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Políticos que são donos de mídias propagam desinformação e ferem direitos humanos

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Estudo feito pelo Intervozes identificou 45 candidatos que eram proprietários ou estavam envolvidos com propriedades familiares de mídias em 2022

 

O monitoramento feito pelo Intervozes, durante as eleições do ano passado, mostra que aumenta o número de políticos proprietários ou que estão envolvidos com propriedades familiares de mídias a cada eleição. Em 2022 eram dezoito candidatos a deputado federal, treze a deputado estadual, seis ao Senado e um a suplência do Senado, cinco ao cargo de governador e dois de vice-governador. Além disso, foi identificado um perfil homogêneo: mais da metade são homens (trinta e oito), brancos (trinta e três) e milionários (trinta e três). Há apenas uma mulher branca e nenhum homem negro e mulher negra.

 A propriedade de comunicação por políticos fragiliza a democracia, pois o artigo 54 da Constituição Federal proíbe “firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público” e a partir da posse “ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada”. 

 A coordenadora executiva do Intervozes, Olívia Bandeira, destaca os interesses associados. Isto é, além da mídia, parte dos grupos associados também possuem negócios em outros setores da sociedade. “Um exemplo é o agronegócio e a mídia. Os proprietários da Globo também são proprietários de terra. Há uma relação antiga e uma construção de imagem positiva por meio de músicas, novelas e da propaganda ‘Agro é Tech, Agro é pop, Agro é tudo’”, comenta.

 Outro problema gerado pelos políticos donos de mídias é a ausência de pluralidade. A internet começou com um contraponto aos monopólios de mídias tradicionais e que prometia pluralidade. Entretanto, foi se transformando em um modelo de monopólio que mudou a sua estrutura e acabou sendo configurada por interesses políticos. 

 A coordenadora do Intervozes explica que o poder da internet está no forte domínio de um nicho de mercado e que atua no mundo inteiro via Google, Meta, Microsoft e Amazon. Acrescenta que esse poder não fica apenas no próprio nicho. “O problema vai além da monopolização. A arquitetura foi desenhada com uma série de consequências, dentre elas, os conglomerados acessarem com mais facilidade os nossos dados devido ao poder”, diz.

 

Regulamentação da mídia

 A regulação democrática é a liberdade de expressão garantida. No caso das redes sociais, as regras são definidas pelas próprias plataformas, ou seja, a sociedade não tem poder para discutir o que é feito ou o que é mostrado. A coordenadora executiva do Intervozes, Olívia Bandeira, reforça que a regulação da mídia não é sinônimo de censura. “As plataformas digitais violam direitos humanos porque lucram mais com conteúdos extremistas. Quando falamos em regulação [da mídia], falamos no controle pela sociedade”, pontua.

Por Gabriela Oliveira

Nova lei que expande a assistência psicológica para gestantes é sancionada no Brasil

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O acompanhamento, disponibilizado pelo SUS, deve ser realizado durante a gestação e após o parto

 

   No dia nove de novembro de 2023, o presidente Lula sancionou a lei 14.721, que expande a assistência psicológica às gestantes. O direito deve ser garantido durante toda a gestação, e após o parto, através do Sistema Único de Saúde (SUS). A lei acrescentou dois parágrafos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O primeiro, indicando que gestantes e puérperas devem ter acompanhamento psicológico após a avaliação médica, e o segundo, que determina aos estabelecimentos de saúde pública e também privados que desenvolvam obrigatoriamente atividades sobre a conscientização da saúde mental materna.

    Segundo a campanha comunitária idealizada pela a psicóloga clinica e perinatal Nicole Cristino e a médica psiquiatra Patrícia Piper Maio Furta-Cor, que visa sensibilizar a sociedade para a causa da saúde mental materna e estimular a construção de políticas públicas de saúde através de projetos de leis, em média quatro em cada 10 mães estão deprimidas dentro de suas casas, muitas por não terem uma rede de apoio e que, mesmo o pai da criança morando na mesma residência, ainda assim pode não proporcionar o auxílio necessário para cuidar de um bebê.

   A doula Juliane Carrico, representante da campanha Maio Furta-Cor, comenta sobre sua experiência pessoal referente à rede de apoio e saúde mental. “Eu sou mãe solo, que tem uma rede de apoio pequena e que utiliza os serviços da saúde pública, eu tive grande dificuldade em entender como funcionava a logística dentro da saúde primária no SUS para questões psíquicas, até participar da campanha eu não sabia nem que existia um ambulatório de saúde mental na cidade”, argumenta. 

   Em Ponta Grossa, o Ambulatório de Saúde Mental (ASM) fica localizado na Rua Princesa Isabel, 228, no bairro São José. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 07:00 as 17:00 horas, o agendamento prévio pode ser realizado através do telefone  (42) 3220-1015 ou presencialmente.

Sobre vivências travestis comemora um ano

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O documentário Sobre vivências travestis celebra neste dia 24 de novembro um ano de publicação no canal do youtube. Nós do projeto Elos convidamos você a conhecer a trajetória das primeiras travestis de Ponta Grossa/PR (Debora Lee e Fernanda Riquelme), os enfrentamentos, afrontamentos e a militância junto à população LGBTQIA+.
Uma produção realizada pelo projeto de extensão Elos-Jornalismo, direitos humanos e formação cidadã em parceria com a Ong Renascer. Neste um ano de veiculação foram 227.375 visualizações. Se você não viu, vale a pena conferir.

Louvor à ancestralidade e valorização da cultura negra

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Em busca de resgatar a ancestralidade, o centro de terreiro Corações de Àsé e o dirigente do Ylê Égbè Asè Oba FunFun, Bábàlorixá Alamire, promoveram um batuque na Estação Saudade, localizada no Parque Ambiental. “Estamos tentando inserir a cultura afrobrasileira na cidade de Ponta Grossa, com samba de terreiro, batuque e capoeira”, declara Rosangela Mileo, integrante do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais (ISNEC), uma organização não gorvernamental que luta pelo direito dos negros na região dos Campos Gerais. 

“O evento é para quebrar os paradigmas que a sociedade tem contra a cultura afro e também para louvar a nossa ancestralidade, independente da religião ou cor”, relata o dirigente do Ylê Égbè Asè Oba FunFun. O evento foi realizado no Dia da Consciência Negra e contou com roda de capoeira, samba de terreiro e Islam. Segundo a integrante do terreiro Corações de Àsé, Ekedj Nathy, o encontro é importante para mostrar que o preto tem voz e que a cultura afro pode ser celebrada em público e não ser discriminada. “A população da cidade de Ponta Grossa tem uma mente muito fechada, eles não conseguem entender que o que faz bem pra mim não precisa fazer bem pra você, mas não te dá o direito de não me respeitar”. 

De acordo com Brayan Schultz, integrante do  terreiro Corações de Àsé, a importância deste evento é acolher diversos grupos sociais para celebrar a cultura afro. “Não importa sua cor, se você é LGBTQIA+, indígena e etc, esse encontro acolhe a todos”, diz. Brayan ainda lembra que a luta contra o preconceito é o ano todo e não só na semana da consciência negra.

Por Amanda Grzebielucka

20 de Novembro – Dia da Consciência Negra e sua Importância

O Brasil é o pais que possui a maior população preta fora da África, com cerca de 56% do total de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em 2022. Mas mesmo sendo a maioria, a população negra ainda é invisibilizada pela sociedade. 

A data foi instituída pela Lei nº 12.519 de 2011. O texto tem a autoria da então senadora Serys Slhessarenko e tem como objetivo a memória da luta de Zumbi, líder quilombola morto em 1695 que tornou-se símbolo de resistência à escravidão no país. Porém, muitos pensam que a data é desnecessária e diminui a importância de um quantitativo tão importante da população brasileira. Vários se perguntam “qual a necessidade de uma data para celebrar a consciência negra?”

A resposta para esta pergunta é complexa. O geógrafo e professor Milton Santos (1926 – 2001) proferiu em uma entrevista a seguinte frase “Eu tive a sorte de ser negro em pelo menos quatro continentes e em cada um desses é diferente ser negro e; é diferente ser negro no Brasil.” E salienta que o povo brasileiro tem dificuldade em refletir acerca da questão racial no país. Santos defende que as políticas públicas voltadas à esta população perpassam as dimensões sociais, econômicas e territoriais – por exemplo, a Lei de Cotas (Lei 12.711) proposta em 2012 e revisada este ano. 

Por mais que o Brasil seja um país de maioria negra, a população preta ainda está longe de alcançar posições de destaque. Isto é reforçado pelo racismo estrutural (uma boa pedida é a obra do jurista, professor e atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida) que nada mais é do que a maneira de como o pensamento racista está enraizado na sociedade brasileira. Números mostram.

De acordo com o levantamento realizado pelo portal de empregos Vagas.com, somente 0,4% dos cargos de chefia das empresas são ocupados por negros. O mesmo levantamento mostra que as únicas posições em que os negros lideram são os cargos operacionais, com 33%. Além disso, a renda média de um negro é 75% menor do que a de um branco no mesmo cargo, segundo estudo do IBGE divulgado em 2022. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) indica que a igualdade entre brancos e negros, em condições de trabalho, se dará somente daqui 167 anos.

Já no ensino superior, embora houve crescimento no número de alunos pretos no ambiente acadêmico público – que chegou a faixa de 53% – segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em 2020. No entanto, este público ainda enfrenta dificuldades de permanência nas universidades, principalmente em cursos como Medicina e Engenharia. 

O Dia da Consciência Negra se faz necessário na construção de uma sociedade diversa, inclusiva e equânime. Trazendo a frase da filósofa estadunidense Angela Davis “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.

 

Por Gabriel Passos – Geógrafo pela UFV, Mestrando em Computação Aplicada pela UEPG e Secretário Adjunto do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais

Diferentes faces do orgulho

Parada LGBTQIAPN+ dos Campos Gerais coloriu o domingo de Ponta Grossa

Após contratempos, a Parada LGBTQIAPN+ dos Campos Gerais aconteceu no dia 12 de novembro, na Concha Acústica, ao lado do Shopping Popular e da Estação Saudade. Em um domingo de muito sol, o público se reuniu no centro de Ponta Grossa para apreciar a apresentação de drag queens e músicos locais.

Apesar de problemas decorrentes de mudança de local, o trâmite legal para obtenção dos alvarás e a intrusão de fundamentalistas religiosos com violação dos direitos humanos, que realizavam entrega de folhetos de caráter lgbtfóbico e afirmavam que era a última oportunidade de “se arrepender”, a Parada ocorreu da melhor maneira possível, como informou a equipe organizadora.

O evento, que deveria acontecer no Lago de Olarias, foi remarcado após problemas com o mau tempo. Por logística de montagem de palco, aconteceria no Parque Ambiental, no mesmo local onde ocorre o projeto Sexta às Seis. Mas, em razão da presença do Parque de Diversões, foi alterado mais uma vez para perto do Shopping Popular. 

É necessário ressaltar a importância de eventos que evidenciam a presença LGBTQIAPN+ em Ponta Grossa, para que a população com representatividade minoritária na sociedade seja vista e políticas públicas possam ser implementadas para atender demandas emergenciais desta população.

A partir desse ensaio, a equipe Elos busca retratar as diferentes pessoas presentes na Parada e na comunidade LGBTQIAPN+ de Ponta Grossa, em toda a sua pluralidade e vivências diversas.

 

Por Victor Schinato e Vinicius Orza

 

Projeto Elos divulga atividades extensionistas no CONEX 2023

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O projeto de extensão Elos – Jornalismo, Direitos Humanos e Formação Cidadã, do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), completa seis anos de atividade em novembro. Em 2023 o projeto participou com cinco apresentações no Encontro Conversando sobre a Extensão na UEPG (CONEX), maior número de trabalhos apresentado desde a criação do Elos.

O CONEX é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais, com o objetivo de divulgar e abrir espaço para discutir as atividades extensionistas realizadas pela comunidade acadêmica na UEPG. As professoras responsáveis pelas atividades do Elos são Paula Melani Rocha, Karina Janz Woitowicz e Graziela Soares Bianchi.

As apresentações feitas no CONEX mostraram as atividades feitas pela equipe de integrantes do Elos. Os assuntos foram: defesa de direitos da comunidade LGBTQIAPN+, iniciativas do projeto Elos em parceria com a comunidade local para produções em audiovisual, estratégias para ampliar as campanhas solidárias na Ocupação Ericson Duarte, os eventos de extensão desenvolvidos pelo Elos e as divulgações dos direitos humanos feitas através do instagram do Elos.

Mães Universitárias- Thifany Dos Santos

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Mães estudantes não têm apoio da universidade para concluir estudos, esse é o segundo episódio com relatos de alunas da UEPG que sofrem dificuldades para permanecerem na universidade. Hoje vamos falar da aluna Tiffany, de 21 anos, estudante de ciências biológicas e mãe do Miguel de três anos.

Ocupação Ericson Duarte sofre danos com as chuvas em Ponta Grossa

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Por Maria Eduarda Leme

No final do mês de outubro Ponta Grossa foi atingida por fortes chuvas que causaram estragos em toda cidade. A ocupação Ericson Duarte foi um dos lugares mais afetados, prejudicando mais de 200 famílias que perderam móveis, colchões e roupas. No dia 27 de outubro várias casas tiveram destelhamentos causados pela chuva de granizo que aconteceu no final da tarde.

Uma das coordenadoras da ocupação Isabella Guimarães conta que precisou abrigar famílias no Ginásio da Pessoa com Deficiência porque tiveram as casas destruídas. “Precisamos levar mais de 40 famílias até o ginásio, mas ao todo foram 120 famílias atendidas pelo ginásio e a prefeitura.” 

Isabella também relata que por conta própria, sem ajuda da prefeitura e da Defesa Civil, ela e outros coordenadores atenderam mais de 80 famílias doando cestas básicas, colchões, roupas e cobertores. “A Defesa Civil não atendeu nem metade das famílias que precisavam de ajuda, se atenderam umas 10 já foi muito.”

Agora com uma trégua das chuvas, as famílias estão se organizando para trocar as telhas e telhados que foram estragados, mas com a situação financeira precária ainda é difícil de realizar completamente essas trocas, por isso a ocupação pede a colaboração da sociedade com doações de telhas, madeiras e lonas, além de colchões e cobertores. 

Na primeira semana do mês de novembro o MST doou mais de 300 quilos de alimentos para a ocupação, que fez vários kits para distribuir entre as famílias afetadas com as chuvas e parte dos orgânicos foram destinados para a janta solidária que acontece na sede da ocupação todas as quartas-feiras.

Duas mães e uma bebê a termo ou quando os desejos se encontram em uma clínica de fertilização

Escrevo este texto no momento anterior ao grande encontro. Daqui no máximo dez dias nossa filha Rita chega ao mundo, embora sua existência já vibre em nós há pouco mais de nove meses. Essa poderia ser uma história de um amor que gerou frutos, mas prefiro pensar em uma história sobre descobertas de desejos escondidos, de um longo caminho médico e farmacológico, de um embrião que teve as primeiras células multiplicadas fora de nossos corpos, de duas mulheres empenhadas na vontade de ser mães e vivendo em um país que há pouco saiu do completo abismo. E olha que o abismo está sempre ali, um passo de distância. Poderia ser a história também de maternidades políticas e fora dos padrões ou até sobre uma cachorra mimada que vai ganhar uma irmã humana e até o momento nada se sabe sobre seu comportamento posterior. Essas são apenas algumas possibilidades entre tantas formas de significar o que nos ocorre no momento.
Decidimos que queríamos ser mães e essa foi uma decisão muito fácil. Difícil foi escolher como seríamos mães, o que funcionaria melhor para nós, para onde nos levava o desejo. De antemão afirmo que nos levou a um complexo caminho em que a gente achava saber tudo o que de fato a gente desconhecia. Eu embarquei nesse processo certa de que queria engravidar, queria viver o ciclo gravídico-puerperal como a grande aventura da minha vida. Após uma tentativa de transferência de embrião para o meu útero sem sucesso e um longo tempo de reflexão, quase um ano, percebi que a gravidez não era o que eu queria viver, mas a maternidade ao lado da minha esposa. Um erro bastante compreensível quando costumamos socialmente associar a gestação com o processo de se tornar mãe. Eu estava minimamente advertida sobre isso, mas mesmo assim caí na armadilha.
Infelizmente, essa associação me custou muitas noites mal dormidas até conseguir formular que minha vontade era outra, pois a ideia da gestação só me gerava angústia. Curiosamente, minha esposa viveu um movimento oposto de descoberta. A gravidez era impensada para ela, pois parecia automático que corpos que performam feminilidade gestem bebês e sua performatividade de gênero pode ser lida como mais masculina do que a minha. Quase caímos em uma nova armadilha, desta vez de gênero.
A gestação antes impensada começou a se tornar um desejo explícito para ela, um desejo que quando foi pronunciado gerou alegria e alívio para nós duas. E assim retornamos à clínica de fertilização, invertendo os corpos, mas firmes no nosso propósito. A partir daí foram meses de novidades, de sustos, de enjoos, de consultas de pré-natal, de fotos de uma barriga que cresce a cada dia, de preparações que nos fizeram sentir muitas vezes mais despreparadas ainda, de risadas sobre as fantasias e expectativas que criamos. Em resumo, tudo o que comumente as gestações envolvem e demandam. Um pouco de medo e um tanto de sonho envolvido.
Mas como ter uma filha sendo nós duas mães? Aqui entra um tanto de sorte e de privilégio por ter tido uma rede de pessoas que não apenas reconheceram nossa maternidade como válida, mas que demonstraram a todo tempo a alegria com que esperam juntos de nós a chegada desta criança. É lógico que nem tudo são flores, pois quando penso em nossa filha nessa sociedade confusa, peço forças para conseguir mediar os sentimentos que nossa família pode causar em pessoas que se sentem afrontadas com a nossa existência. Sei que não conseguiremos protegê-la de todos esses sentimentos, alguns deles difíceis de serem traduzidos sem que nos tornemos seres desesperançosos. Mas sei que enfrentaremos nós três juntas qualquer questionamento sobre essa configuração familiar, afinal, não nos foi dado o direito de não lutar pelo mínimo. Além disso, a luta pode ser boa.
Lutar pelo que acreditamos e nos unirmos com outras pessoas que acreditam que as coisas podem ser diferentes é uma das grandes alegrias da vida. É um ato não só de amor como de esperança. E talvez seja esse tipo de esperança em que acredito, a esperança coletiva. Não existe salvação individual nesse mundo e seja qual for a luta da nossa filha, ela terá o nosso apoio. Faltando poucos dias para esse encontro, penso em como enfrentar esse mundo com um ser que acabou de chegar nele, ainda tão desprovido de linguagem, e que nem imagina como é a vida fora do calor do útero. Para esses recém-bem-vindos e bem-vindas, diria: criem núcleos de proteção com pessoas que dialogam com seus ideais, compartilhe amizades e afetos, são eles que nos salvam todos os dias.
Se chegamos até aqui, poucos dias antes de conhecer a bebê que irá marcar definitivamente a nossa existência, foi porque seguimos nesse caminho muito bem acompanhadas, uma da outra, nós com os outros entes queridos. A psicanalista Vera Iaconelli, em seu livro Manifesto Antimaternalista, cita o percurso de Cory Silverberg na escrita de um livro para crianças sobre a origem dos bebês de uma forma que abarcasse as diferentes composições familiares e meios de concepção e maternidade. Ele escreve que todos os bebês surgem a partir do encontro de um óvulo com o espermatozóide, seguido da concepção e uma gestação levada a termo. Ponto. Assim surgem os bebês. Todos os bebês. Mas só isso importa? Não, para o autor duas perguntas importam mais: “Quem ansiava por nosso nascimento?” e “Quem nos aguardava ao nascer?”. É no desejo de duas mães e na alegria compartilhada por seus amigos e familiares que uma bebê pode vir ao mundo.

 

Por Jessica Gustafson