Crime e religião na pauta do debate público

Bruno Paes Manso discute realidade de violência no Brasil atual

 

A violência urbana ganhou destaque no relato de Bruno Paes Manso, ganhador do Prêmio Jabuti de Reportagem e Biografia, jornalista convidado da Semana de Estudos em Comunicação no dia 22 de novembro. A palestra “Dinheiro, fé e fuzil: o Brasil do crime e da religião sob investigação” abordou as experiências que teve no jornalismo criminal, e as investigações do jornalista sobre o que gera a violência no país. ‘’O intuito é criar confiança de que não haverá uma denúncia e tentar entender a motivação da pessoa por trás do crime, pois o pior mal para o jornalista é a indiferença’’, explica o criminólogo que entrou na área pela quantidade de chacinas em São Paulo que cobria pela revista Veja.

O sensacionalismo tem crescido com a propagação de fake news na internet, mas não é de hoje que a população se interessa por tragédias na mídia. ‘’O entretenimento mórbido das polícias atrai a audiência e o jornalista deve mostrar a complexidade deste cenário sem transformá-lo em um circo midiático com juízo de valor’’, explica Bruno, também doutor em Ciência Política com experiência na área da Sociologia Urbana e Criminologia.

“Tanto o PCC como as igrejas pentecostais são instituições criadas pelos pobres, para os pobres, que produziam novos discursos capazes de reprogramar as mentes”, afirma Bruno em seu livro. Ainda na narrativa, o autor conta o processo de conversão de presidiários dentro do sistema carcerário e como a instituição religiosa se relaciona intimamente com organizações criminosas. O jornalista também explora a ascensão ao poder de Jair Messias Bolsonaro e a religião embrenhada na história. “O fato de ele estar vivo, afinal, só podia ser milagre de Deus […] Nada disso importava; o sagrado havia entrado em cena.”

Ainda na palestra, Bruno ressalta que acredita só ter sido capaz de realizar tais investigações por ser homem, visto que mulheres no jornalismo estão sujeitas a mais violências, especialmente no ramo do jornalismo criminal.

A aluna do primeiro ano do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Juliana Emelly Ferreira, conta que já acompanhava o trabalho do palestrante e que o painel apresentado reforçou a vontade de trabalhar nesta área do Jornalismo no futuro. ‘’Minha motivação vem da forma com que a profissão atua nas injustiças da sociedade, e é um incentivo ouvir os relatos de um profissional que ouve a pessoa e a trata como ser humano, sem ser um juiz de caráter”, diz. 

A mediação foi realizada pelo professor do Departamento de Jornalismo da UEPG, Ben Hur Demeneck. O evento foi parte da programação da 32ª Semana de Estudos em Comunicação e da 17ª Semana de Integração e Resistência, ambos eventos tradicionais do Curso promovidos com apoio do Centro Acadêmico João do Rio, criados para conectar a comunidade acadêmica em debates.

A estudante e vice-coordenadora do Cajor, Emelli Schneider, fala da relevância dos assuntos tratados pelo palestrante para a formação de estudantes. “O Jornalismo especializado está em falta na grade curricular, e é importante ter uma pessoa de renome como o Bruno para servir de referência aos alunos que às vezes nunca pensaram em atuar nesta área”, observa.

 

Por Vinicius Orza e Victor Schinato

Foto: Victoria Fonseca

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