístico da cidade de Ponta Grossa, a estudante da Universidade Estadual de Ponta Grossa, apresentou como Trabalho de Conclusão de Curso, a  produção documental: “Verdades Veladas – Cobertura jornalística do aborto legal em Ponta Grossa”, na sexta-feira (01/11), sob a orientação da professora Paula Melani Rocha.

Entre as entrevistadas do documentário estava a pesquisadora, Carla Rizzotto, que criticou a cobertura jornalística no geral: “No Brasil a gente precisa falar mais sobre o aborto como um direito e não na posição de um tabu, como ele é tratado.”

O trabalho apurou notícias sobre aborto legal produzidas pelos veículos de comunicação de Ponta Grossa e constatou um número pequeno de registros, sendo que grande parte das notícias foram  produzidas por agências de notícias e  repassadas à imprensa da cidade, não sendo de contexto local. 

O documentário também é marcado por acontecimentos políticos. O primeiro são os projetos de lei antiaborto propostos na Câmara dos Vereadores entre 2018 e 2023. Já o segundo é sobre o PL 1904/2024, que tramita na Câmara dos Deputados.

No documentário foram entrevistados os editores-chefes dos veículos Dcmais e aRede, além de uma advogada, uma ativista feminista, e jornalistas. Todos foram questionados  sobre o enqadramento das notícias, os vazios nas coberturas e a pouca visibilidade da pauta aborto legal na cidade.

A estudante Rafaela relata que desde o início da graduação se interessou por pautas relacionadas aos direitos das mulheres e que durante o curso realizou diversos materiais e reportagens que diziam respeito a essa temática. 

“Espero que a minha produção faça com que  jornalistas e  futuros profissionais reflitam sobre a falta de cobertura sobre um direito reprodutivo. Principalmente em uma cidade como Ponta Grossa, guiada por políticas conservadoras. O objetivo do documentário é realizar uma reflexão e fazer pensar novas formas de produzir notícias sobre aborto legal de forma ética, clara e sem utilizar o sensacionalismo”, declara Rafaela. 

 

Por Lorena Santana

Ponta Grossa elegeu apenas três mulheres para a câmara de vereadores

15,7%  das cadeiras da câmara de vereadores serão ocupadas por mulheres

O segundo turno das eleições municipais de 2024 pela prefeitura foi marcado pela disputa entre duas mulheres, as mesmas que disputaram o segundo turno há quatro anos. Apesar disso, apenas três, das dezenove cadeiras da câmara de vereadores, serão ocupadas por mulheres. Teka dos animais (União) e Enfermeira Marisleidy (PMB) ocupam o cargo pela primeira vez. Enquanto Joce Canto (PP) foi reeleita e assumirá seu segundo mandato. 

As mulheres representam 53% do eleitorado ponta-grossense, mas este índice não reflete na política do município. A socióloga e pesquisadora em política paranaense, Natalia Cristina Granato, explica que a desigualdade feminina na política brasileira possui fatores históricos, visto que só em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto. “São variados os fatores que contribuem para o baixo número de mulheres na política, dentre os quais, a cultura machista que reserva às mulheres o espaço privado e doméstico, a falta de investimento nas candidaturas, além da violência política de gênero”.

 A atuação das mulheres na política de Ponta Grossa teve início em 1951, quando Cândida Mendes Braz ocupou um lugar na Câmara Municipal. Após o seu mandato, somente 41 anos depois, nas eleições de 1992, obteve-se representação feminina novamente, com a vitória de duas mulheres. Este número se repetiu nas eleições legislativas municipais posteriores, até 2016, ocasião na qual apenas uma mulher se elegeu vereadora. Em 2020, três mulheres se elegeram, número que se manteve nas eleições deste ano. De acordo com Natalia, a falta de representatividade feminina na câmara reflete, também, na falta de políticas públicas para mulheres. “Muitos analistas apontam que o sistema político brasileiro é feito por homens e para homens, e isto reflete também na Câmara de Ponta Grossa”. A socióloga afirma que o olhar das mulheres faz a diferença na formulação de políticas públicas e combate às desigualdades e à violência contra a mulher. 

A Lei no 9.504/1997 estabelece que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”, ou seja, cada partido precisa de no mínimo 30% de candidaturas do sexo feminino, porém a porcentagem de candidaturas não reflete a quantidade de mulheres eleitas. 

As estudantes de jornalismo, Ester Roloff e Juliana Goltz, realizaram uma enquete anônima sobre a participação feminina na política na segunda-feira (28), após o segundo turno das eleições em Ponta Grossa para sondar como as eleitoras percebem a participação das mulheres na política local e a proposição de políticas públicas para mulheres. A enquete foi realizada em dois pontos na região central da cidade com grande circulação de pessoas, no calçadão e no terminal de ônibus, durante o período da tarde, e foram obtidas 31 respostas. A maioria das mulheres abordadas preferiu não participar da enquete.

 

Por Natalia Almeida, Pietra Gasparini e Amanda Grzebielucka

Atividade física contribui para tratamento da diabetes

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Médicos afirmam que exercício físico é essencial para o controle da doença 
Talita foi premiada no Setembro em Dança 2024, evento realizado na cidade, com 1°lugar na categoria variação clássica de balé junior

                

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil ocupa o 6º lugar no mundo entre os países com mais pessoas com diabetes no geral e o 3º lugar quando se fala em diabetes tipo 1. Como os sintomas da doença podem demorar a se apresentar, cerca de 1 a cada 3 pessoas com diabetes não sabem ter a doença. Considerando essa informação, o número de diabetes no país pode ser ainda maior.

Entre os principais sintomas estão: muita sede, vista turva e emagrecimento. A universitária, Vivian Ferraz, descobriu aos 10 anos que possuía diabetes tipo 1. “Descobri em um espetáculo de balé onde passei muito mal, mas já tinha os sintomas fazia tempo”, lembra. Ela relata que muitas vezes a insulina sozinha não é tão eficaz. “A dança ajuda muito para a diabete, porque o exercício físico ajuda até mesmo a diminuir a aplicação de insulina, é como um outro remédio”, afirma.

Vivian conta que o principal problema que os diabéticos enfrentam ao fazer exercícios é a hipoglicemia (pouco açúcar no sangue, que pode levar a desmaios e, nos piores casos, ao coma). “É importante sempre estar atento aos sintomas e se alimentar antes do exercício”, aconselha. A universitária dança desde os cinco anos e ama o esporte. “É uma forma de lazer, a pessoa entende mais seu corpo e cuida mais da saúde, o exercício é um tratamento”, finaliza.

Com sete anos, Talita Oliveira Machado descobriu possuir diabetes tipo 1. “Minha glicemia em jejum estava 545, quando o normal é 100, então no dia seguinte já iniciei o tratamento”. Inicialmente, a estudante usou a caneta de insulina, com 8 a 10 aplicações por dia, mas hoje, aos 15 anos, usa a bomba de infusão de insulina. “É considerado o melhor tratamento, pois é o que chega mais próximo das funções do pâncreas”, explica. Atualmente, ela pratica balé e jazz, mas diz que se tivesse mais tempo faria outros tipos de dança, pois ama o esporte.

Talita confessa que a doença já atrapalhou ela durante as aulas de dança. “Se está muito alta (hiperglicemia) fico com muita sede e as vezes preciso correr para o banheiro no meio da aula, mas o exercício ajuda a baixar o açúcar no sangue”. A menina conta que seus médicos asseguram que diabetes não é uma doença, mas uma condição. “Você pode dançar o quanto quiser, fazer o esporte que quiser, apenas com a condição de ficar de olho em sua glicemia e prestar atenção aos sintomas”, declara.

Aproximadamente 20 milhões de brasileiros são diabéticos, é o que estima a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). “Uma de nossas metas é diminuir a diferença entre o tratamento oferecido nas redes de saúde pública e privada”, conta a médica e integrante da SBD, Bianca de Almeida Pititto. “No serviço público, embora já haja melhora, infelizmente há uma escassez de medicamentos gratuitos, que nem sempre são tão eficientes quanto os que são vendidos”, lamenta. A proposta que fizeram ao Ministério da Saúde é que o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha os mesmos medicamentos que estão presentes na rede particular.

 

Qual a diferença entre diabetes tipo 1 e tipo 2?

A diabetes tipo 2 abrange a maioria dos diabéticos, cerca de 90%. Ela ocorre quando o organismo não consegue usar a insulina que produz ou não produz insulina, assim não consegue controlar a taxa glicêmica do corpo. Dependendo da gravidade pode ser controlada apenas com planejamento alimentar e atividade física, mas em casos mais graves pode ser necessário o uso de medicamentos. Se manifesta mais frequentemente em adultos, mas com o aumento de casos de obesidade em crianças e adolescentes, pessoas mais jovens estão sendo afetadas.

Já a diabetes tipo 1 aparece geralmente na infância e adolescência, mas pode ser diagnosticada em adultos também. Ela acontece em pessoas com predisposição genética, nas quais o sistema imunológico ataca equivocadamente as células do pâncreas que produzem insulina. Essa variedade é sempre tratada com medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas, para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue.

Por  Ester Roloff

 

 

Literatura infantil contribui para o desenvolvimento e as relações familiares

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Boneco e livro “Teodoro Adora” // Foto: Reprodução do instagram @teodoro_adora

A literatura infantil desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Além de estimular a imaginação e a criatividade, os livros voltados para o público infantil são importantes ferramentas educacionais que ajudam a construir valores e hábitos desde os primeiros anos de vida. Em uma era marcada pela digitalização, em que o tempo de tela é muitas vezes predominante, os livros se destacam como alternativas que oferecem, além de aprendizado, um momento de interação afetiva entre pais e filhos.

Durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a escritora e ilustradora de literatura infantil, Dorothy Rooma, trouxe à tona uma reflexão sobre o impacto de suas obras na relação entre adultos e crianças. A autora lançou duas coleções voltadas para o público infantil, destacando a importância dos livros como mediadores dessas relações.

“A coleção ‘Teodoro Adora’ tem dois eixos: hábitos saudáveis; e sociedade e cultura. Na parte de hábitos saudáveis, o Teodoro adora comer frutas, verduras, tomar sucos, escovar os dentes e muito mais. Já na coleção focada em sociedade e cultura, temos o Teodoro explorando o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e as brincadeiras infantis de antigamente”, explicou Dorothy, ao falar sobre seus personagens e a missão por trás das histórias.

O conceito de seus livros vai além do simples entretenimento. A autora reforça que sua proposta tem um viés educativo voltado para a interação familiar, promovendo uma “materialidade para as relações parentais”. A ideia é criar momentos de troca entre adultos e crianças, usando a leitura como um elo que ajuda a suavizar as tarefas diárias, como a hora de comer ou de escovar os dentes.

Outro personagem central nas coleções da criadora é o gatinho Aderbal, que tem como missão ensinar de forma lúdica noções espaciais e temporais às crianças. “Aderbal circula pelo ambiente doméstico e, com ele, as crianças aprendem noções de localização, como atrás, em cima, ao lado. Ele ensina adjunto adverbial de lugar de forma lúdica e acessível”, explicou a autora. Além disso, o livro “É Hora de Fazer o Quê?” ensina a leitura das horas, tanto no formato analógico quanto no digital, promovendo uma experiência de aprendizado ativa e divertida.

A função da literatura infantil vai muito além de estimular a imaginação. Ela ajuda a criança a desenvolver habilidades sociais, reforçar hábitos e estabelecer uma conexão com a cultura. Em histórias como a de Teodoro, por exemplo, os pequenos são incentivados a adotar uma alimentação saudável, enquanto são introduzidos a aspectos culturais, como visitas a museus ou o resgate de brincadeiras tradicionais. Através de personagens que cativam, as histórias se tornam acessíveis e significativas, permitindo que a criança absorva conhecimento de forma leve.

Um aspecto interessante trazido por Rooma é o uso do Teodoro de pelúcia como um “apaziguador” na relação entre pais e filhos. Segundo a autora, o personagem pode ajudar a mediar momentos de conflito ou resistência em tarefas cotidianas, como tomar banho ou comer. “Às vezes, a orientação que os pais precisam dar pode parecer um pouco chata para as crianças. Mas o Teodoro pode intermediar essa relação, suavizando o momento e tornando-o mais lúdico”, afirma a autora.

Essa triangulação proposta pela escritora ilustra como os livros infantis podem ser utilizados não apenas como uma fonte de conhecimento, mas também como um meio de fortalecer os laços familiares. Ao transformar tarefas diárias em aventuras compartilhadas entre os personagens e as crianças, as histórias promovem um ambiente de colaboração e compreensão dentro do lar.

A literatura infantil contemporânea, como demonstrado pelas coleções de Dorothy Rooma, vai muito além de narrativas de entretenimento. Ela atua como uma poderosa ferramenta de construção emocional e cognitiva, permitindo que as crianças não apenas aprendam novos conceitos, mas também reforcem laços afetivos com seus pais ou cuidadores. Essa interação fortalece o papel do livro como um elo essencial no desenvolvimento das novas gerações.

Os livros para crianças são, portanto, mais do que simples histórias. Eles ensinam, conectam e apaziguam. Como os personagens de Dorothy Rooma, que servem de intermediários para suavizar relações, a literatura infantil pode ser o fio que une aprendizado e afeto, criando memórias duradouras e contribuindo para uma formação integral das crianças. Em tempos de tecnologia, o retorno ao livro impresso se torna uma oportunidade para fortalecer as relações humanas, proporcionando momentos únicos de troca e aprendizado mútuo.

Por Maria Gallinea

Paraná é o estado com maior número de doações de órgãos do Brasil 

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As maiores filas são para transplante de rim, córneas e fígado

De acordo com dados da Secretaria da Saúde do Paraná, o Estado tem o maior número de doação de órgãos por milhão de população do País (pmp). É o estado líder nacional de transplante de rins e o terceiro em transplantes de fígado. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Paraná registra 42,3 pmp, seguido de Santa Catarina com 40,7 pmp e Rondônia com 40,5 pmp.

Karoline Fernandes, de 22 anos, mora em Ponta Grossa e fez um transplante de rim aos 6 anos de idade. Ela começou a ter os primeiros sintomas de insuficiência renal quando tinha 4 anos. Do período em que a doença foi descoberta até o transplante foram dois anos de idas e vindas ao hospital; na maior parte desse tempo ela ficou internada realizando diálise peritoneal.

O rim foi doado pela sua mãe. “No momento em que minha mãe soube que era possível doar o rim dela para mim, ela não pensou duas vezes, logo fez os exames necessários e passou no teste de compatibilidade”.

Karoline explica que o processo de encontrar um doador é muito mais rápido se um familiar se dispuser a doar, como foi seu caso. Segundo ela, a fila de espera é muito demorada porque não é só preciso ter quem doe e quem receba, é preciso ter compatibilidade. Por isso, Karoline ressalta a importância da doação de órgãos, que está na possibilidade de dar mais uma chance de vida a alguém, pois muitas vezes o transplante é a última saída de um paciente. Antes disso, são feitos diversos tratamentos e apenas em extrema necessidade é realizado o transplante.

Luiz Sergio Pedroso, de Irati, teve glomerulonefrite nos rins e precisou de um transplante. Entre o diagnóstico até a hemodiálise demorou cerca de seis anos; após isso ele fez nove meses de hemodiálise, três vezes na semana, quatro horas por dia na máquina.

Durante esses anos ele foi chamado ao hospital para transplantar, mas na hora não foi compatível. Luiz tem mais três irmãos, todos com o mesmo tipo sanguíneo que ele. “Meu irmão tinha 100% de compatibilidade, mas faleceu em um acidente de trânsito e não houve chance de aproveitar os órgãos”. Sua outra irmã, que tinha 50% de compatibilidade, tinha problemas no útero e teria que fazer cirurgia para depois realizar o transplante. Em conjunto com a médica, a decisão foi realizar exames para o transplante com a terceira irmã, que tinha 25% de compatibilidade, porém na semana que estavam fazendo os exames ele foi chamado para concorrer ao rim de um possível doador, e assim realizou o transplante em maio de 2014. Hoje, 10 anos após o transplante, Pedroso nunca teve problemas com a rejeição do órgão e faz exames a cada seis meses para monitorar, além dos cuidados com medicamentos e alimentação. Ele afirma que a doação é a última chance de sobrevivência de muitas pessoas. “Para os familiares do doador, ver as pessoas transplantadas e bem com os órgãos de seu ente querido costuma ser muito gratificante também”, acrescenta.

Pedroso considera que a doação de órgãos é um ato generoso que pode salvar até oito vidas e melhorar a qualidade de vida, porém existe uma escassez de doadores, por isso a conscientização é essencial. “A desinformação leva a muitas negações de órgãos, é importante que as pessoas conversem com seus familiares sobre o desejo de doar”, ressalta.

Incentivo às doações

Dados do Registro Brasileiro de Transplantes apontam que o Paraná possui a menor taxa de recusa familiar para doação do Brasil, com 27%, enquanto a média brasileira foi de 42%. O coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do Hospital Universitário (HU), Guilherme Arcaro, destaca a importância de que o desejo de ser doador seja compartilhado com a família em vida, visto que no Brasil a retirada de órgãos só pode ser realizada após a autorização familiar.

A falta de conhecimento sobre a doação de órgãos faz com que muitas famílias recusem a doação de órgão de um ente querido. Arcaro explica que muitas famílias têm dúvida sobre a declaração da morte encefálica (ME), pela confusão quanto ao estado vegetativo. “A ME é um diagnóstico irreversível de que não existe funcionamento no cérebro, enquanto no estado vegetativo, apesar de existir uma disfunção cerebral severa, existem indícios de funcionamento, que são detectáveis nos exames clínicos e complementares realizados durante a investigação da ME”.

Em Ponta Grossa, todos os hospitais devem ter Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante – CIHDOTTs instituídas, com composição de acordo com o número de óbitos ocorridos anualmente. “Os hospitais possuem profissionais que realizam diariamente busca ativa de pacientes em estado de coma arreativo ou déficit neurológico grave na busca pelo diagnóstico precoce de morte cerebral, procurando oportunizar às famílias a possibilidade de salvar vidas com o aceite da doação”, afirma o coordenador. Segundo ele, no Paraná existe um Sistema Estadual de Transplantes que trabalha em contato diário com as CIHDOTTs certificando que o processo de identificação de morte encefálica e as doações de órgãos ocorram sem imprevistos.”Nos últimos anos, o Paraná tem mantido este destaque, devemos isso também à solidariedade dos paranaenses”.

Sobre a doação entre vivos, Guilherme ressalta que ela só acontece se não representar nenhum problema de saúde para a pessoa que doa e que só podem ser doados órgãos duplos como o rim, ou partes de um órgão como pâncreas e fígado, ou ainda, tecidos como a medula óssea.

Pela legislação vigente, quem autoriza a doação em caso de morte encefálica é a família do cidadão. Além de deixar a família ciente do desejo de doar, também é possível manifestar sua vontade por meio de uma autorização eletrônica oficial que pode ser feita gratuitamente pelo site www.aedo.org.br.

Por meio desse sistema é possível escolher quais órgãos deseja doar. O documento passa por alguns processos para verificar a identidade do cidadão, como videoconferência e assinatura digital, e depois fica disponível para consulta pelo CPF do falecido, feita pelos responsáveis do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Realizada essa autorização, em caso de necessidade, o médico poderá acessar a declaração e apresentar o desejo do paciente em óbito para a família que, caso não saiba, fica ciente, o que facilita a tomada de decisão e a autorização da doação.

 

Por Amanda Grzebielucka e Pietra Gasparini

 

 

 

Sessões de cinema adaptadas a pessoas com espectro autista acontecem regularmente em Ponta Grossa

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Aos sábados, às 13 horas, são exibidos filmes de animação desde 2023

 

A realização de sessões para pessoas com Transtorno do Espectro Austista (TEA) começou no dia 2 de abril de 2023, data conhecida como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O Cine Araújo exibiu a primeira sessão em todas as suas filiais, que ao todo contabiliza 26 cidades de 10 estados do Brasil. 

A gerente da filial do Cine Araújo de Ponta Grossa, Bianca Macial Alves,  explica que as sessões acontecem uma vez por mês e que geralmente são animações, focando nas crianças. ‘’As sessões são feitas de luzes acesas, com as portas abertas, volume mais baixo e com o ar condicionado ligado em uma temperatura  que fique mais agradável para eles, além disso eles têm livre acesso na sala para andarem e trocar de lugar quando quiserem”. Bianca também relata que o cinema tem a intenção de aumentar o número de sessões adaptadas por mês.

As divulgações do dia em que acontecem a sessão adaptada são feitas através do instagram do Cine Araújo. As sessões acontecem no mesmo dia da semana e horário em todas as filias do cinema. 

O acadêmico de licenciatura em Ciências Biológicas Duncan Alfredo Urban, diagnosticado com TEA, não frequentou nenhuma sessão, porém conta o que acha dessa iniciativa do cinema adaptado: ‘’Iniciativa ótima em alguns pontos, como querer o bem estar e acolhimento desse público neurodivergente, além da segurança que pode passar para uma saída em família, muitas mães e pais se preocupam ao sair com seus filhos autistas”. 

Mesmo tendo muitos pontos positivos e a intenção de inclusão, ainda assim é difícil atender todas as necessidades que uma pessoa com TEA apresenta, pois o autismo tem diferentes graus e cada pessoa pode apresentar incômodos diferentes umas das outras. Para Duncan, alguns dos problemas estão na regulagem de luzes e sons e outros fatores sensoriais. 



            Por Ticyane Almeida e Maria Eduarda  Leme

O JORNALISMO NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL

 A proteção dos direitos das crianças, especialmente contra a violência sexual, foi o tema central de uma palestra realizada durante a 33ª Semana de Comunicação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A jornalista e pesquisadora Lynara Ojeda discutiu a importância da proteção dos direitos humanos, especialmente em relação a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

 

Nos últimos três anos, mais de 164 mil crianças e adolescentes foram vítimas de estupro no Brasil, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Desses casos, 38,3% envolvem jovens entre 10 e 14 anos, enquanto mais de 35% são registrados contra crianças de 0 a 9 anos. Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) revela que, em média, 38 meninas de até 14 anos se tornam mães diariamente.

 

Para Lynara, o jornalismo tem um papel crucial ao trazer à tona esses casos, mas precisa ser feito de maneira responsável e sensível. “A maneira como as histórias são contadas pode fazer a diferença para as vítimas e suas famílias”, destaca.

 

Segundo a palestrante, é essencial que os profissionais de comunicação tratem esses temas com empatia, garantindo o respeito à dignidade das crianças envolvidas. Ela também lembrou que a violência sexual, na maioria dos casos, acontece de forma silenciosa, por isso é importante que o jornalismo contribua para a conscientização e o combate a esse problema.

 

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que é dever da sociedade assegurar a proteção dos direitos das crianças. No entanto, a realidade mostra que ainda há um longo caminho a percorrer. De acordo com um levantamento do Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em 2023, 62% das crianças e adolescentes no Brasil viviam em situações de vulnerabilidade, o que evidencia a necessidade de políticas públicas mais eficazes e de uma maior conscientização social sobre os direitos da infância. 

 

Por Yasmin Salgado 

 

“This Ravenous Fate”: obra retrata luta pelos direitos humanos através da fantasia

A literatura de fantasia tem um papel fundamental na abordagem de questões sociais, funcionando como um espelho da realidade por meio de cenários e personagens fictícios. ‘This Ravenous Fate’, escrito por Hayley Dennings, vai além de uma história sobrenatural ao usar vampiros e caçadores como metáforas poderosas para discutir racismo, marginalização e direitos humanos. Situada no Harlem de 1926, a obra mergulha em um contexto histórico vibrante e repleto de tensões sociais, enquanto explora dilemas profundos por meio das trajetórias de suas protagonistas.

Autora Hayley Dennings segura cópias de seu livro. Foto: Reprodução

 

Em uma entrevista exclusiva, Dennings revelou como o racismo e a exclusão social foram as principais inspirações para a criação de sua obra. A transformação de Layla Quinn, uma das protagonistas, em Reaper — uma criatura que carrega semelhanças com vampiros — se torna a base de um conflito profundo com sua amiga de infância, Elise Saint, agora uma caçadora dedicada a proteger a cidade desses seres sobrenaturais. A trama explora não apenas as questões de poder e vulnerabilidade, mas também a criminalização de minorias, refletindo uma dura realidade que ainda persiste.

 

Fantasia como crítica social: Reapers como metáfora da marginalização

 

Em ‘This Ravenous Fate’, a autora constrói uma metáfora afiada com os Reapers, criaturas vistas como monstros pela sociedade dominante, mas que, na verdade, são vítimas de um sistema opressor. Em uma entrevista franca, Dennings explicou como se perguntou: “E se o racismo fosse visível como uma doença física?” Dessa inquietação surgiu a figura dos Reapers — seres marginalizados, perseguidos e considerados perigosos simplesmente por existirem. O livro estabelece um paralelo contundente com a criminalização de minorias na vida real, particularmente com o tratamento dado à população negra e pobre nos Estados Unidos e no Brasil.

 

Assim como os Reapers são caçados e temidos em Harlem, o cenário do livro reflete um período de tensões raciais e segregação. A ambientação na Era do Jazz e da Proibição adiciona uma camada histórica ao debate sobre exclusão e marginalização. Durante os anos 1920, Harlem florescia como o centro da cultura negra americana, mas também era marcado pela segregação e pelo racismo institucionalizado. Dennings explora esse contexto com maestria, mostrando como as questões raciais da época influenciam diretamente os acontecimentos da trama.

 

No Brasil, a criminalização de minorias também encontra ecos no livro de Dennings. O tratamento violento dado às favelas e à população negra, muitas vezes vista como culpada por crimes que não cometeu, tem paralelos diretos com a perseguição aos Reapers. A marginalização sistêmica discutida em ‘This Ravenous Fate’ é uma realidade compartilhada por muitos brasileiros, especialmente em comunidades periféricas.

 

Complexidade de personagens: Interseccionalidade e identidade

 

Um dos aspectos mais fortes da narrativa de Dennings é o desenvolvimento das personagens principais. Elise Saint e Layla Quinn não são meras arquétipos de heroína e vilã. Ao invés disso, Dennings constrói personagens com camadas profundas, que enfrentam dilemas morais e emocionais complexos. Elise, pertencente a uma família renomada por caçar Reapers, lida com uma lealdade dividida e o peso de ser a protetora de uma cidade mergulhada em violência. Layla, por outro lado, personifica a figura da excluída, mas sua condição de Reaper não a define como uma vilã unidimensional. Ela mantém sua humanidade, e sua transformação se torna uma metáfora para o trauma e a exclusão social.

 

Dennings também aborda de forma habilidosa a interseccionalidade. A personagem de Layla é uma jovem negra e queer, enfrentando múltiplas formas de opressão. Essa construção ecoa as lutas de muitas mulheres negras e LGBTQIAP+ na vida real, que se veem marginalizadas não apenas por sua raça, mas também por sua identidade de gênero e orientação sexual. No Brasil, essa realidade é particularmente evidente no trabalho de ativistas como Djamila Ribeiro, que discute a importância de entender a intersecção de diferentes formas de opressão para construir uma sociedade mais justa.

 

A relação entre Elise e Layla, além de ser o centro do conflito sobrenatural, também explora uma dinâmica romântica. O trope de “inimigas a amantes” é habilmente utilizado, dando à narrativa uma tensão emocional e afetiva que transcende o simples embate entre caçadora e criatura. Esse romance, em um contexto de desconfiança e ressentimento, contribui para o crescimento das personagens e oferece um contraponto ao horror e à ação da trama.

 

Racismo, empatia e justiça social: Temas contemporâneos no Harlem dos anos 1920

 

‘This Ravenous Fate’ faz uma crítica direta às estruturas de poder que perpetuam a marginalização. A perseguição aos Reapers não se limita à luta física, mas representa também a desumanização sofrida por minorias ao longo da história. Ao ambientar a história em Harlem durante a Era do Jazz, a escritora coloca em primeiro plano as questões sociais daquele período, como a segregação racial e a criminalização dos negros, ampliando a discussão para o cenário contemporâneo.

 

Um ponto fundamental da narrativa é a relação entre empatia e justiça. Em sua entrevista, ela refletiu sobre como, tanto no mundo real quanto no universo de ‘This Ravenous Fate’, a falta de empatia contribui para a perpetuação da opressão. “Se você começa a ver alguém como humano, você não vai querer oprimi-lo”, afirmou. A caçada aos Reapers é um reflexo da falta de empatia por parte de uma sociedade que, ao desumanizar certos grupos, legitima sua própria violência.

 

No Brasil, a violência policial contra comunidades periféricas e negras é um lembrete constante da desumanização institucionalizada. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no país, muitas vezes em ações policiais desproporcionais. A brutalidade nas operações nas favelas, como a que ocorreu no Jacarezinho, no Rio de Janeiro, em maio de 2021, resultando na morte de 28 pessoas, é um exemplo trágico da criminalização sistêmica que ‘This Ravenous Fate’ espelha de maneira simbólica em sua narrativa, ao explorar temas de opressão e marginalização.

 

O poder da fantasia como crítica social

 

Ao discutir o impacto da fantasia na abordagem de temas como direitos humanos e racismo, a escritora comparou o gênero a um “bolo com vegetais escondidos”, sugerindo que a fantasia pode entreter enquanto carrega mensagens importantes sobre a realidade. ‘This Ravenous Fate’ exemplifica essa ideia, equilibrando elementos sobrenaturais com uma crítica social afiada. A narrativa envolve o leitor ao mesmo tempo em que o desafia a refletir sobre questões como marginalização e empatia.

 

A trama, que se desenrola em torno de uma série de assassinatos e da transformação dos Reapers em semi-humanos, é repleta de tensão e mistério. Apesar de alguns leitores apontarem que a segunda metade do livro desacelera um pouco, focando mais no desenvolvimento das personagens do que na resolução do enredo, a profundidade emocional e a complexidade das questões abordadas mantêm a leitura envolvente.

 

Uma obra para refletir e se apaixonar

 

‘This Ravenous Fate’ é mais do que uma narrativa de fantasia sobrenatural. É uma obra que utiliza o imaginário fantástico para fazer uma crítica contundente à marginalização e ao racismo. Ao construir personagens como Elise e Layla, Dennings desafia as noções tradicionais de heroísmo e vilania, criando um espaço para discussões sobre empatia, identidade e justiça social.

 

A ambientação rica em detalhes históricos e a trama repleta de tensão emocional garantem que a obra se destaque tanto para os fãs de fantasia quanto para aqueles que buscam uma leitura mais profunda e socialmente engajada. A criadora entrega uma história que, embora cheia de monstros e batalhas sobrenaturais, nos lembra que os verdadeiros horrores muitas vezes estão ancorados nas estruturas de poder e opressão que moldam nosso mundo.

 

‘This Ravenous Fate’ é, sem dúvida, uma estreia promissora, e deixa os leitores ansiosos para ver como a autora continuará a desenvolver essa história complexa no próximo e último volume da duologia.

Por Maria Gallinea