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Vozes silenciadas: a luta contra a misoginia e ódio nas redes sociais

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Palestra de abertura do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade discutiu sobre como as mulheres e grupos minorizados são vítimas de ataques digitais e as formas de resistência neste cenário

Palestrantes do painel de abertura do  9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Foto: Maria Gallinea

Nesta quinta-feira (03), o painel “Misoginia e discursos de ódio no ambiente das redes” marcou o início do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Com o tema “Corpos sob ataque: misoginia, racismo e violência a grupos minorizados nas redes”, o evento reúne apresentações de painéis, trabalhos acadêmicos apresentados em modalidades online e presencial, e oficinas. A programação presencial está sendo realizada exclusivamente na sede central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A palestra de abertura foi mediada pela professora Karina Janz Woitowicz, docente do curso de Jornalismo da UEPG, e contou com a participação das palestrantes Lola Aronovich, professora universitária, pedagoga, blogueira e ativista feminista; Zilda Mara Consalter, professora do curso de Direito da UEPG e autora do livro “Direito ao Esquecimento: Proteção da Intimidade e Ambiente Virtual”; e Eloni dos Santos Perin, professora da rede estadual de ensino do Paraná e doutora em Gestão da Informação.

Apesar das formações acadêmicas e profissionais diversas, as palestrantes convergiram em um ponto crucial: a crescente onda de misoginia nas redes sociais digitais têm impactos profundos na qualidade de vida das mulheres e de grupos minorizados, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Os ataques digitais direcionados a essas mulheres, muitas vezes baseados em ódio e desinformação, geram consequências devastadoras, afetando desde a saúde mental até a integridade física e emocional das vítimas.

Durante a mesa de debates, Lola Aronovich destacou como as redes sociais, em um contexto de crescente polarização e falta de moderação eficaz, funcionam como  terreno fértil para o espalhamento de discursos de ódio. “A gente tem que continuar lutando, não pode se render a eles, a gente sempre incomodou e a gente ficou exausta!”, afirmou Lola, fazendo referência ao impacto dos governos que violentam as minorias. Para ela, a misoginia digital é uma forma de violência estrutural que perpetua desigualdades históricas e fragiliza as conquistas sociais das mulheres.

Zilda Mara Consalter, por sua vez, enfatizou a importância do “direito ao esquecimento” como um mecanismo de proteção da intimidade no ambiente virtual. “O direito ao esquecimento é um direito para o futuro, para que lá na frente, possamos ter controle sobre o que diz respeito apenas sobre nós, e está na rede violando nossos direitos pessoais”, explicou. Zilda também apontou a maneira como as redes sociais amplificam os danos causados por ataques: “As redes visibilizam e potencializam as ofensas!”. Ela defendeu, ainda, que a legislação brasileira seja mais rígida em relação à responsabilização das plataformas digitais por permitir que conteúdos abusivos circulem sem o devido controle.

Eloni dos Santos Perin trouxe para a discussão o impacto da misoginia digital sobre mulheres periféricas e negras. Ela apontou como as interseções entre gênero, raça e classe social geram um cenário ainda mais desafiador para mulheres que, além de enfrentarem o machismo, são alvos de racismo e discriminação. “Existem influencers que se autodeclaram misóginos, isso é muito perigoso, porque eles servem como modelo para outros”, disse Eloni, alertando sobre a influência de figuras públicas na propagação de discursos de ódio. “A resistência precisa ser estratégica, e as mulheres precisam estar empoderadas com informações que as ajudem a lidar com os ataques. Isso envolve desde a educação digital até o fortalecimento de redes de apoio e iniciativas políticas que combatam a violência de gênero”, argumentou.

A reflexão sobre as formas de resistência foi central no painel. Karina Janz Woitowicz, mediadora do debate, trouxe à tona a importância da conscientização coletiva e do ativismo digital como ferramentas poderosas para a resistência. “Não basta apenas denunciar os ataques, é preciso mobilizar a sociedade e pressionar as plataformas para que adotem práticas mais rigorosas contra discursos de ódio e misoginia”, afirmou.

O 9º Colóquio Mulheres e Sociedade segue com sua programação até a sexta-feira (4), reunindo acadêmicas, ativistas e profissionais que compartilham o compromisso com a luta pela igualdade de gênero e contra a violência nas redes sociais digitais.

Texto por Malu Dip e Maria Gallinea

Vozes silenciadas: a luta contra a misoginia e ódio nas redes sociais

Palestra de abertura do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade discutiu sobre como as mulheres e grupos minorizados são vítimas de ataques digitais e as formas de resistência neste cenário

Palestrantes do painel de abertura do  9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Foto: Maria Gallinea

Nesta quinta-feira (03), o painel “Misoginia e discursos de ódio no ambiente das redes” marcou o início do 9º Colóquio Mulheres e Sociedade. Com o tema “Corpos sob ataque: misoginia, racismo e violência a grupos minorizados nas redes”, o evento reúne apresentações de painéis, trabalhos acadêmicos apresentados em modalidades online e presencial, e oficinas. A programação presencial está sendo realizada exclusivamente na sede central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A palestra de abertura foi mediada pela professora Karina Janz Woitowicz, docente do curso de Jornalismo da UEPG, e contou com a participação das palestrantes Lola Aronovich, professora universitária, pedagoga, blogueira e ativista feminista; Zilda Mara Consalter, professora do curso de Direito da UEPG e autora do livro “Direito ao Esquecimento: Proteção da Intimidade e Ambiente Virtual”; e Eloni dos Santos Perin, professora da rede estadual de ensino do Paraná e doutora em Gestão da Informação.

Apesar das formações acadêmicas e profissionais diversas, as palestrantes convergiram em um ponto crucial: a crescente onda de misoginia nas redes sociais digitais têm impactos profundos na qualidade de vida das mulheres e de grupos minorizados, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Os ataques digitais direcionados a essas mulheres, muitas vezes baseados em ódio e desinformação, geram consequências devastadoras, afetando desde a saúde mental até a integridade física e emocional das vítimas.

Durante a mesa de debates, Lola Aronovich destacou como as redes sociais, em um contexto de crescente polarização e falta de moderação eficaz, funcionam como  terreno fértil para o espalhamento de discursos de ódio. “A gente tem que continuar lutando, não pode se render a eles, a gente sempre incomodou e a gente ficou exausta!”, afirmou Lola, fazendo referência ao impacto dos governos que violentam as minorias. Para ela, a misoginia digital é uma forma de violência estrutural que perpetua desigualdades históricas e fragiliza as conquistas sociais das mulheres.

Zilda Mara Consalter, por sua vez, enfatizou a importância do “direito ao esquecimento” como um mecanismo de proteção da intimidade no ambiente virtual. “O direito ao esquecimento é um direito para o futuro, para que lá na frente, possamos ter controle sobre o que diz respeito apenas sobre nós, e está na rede violando nossos direitos pessoais”, explicou. Zilda também apontou a maneira como as redes sociais amplificam os danos causados por ataques: “As redes visibilizam e potencializam as ofensas!”. Ela defendeu, ainda, que a legislação brasileira seja mais rígida em relação à responsabilização das plataformas digitais por permitir que conteúdos abusivos circulem sem o devido controle.

Eloni dos Santos Perin trouxe para a discussão o impacto da misoginia digital sobre mulheres periféricas e negras. Ela apontou como as interseções entre gênero, raça e classe social geram um cenário ainda mais desafiador para mulheres que, além de enfrentarem o machismo, são alvos de racismo e discriminação. “Existem influencers que se autodeclaram misóginos, isso é muito perigoso, porque eles servem como modelo para outros”, disse Eloni, alertando sobre a influência de figuras públicas na propagação de discursos de ódio. “A resistência precisa ser estratégica, e as mulheres precisam estar empoderadas com informações que as ajudem a lidar com os ataques. Isso envolve desde a educação digital até o fortalecimento de redes de apoio e iniciativas políticas que combatam a violência de gênero”, argumentou.

A reflexão sobre as formas de resistência foi central no painel. Karina Janz Woitowicz, mediadora do debate, trouxe à tona a importância da conscientização coletiva e do ativismo digital como ferramentas poderosas para a resistência. “Não basta apenas denunciar os ataques, é preciso mobilizar a sociedade e pressionar as plataformas para que adotem práticas mais rigorosas contra discursos de ódio e misoginia”, afirmou.

O 9º Colóquio Mulheres e Sociedade segue com sua programação até a sexta-feira (4), reunindo acadêmicas, ativistas e profissionais que compartilham o compromisso com a luta pela igualdade de gênero e contra a violência nas redes sociais digitais.

Texto por Malu Dip e Maria Gallinea

Palestra do VI Ciclo Descomemorar Golpes discutiu a ausência do ensino sobre a ditadura militar nas escolas

No dia 01 de abril, aconteceu mais uma etapa do evento VI Ciclo Descomemorar Golpes. A palestra “Ensinar História na e sobre a ditadura militar: desafios do passado e presente” aconteceu de forma online e foi transmitida através do canal no Youtube “Formação de Professores (as) e Ensino de História”. Os palestrantes convidados foram a Profa. Dra. Carla Conradi, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), e o Prof. Dr. Carlos Augusto Lima Ferreira, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Eles discutiram sobre as questões que envolvem a formação dos professores e alunos em relação à ditadura

A conferência foi organizada pelo Mestrado Profissional de Ensino de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e pela Associação Nacional dos Professores Universitário de História (ANPUH). O responsável pela mediação foi Prof. Dr. Paulo de Mello, da UEPG. 

Carla Conradi começou falando sobre a historiadora Déa Fenelon, que questionou a forma como os professores de História eram ensinados a falar sobre a ditadura após a redemocratização. Segundo Carla, naquele tempo, poucos cursos recorriam à prática da investigação, que aproximava os alunos do contexto social e político. Déa considerou a pesquisa como crucial nas disciplinas de História por entender que é através dela que se constrói o hoje e o futuro. 

A professora também comentou sobre a necessidade de pensar um ensino sobre a ditadura militar e as resistências no Paraná. Para ela, é preciso que existam condições de se ter uma história do Paraná que seja acessível ao ensino, e que há diferentes pesquisadores, fontes e referenciais teóricos que constituem esse contexto da memória no estado. “Dentro das universidades, têm evidenciado cada vez mais uma história do quanto a ditadura aqui no Paraná foi conservadora e violenta”, comentou Carla. 

Para a pesquisadora, pouco das pesquisas que são produzidas nas universidades chegam até os materiais didáticos das escolas. Ela acredita ainda que há evidências de que existe um policiamento sobre as posturas e condutas de ensino no período da ditadura militar. 

A construção de usinas hidrelétricas na ditadura foi um dos assuntos iniciais comentados pelo pesquisador Carlos Ferreira. Ele explicou que o financiamento das usinas afetaram diversos grupos sociais em razão de interesses econômicos e fundiários. A violação dos direitos que esses grupos tiveram não é comentada no ensino ou na mídia. “Isso é um tempo de fratura que a gente não problematiza e não traz para o ensino de História”, abordou o professor. 

 A glorificação da memória militar também foi um tema mencionado. No tempo da ditadura, o ensino se baseava na adoração do Estado autoritário e na narrativa das figuras dos militares como “heróis nacionais”. Nas pesquisas desenvolvidas, Carlos Ferreira observou que há ausências de análises desse período nos livros didáticos, e que são raros os que problematizam a partir da imagem da construção dessa história imposta. 

Por Bruna Sluzala

50 trabalhos científicos serão apresentados no 9º Colóquio Mulheres e Sociedade

O 9º Colóquio Mulheres e Sociedade contará com a apresentação de 50 trabalhos científicos na próxima quinta e sexta-feira (3 e 4 de abril). Neste ano, o Colóquio tem como tema “Corpos sob ataque: misoginia, racismo e violências a grupos minorizados nas redes” e ocorrerá no campus Central da UEPG.

O evento é interdisciplinar e tem como foco estudos de gênero. As apresentações ocorrerão de forma híbrida, tanto no campus Central da UEPG quanto por meio do Google Meet. Os trabalhos serão agrupados em sessões de apresentação de acordo com a proximidade conceitual ou temática. Confira abaixo a programação.

Sessões presenciais – 03/04 (quinta-feira):

14h: Sessão 1 – Violência de Gênero e Desafios na Comunicação Digital – Sala B-108

16h: Sessão 2 – Vozes e Narrativas no Jornalismo: Representatividade e Pluralidade – Sala B-108

14h: Sessão 3 – Representações e Narrativas Midiáticas: Olhares sobre Gênero e Cultura – Sala D-103

16h: Sessão 4 – Política, Direitos e Representação – Sala D-103

16h: Sessão 6 – Tecnologias Digitais e Gênero: Inovação, Narrativas e Desafios – Sala D-110

14h: Sessão 5 – Conhecimento, Educação e Perspectivas de Gênero – Sala D-110

Sessões remotas – 04/04 (sexta-feira):

14h: Sessão 1 – Gênero, Política e Representação Midiática (Google Meet – link disponível em breve)

16h: Sessão 2 – Gênero, Política e Representação Midiática

14h: Sessão 3 – Jornalismo, Diversidade e Interseccionalidade (Google Meet – link disponível em breve)

16h: Sessão 4 – Jornalismo, Diversidade e Interseccionalidade

A programação completa, com os títulos dos trabalhos de cada sessão, pode ser consultada aqui. As inscrições são gratuitas para apresentadoras(es) de trabalho e ouvintes e devem ser feitas previamente pelo site do evento. O controle de frequência será realizado por meio de assinatura nas listas disponibilizadas para cada atividade da programação (painéis, sessões de apresentação de trabalhos e oficinas). Os certificados de participação e de apresentação de trabalho serão disponibilizados pelo site da Pró-Reitoria de Extensão.

O evento é promovido pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Gênero, pelo projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, pelo Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e pelo Departamento de Jornalismo da UEPG, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, e conta com o apoio da Rede Antonietas (SBPJor).

Por Pietra Gasparini

 

Plenária discute violência contra mulher e racismo religioso nas escolas

Especialistas em pautas raciais, líderes religiosos, autoridades policiais e estudantes participam da plenária “Um Novo Caminho é Possível” 

Na sexta-feira (21), foi realizada a Plenária “Um Novo Caminho é Possível” para marcar o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e o Mês da Mulher. O evento contou com três mesas de debates que abordaram os temas de violência contra a mulher, racismo religioso e nas escolas. Especialistas em pautas raciais, líderes religiosos, autoridades policiais e estudantes participaram das discussões. 

Violência contra a mulher

Mesa de violência contra a mulher com integrantes Dra Marcela Godoy, Dr Antonio Bispo, Dra Ana Paula e Delegada Cláudia Kruger respectivamente. Foto por Milena Leal

A primeira mesa foi mediada pela delegada chefe, Ana Paula, do Núcleo de Proteção à Criança e a Adolescentes Vítimas de Crimes (NUCRIA). Participaram também a Marcela T. Godoy, professora de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a delegada da Delegacia da Mulher em Ponta Grossa, Claudia Kruger, e o delegado da Polícia Civil do Paraná, Antonio Bispo. 

De acordo com o Relatório CEVID – Medidas Protetivas de Urgência 2024, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), Ponta Grossa registrou 1490 pedidos de medidas protetivas. Outras cidades com porte semelhante, como Maringá e Londrina,  tiveram 968 e 1210 pedidos. No âmbito de medidas cautelares (como pedidos de prisão e busca e apreensão), Ponta Grossa teve 92 solicitações,  Maringá  20 e Londrina 51. 

Para a Kruger, esses números demonstram que as medidas de enfrentamento são insuficientes para combater problemas enraizados na sociedade, como questões culturais, emocionais e psíquicas. “Ainda temos uma educação com viés machista e sexista. Existem questões emocionais como dependências afetivas e sentimentos de posse, além das questões psíquicas que frequentemente não são admitidas pelas pessoas, e quando são, muitas não têm condições para manter o tratamento”, analisa.

A delegada também destacou as limitações das atividades preventivas, que frequentemente se concentram apenas em relacionamentos amorosos.  Segundo ela, são os casos que mais ocorrem, porém há  outros tipos de relações que também estão inseridos no contexto da violência . “Um dos feminicídios que mais me marcou, no ano passado, foi de um filho que, em surto, matou a própria mãe. Quando se tem atividade preventiva diante de um quadro deste? Então, vejo mães reféns dos filhos e famílias reféns dessas situações”, relata Kurger. 

Em concordância, a professora Marcela Godoy, aponta que assim como estas questões culturais são construídas também podem ser desconstruídas. Para ela, é fundamental debater a violência contra mulher levando em conta a interseccionalidade, pois considera questões como: “Que mulher é essa? Qual a classe social e raça? Muitas vezes  as mulheres negras e indígenas são excluídas desses debates. E a partir do momento que não consideramos todas as mulheres, nosso enfrentamento se torna elitista e eletivo.” 

A professora também explica outras formas de violência veladas, que normalmente não são abordadas. São estas: 

  • Violência obstétrica: Ocorre no contexto da assistência ao parto ou período perinatal, caracterizado por práticas abusivas, inadequadas ou desrespeitosas por parte do profissional da saúde em relação às mulheres grávidas, parturientes e puérperas. 
  • Sobrecarga de trabalho e laboral: Pode ocorrer de várias formas, incluindo assédio verbal, moral e/ou físico.  
  • Política: Qualquer ação que dificulte o exercício da política por mulheres, seja como candidata ou eleita. 
  • Bropriating: Refere-se à apropriação de ideias ou contribuições das mulheres por homens, que depois apresentam como se fossem suas.

Em casos nos quais a Lei Maria da Penha não se aplica, a Delegacia da Mulher não é responsável pela investigação, explica o delegado Antônio Godoy. Ou seja, quando não há a conotação e a situação de vulnerabilidade da mulher. Além disso, se a violência sexual envolver uma adolescente no momento do registro, o caso é encaminhado ao NUCRIA. Godoy ressalta que a Delegacia da Mulher não consegue se comunicar diretamente com a Vara da Infância e Juventude. Portanto, quando o infrator é um adolescente, o caso fica sob responsabilidade do Centro de Socioeducação Regional de Ponta Grossa.

Durante a plenária, também houve a exposição ‘O que você estava vestindo?’ da professora Marcela Godoy. A mostra teve como objetivo desmistificar a ideia de que as roupas das vitimas influenciam a ocorrência da agressão sexual. 

Racismo nas escolas

Mesa de Racismo nas escolas com integrantes Delegado Fernando Vieira, Dr José Luiz e Dr José Sebastião da direita para a esquerda respectivamente. Foto por Milena Leal   

A segunda mesa foi mediada pelo  presidente fundador do instituto Sorriso Negro e Doutor Honoris Causa pela Ordem dos Capelães do Brasil (OCB), José Luiz Teixeira. Os debatedores foram o Delegado chefe da Delegacia do Adolescente de Ponta Grossa, Fernando Vieira, e o Corregedor-geral da Seccional do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Jorge Sebastião.

De acordo com a Lei 7.769/1989, o racismo é considerado crime no Brasil. No entanto, Sebastião argumenta que o sistema judiciário brasileiro carece de planejamento legislativo, o que resulta na desorganização e falta de eficiência regulamentadora. Segundo ele, a lei não resolve tudo e ainda não consegue abordar todas as temáticas necessárias, contudo, sua falta também é prejudicial para a população, visto que deixa a sociedade incapacitada de acessar a justiça.

O corregedor também ressalta a deficiência punitiva perante a injúria racial. Segundo ele, a lei diverge do racismo e recebe um tratamento mais brando, apesar de ser o tipo de crime de teor racial mais incidente na sociedade.

 De acordo com os informes do delegado Fernando Vieira, em parceria com o Instituto Sorriso Negro, foram registrados 27 boletins de ocorrencias em Ponta Grossa, envolvendo adolescentes em casos de injuria racial. “Temos conhecimento da imensa subnotificação desses casos. Temos plena consciência de que é ‘passado pano’ em situações de racismo e de injúria racial por diversas razões “, diz o delegado. Esta subnotificação pode estar ligada à descrença das vítimas em relação à resposta da Justiça e à aflição de reviver a dor do que passou ao sofrer o crime.

Segundo ele, os casos se enquadram no conceito de racismo recreativo, que se caracteriza como uma forma velada de opressão racial disfarçada de humor, utilizando piadas e brincadeiras para perpetuar estereótipos raciais. Fernando relata o caso que o fez conhecer o Instituto Sorriso Negro. De acordo com ele, essa ocorrência se deu por injúria racial, no qual, após uma aula a respeito da escravidão africana no Brasil, um aluno chamou o outro de ‘escravo’. Mais tarde, a vítima disse não se importar com a injúria cometida o que, segundo o delegado, caracteriza uma reação de autopreservação, visto que no que diz respeito a injúria racial, a lei ainda é falha e provoca nos alvos dessa violência velada o sentimento de ‘ser mais fácil aceitar’.

O delegado também informa que a Delegacia do Adolescente de Ponta Grossa responde aos casos de racismo em três instâncias:

  • Medidas Preventivas: Focadas em manter canais de comunicação com as escolas,  principalmente por meio de palestras educativas.
  • Medidas Objetivas: Destinadas a reduzir a subnotificaçao ao promover integraçao entre a policia e a sociedade civil organizada, como o Instituto Sorriso Negro, além da capacitação de profissionais envolvidos.
  • Medidas Repressivas: Voltadas a punição do infrator.

Racismo religioso

Mesa de Racismo Religioso  com os integrantes Dra Patrícia Giardini, Dr Ali Mustapha e Rafael Miranda da esquerda para a direita respectivamente. Foto por Milena Leal

A última mesa contou com a participação dos líderes religiosos Rafael Miranda de Almeida e  Ali Mustapha Ataya, e foi mediada pela advogada Patrícia Giardini. 

Durante a palestra, a Giardini, destacou que o racismo religioso se caracteriza pela discriminação ou preconceito contra pessoas que seguem religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé. Pode se manifestar através de insultos, tratamentos desiguais e exclusão social, além de práticas violentas que expressam ódio e discriminação contra as comunidades tradicionais e seus territórios sagrados. 

A Lei nº 14.532, sancionada em 11 de janeiro de 2023, foi um ponto central da sessão. De acordo com a advogada, a nova legislação tipifica o racismo religioso como crime no Brasil e altera a Lei nº 7.716, de 1989 (Lei do Crime Racial), e o Decreto-Lei nº 2.848, de 1940 (Código Penal). As penalidades para as práticas desse crime variam de dois a cinco anos de reclusão, além de punições específicas para injúria racial e penalidades adicionais para funcionários públicos envolvidos em atos discriminatórios. 

 Ali Mustapha compartilhou sua experiência como vítima de racismo religioso, enfatizando que o Islã no Brasil possui raízes africanas, originando-se da população negra muçulmana trazida durante o período da escravidão. 

 O líder religioso descreveu o Islã como uma fé cercada por desinformação e estereótipos negativos. “Ser muçulmano no Brasil é muitas vezes ser tratado como estrangeiro dentro da própria terra. É ver seu nome, sua aparência e sua fé sendo constantemente questionados, ridicularizados e associados a violencia”, expõe. 

Mustapha também relata que durante a ditadura e o nacionalismo exacerbado, o preconceito era etnico. Porém, após o atentado de 11 de setembro, esse preconceito passou a ter uma conotação religiosa, que associa o islamismo ao terrorismo, e resulta na inviabilização e preconceito ainda maior. 

Rafael Miranda também aborda a inviabilização do racismo. Segundo ele, existe uma tentativa histórica de embranquecimento da Umbanda, que levou a classificação dos espíritos por um viés racial. “Nessa classificação, quanto mais branco, mais evoluído e quanto mais preto, menos evoluído. Atualmente, lutamos para descolonizar essa visão “, diz Miranda.

A sessão plenária foi idealizada e sediada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de Ponta Grossa e pelo Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais. O evento também contou com apresentações musicais do grupo “UmBatuque”, do Terreiro de Umbanda Caboclos da Lei. 

Por Karen Stinsky e Milena Leal

Glaucia Staveski: uma jornada de cura e superação contra a endometriose

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De acordo com informações do Ministério da Saúde, estima-se que 8 milhões de mulheres possuem endometriose no Brasil. Infográfico por Ester Roloff e Malu Garcez Dip.

No Brasil, em média, uma a cada 10 mulheres sofre com os sintomas da endometriose, de acordo com o Ministério da Saúde. A endometriose é uma doença ginecológica facilmente camuflada no ciclo menstrual e que, se não tratada, pode levar a complicações graves. A ex-enfermeira, Glaucia Staveski, conta como foi a descoberta de que tinha a doença, dos sintomas e dos desafios, até o momento de sua cura. Veja a história completa abaixo.

Glaucia Staveski, de 50 anos, trabalha com acupuntura, massoterapia e medicina oriental. Desde sempre dedicou-se a cuidar de outras vidas. Porém, perto de seus 40 anos se deparou em uma situação onde sua própria saúde precisaria ser o foco de sua vida. Glaucia foi ao médico realizar exames preventivos para ver se estava saudável, pois desejava engravidar novamente. Através deles descobriu que tinha ovário policístico, mas isso não a fez desistir de seu sonho e logo iniciou o tratamento à base de medicação.

Depois de um tempo descobriu que somente o uso dos remédios não estava mais ajudando e seria necessário fazer uma cirurgia para retirar o ovário com o cisto. No processo da cirurgia, a médica responsável analisou e viu que além do ovário policístico Glaucia tinha também um quadro avançado de endometriose. Foi uma surpresa para a paciente, pois ela nunca tinha apresentado nenhum dos sintomas típicos da doença. 

As duas doenças de Glaucia só foram descobertas por causa dos exames de rotina. “Eu não tive nenhum sintoma que chamasse minha atenção, por isso que foi muito importante fazer os exames preventivos. Sem eles eu não teria descoberto que tinha endometriose, pois eu não apresentava sintoma nenhum e talvez quando eu descobrisse já fosse tarde demais”, ressalta. Destaca também que fez os exames no momento certo, porque quando seu ovário foi enviado para biópsia foi descoberto que seu quadro estava quase se tornando um câncer.

Assim como qualquer outra pessoa que passa por alguma doença ou cirurgia, a vida de Glaucia também mudou. Por ter tirado os dois ovários acabou entrando na menopausa cirúrgica. “Eu entrei na menopausa muito cedo, tinha só 41 anos, e por isso tive que fazer tratamento hormonal durante quase dez anos. É difícil  todo dia ter que tomar comprimido, além de que sei que hormônios podem dar efeitos colaterais, então não são muito bons para a saúde”, comenta dos impactos pós-cirurgia. Ela também lamenta que nunca conseguiu ter mais filhos como queria inicialmente, mas fica grata por ter tido pelo menos uma criança antes da doença. 

Glaucia, antes de trabalhar com medicina oriental, foi enfermeira chefe da maternidade da Santa Casa de Ponta Grossa durante anos. Ela conta que geralmente a endometriose é uma doença silenciosa, que apresenta sintomas semelhantes aos do ciclo menstrual das mulheres, então muitas vezes a maioria não suspeita que é uma doença e acaba não tratando. Glaucia relata ainda que mesmo vendo muitas doenças e situações complicadas no seu dia-a-dia nunca tinha imaginado que poderia ser a próxima vítima. Ela fala que não é incomum que profissionais da saúde passem muito tempo cuidando do bem-estar dos outros e acabem esquecendo da própria saúde. 

 Glaucia destaca que mesmo que os exames sejam desconfortáveis eles são indispensáveis para a saúde de qualquer mulher. Além disso, a acupunturista diz que apesar de não ser um tema muito valorizado pela medicina brasileira, acredita que a questão emocional também seja uma forte contribuinte para a formação de tumores e de problemas de saúde. “Eu desenvolvi a doença depois que perdi meu marido e, a tristeza fez com que minha imunidade baixasse, o que torna mais propício o desenvolvimento de algumas doenças de acordo com a medicina oriental”, explica. Relembra que inicialmente ficou assustada, principalmente durante o período pré diagnóstico. “A endometriose é uma doença que apesar de assustar, tem cura e é possível viver com qualidade de vida depois do tratamento, inclusive depois de retirar o útero ou o ovário”, finaliza Glaucia de forma tranquila e encorajadora. 

Para tratar e combater a doença é importante fazer regularmente os exames de rotina, cerca de uma vez a cada um ou dois anos. A doença pode se desenvolver em adolescentes e, raramente, em meninas mais jovens, porém a idade média de diagnóstico é de 28 anos. Se você está com suspeita da doença, busque um médico especializado em ginecologia através da rede pública de saúde para fazer os exames.

Texto por Ester Roloff e Malu Garcez Dip

Sanepar não cumpre prazo para reabastecimento de água e pede estado de calamidade pública em PG

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A cidade enfrenta racionamento de água desde fevereiro e situação se agrava em março

 

A representação da Sanepar durante a Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) realizada na tarde de quinta-feira (20)  pede para que a prefeita Elizabeth Schmidt (União) decrete estado de calamidade pública em decorrência da falta de água na cidade. Outro motivo seria a companhia não conseguir estabelecer um prazo para a normalização.

Além da crise hídrica, a Sanepar justifica o desabastecimento em decorrência da nova captação na adutora do Rio Pitangui. A promessa é que a obra irá acrescentar em 15% na capacidade de abastecimento local, porém não há previsão de conclusão da captação. O prazo atual para o reabastecimento era de 20 dias, que iniciou no dia 19 de fevereiro tendo por fim no dia 11 de março.

  A escassez tem causado sequelas em todas as esferas da cidade, públicas e privadas, como residências, pequeno comércio, escolas e serviços de urgência como hospitais. A técnica de enfermagem Daniele Sobrado, que trabalha na maternidade de um hospital privado em Ponta Grossa, relata alguns problemas que a falta de água provocou.“Os pacientes não podiam tomar banho, porque a água não tinha pressão e não esquentava os chuveiros. Para dar banho nos recém-nascidos foi preciso esquentar água na chaleira elétrica” expõe.

Já no setor comercial, alguns pequenos empreendedores suspenderam suas atividades, o que é o caso de Talita de Almeida, proprietária de salão de beleza na vila Canaã no bairro Contorno. “Nas últimas quatro semanas, nós não pudemos atender três semanas devido à falta de água”. Talita explica ainda que não consegue realizar nenhum procedimento em suas clientes com a falta de água.

Nas instituições de ensino não foi diferente. Escolas municipais e estaduais e universidades tiveram as aulas canceladas, dependendo do bairro por mais de dois dias. A acadêmica do terceiro ano do curso de Direito da UEPG, Maria Eduarda Francisco comenta sua irritação com a situação. “É um estado crítico, deplorável e desumano. Os pontagrossenses precisam de uma explicação cabível, de orientações verídicas e não temer se terão água para beber, cozinhar ou tomar banho”.

Na terça-feira (18), moradores reuniram-se em frente à sede da Sanepar para realizar ato cívico, em protesto ao desabastecimento de água na cidade. Uma das organizadoras e manifestante Raquel Ribeiro afirma que o protesto surtiu efeitos positivos para a cidade. “Conseguimos com que a água voltasse antes mesmo da data prevista. Mas, não deram conta de manter o compromisso”, argumenta.

A equipe de reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sanepar, via email institucional, para esclarecer dúvidas e ter um posicionamento oficial da empresa, porém não obtivemos resposta até o presente momento de publicação desta matéria.

 

O que fazer em estado de calamidade pública por falta de água?

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), vinculado ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, possui folheto educativo  instruindo a forma de como a população deveria agir nesses casos. E aqui vão algumas breves orientações:

1- Guarde previamente 10L de água potável por pessoa;

2- Priorize as atividades essenciais;

3- Proteja as pessoas que têm necessidades específicas como idosos, PcD´s, gestantes, doentes e crianças.

 

Texto por Juliana Emelly e Ticyane Almeida

Foto por Leonardo Alexandre

Segundo Festival Marielle Presente relembrou a atuação da ativista e vereadora

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O evento contou com a presença de artistas da cidade e várias atividades culturais

 

O Segundo Festival Marielle Presente, organizado pelo coletivo 4P (Poder Para o Povo Preto) teve início no final da tarde do dia 14 de março, com uma vigília por justiça à Marielle Franco, na praça Barão de Guaraúna, em Ponta Grossa. Após o ato, foi exibido o curta-metragem “Um Sonho Nacional”, produzido por jovens da cidade. A obra fala sobre batalhas de rima e hip-hop.

Marielle Franco foi ativista e vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e foi brutalmente assassinada com 14 tiros no carro em que estavam ela e o motorista Anderson Gomes, também assassinado, na noite do dia 14 de março de 2018. Após sete anos do crime, o caso ainda segue sendo investigado.

No último dia 15 de março, o festival continuou na parte da tarde, no bar Phono Pub, e contou com exposições de artistas da cidade, oficinas de ervas, um sarau, e para fechar, teve a presença de cantores e DJs de Ponta Grossa. O primeiro festival Marielle Presente foi organizado pelo 4P e realizado no antigo Kingston Pub, em 2022. Na época, também foi realizado em dois dias e contou com uma variedade de artistas convidados. 

Uma das organizadoras do festival e participante do coletivo 4P, Aymê Alves, comentou sobre a importância do festival para a cidade de Ponta Grossa, que mesmo sendo grande, ainda conta com pouca valorização para a cultura e pouco espaço de voz nos lugares. “Pedir justiça por Marielle é pedir justiça por todas as pessoas negras assassinadas de forma arbitrária. Em uma cidade que se nega a ver as contribuições da população negra, esse é um espaço de visibilidade”, conclui Aymê.

André Henrique Mello também compõe o coletivo 4P e comentou o que o festival quis trazer além de cultura e festividade. “A mensagem do festival é exatamente que o anti racismo precisa ser um compromisso coletivo”, pontuou.

O Festival está como uma das programações da agenda ampliada de ações do mês de março pelo Feminismos em Luta e da campanha dos 21 dias de ativismo do combate ao racismo. Para mais informações, acesse o Instagram @feminismos.emluta ou @coletivo4p.

Foto: Maria Eduarda Leme

 

Texto por Maria Eduarda Leme

Pessoas celíacas com dieta sem glúten enfrentam preços abusivos dos alimentos

Em média, os produtos chegam a custar três vezes o valor dos alimentos regulares em supermercados de Ponta Grossa

 

Estima-se que dois milhões de pessoas possuem doença celíaca no Brasil, a grande maioria sem diagnóstico. A doença celíaca é autoimune, ou seja, não apresenta cura e é desencadeada por tendências genéticas em qualquer idade. Ela é desencadeada pela ingestão de glúten, proteína presente no trigo, cevada, centeio e aveia. Os dados vêm da Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil (FENACELBRA), mas apenas como uma estimativa, pois não existem estudos concretos sobre a doença no país.

O único tratamento conhecido é a dieta sem glúten para o restante da vida. Glaucia Staveski foi diagnosticada como celíaca aos 45 anos de idade e contou ter dificuldades para se adaptar à nova dieta. “Em reuniões de família ou saída com os amigos era o mais complicado, porque eu não podia comer o mesmo que todo mundo, e muitas vezes nem havia a opção de alimentos sem glúten”, relembra. Alimentos básicos da dieta brasileira, como arroz, feijão, carne e ovo, não possuem glúten. O mesmo vale para frutas, laticínios, hortaliças e outros.

Estudos mostram que qualquer quantidade de glúten, por menor que seja, já é prejudicial para um celíaco. Isso significa que até mesmo as panelas usadas para cozinhar nunca podem ter tido contato com alimentos com glúten, para que não haja contaminação cruzada (quando um alimento sem glúten acaba por conter glúten por ser produzido em ambiente não isolado). “Por conta da dificuldade da produção dos alimentos sem glúten o preço acaba ficando maior, eu entendo, mas mesmo assim é um problema. Gasto mais nos mercados hoje e tenho menos opções de alimentos do que antes da doença”, lamenta Glaucia. A lei federal nº 10.674, de 2003, determina a obrigatoriedade de todas as empresas que produzem alimentos informarem no rótulo se o produto “Contém glúten” ou “Não contém glúten”.

O Elos fez uma pesquisa para investigar o preço dos alimentos sem glúten na cidade. Os dois mercados selecionados fazem parte de redes grandes de supermercados e permaneceram anônimos. O Mercado 1 apresentou uma maior variedade que o Mercado 2, que trouxe apenas o básico da alimentação. Alguns valores dos alimentos foram alterados para igualar com a quantidade das porções (ex: o pacote de farinha mais barato tinha 1 kg, enquanto que a farinha sem glúten só tinha em pacotes de 500g, então os valores foram convertidos para que no quadro abaixo eles representassem as mesmas porções).

 

*Não foi levado em consideração o preço dos macarrões mais baratos como o miojo (R$1,09 – Mercado 1), pois não havia um produto similar na versão sem glúten.

 

Os alimentos sem glúten apresentam, em média, valores 233% maiores que dos alimentos com glúten. A aveia, a batata chips na lata e o macarrão, em ambos os mercados, foram os alimentos sem glúten com menor aumento no preço, não chegando nem a aumentar o dobro do valor. Em compensação, a farinha no Mercado 1 e o pão de forma no Mercado 2 tiveram aumento de mais de 300% nos produtos sem glúten. O biscoito cracker sem glúten foi o alimento que apresentou maior variação de preço, chegando a 900% a mais do valor do variante com glúten.

Para saber se você possui a doença basta consultar um médico de forma gratuita pelo SUS e realizar exames de sangue.

 

Texto por Ester Roloff

Desigualdades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho evidenciam feminização da pobreza

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A feminização da pobreza e as desigualdades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho foram tema do Seminário Feminização da Desigualdade, que integra a programação do coletivo Feminismos em Luta. O evento foi realizado na noite de quarta-feira (12), na Câmara Municipal, por iniciativa de Ana Paula de Melo.

A feminização da pobreza se refere ao aumento do número de mulheres em situação de pobreza e o processo das mulheres sozinhas terem que se responsabilizar pelo seu sustento e o dos filhos, quando não tem mais o companheiro na mesma casa. Nessa realidade, além de precisarem garantir a própria renda, elas ainda assumem a maior parte dos trabalhos de cuidado, como a criação dos filhos e as tarefas domésticas.

Dados do Censo do IBGE indicam que, em 2010, os homens eram responsáveis pelo sustento de 61,3% dos lares brasileiros, enquanto as mulheres representavam 38,7%. No entanto, em 2022, esse cenário mudou significativamente: o percentual de mulheres à frente dos lares subiu para 49,1%. Apesar disso, elas ainda enfrentam desigualdades no mercado de trabalho e continuam sendo as principais encarregadas pelos cuidados familiares.

A professora universitária, consultora empresarial e advogada especialista em justiça restaurativa, Lana Furtado, destaca que, historicamente, a mulher sempre foi vista como uma segunda opção no mercado de trabalho. Quando fomos chamadas para trabalhar durante a Segunda Guerra Mundial, foi porque os homens estavam indisponíveis, não porque nos consideravam competentes.

Sobre o cenário de Ponta Grossa, Lana acredita que a cidade seja muito conservadora e que isso é algo que deve ser desconstruído, então apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda existe uma grande desigualdade salarial entre homens e mulheres em Ponta Grossa. 

Segundo pesquisa do IBGE, anualmente as mulheres dedicam em média 10, 4 horas por semana a mais aos afazeres domésticos do que os homens. A segunda palestrante, Hanna Krüger,  professora de Direito na Faculdade Anhanguera, trouxe esse dado para explicar a feminização da pobreza no Brasil, afirmando que a sobrecarga de afazeres domésticos limita as oportunidades de qualificação e crescimento profissional das mulheres. 

No evento, também se discutiu a precarização do trabalho feminino, com as mulheres em uma situação de emprego que é instável, onde o trabalhador é responsável pelos riscos do emprego, e não o empregador. Para ilustrar isso, a advogada trouxe a questão do trabalho em plataformas digitais, como o Uber e o 99, que muitas vezes alegam que os parceiros não têm vínculo empregatício com a plataforma, logo não têm direitos trabalhistas. 

Texto por Pietra Gasparini e Amanda Grzebielucka.

Fotos por Pietra Gasparini.