No dia 26 de setembro, celebramos o Dia Nacional do Surdo, uma data que nos convida a refletir sobre os desafios enfrentados por essa comunidade e, principalmente, sobre a inclusão e o acesso à informação. Segundo o IBGE (2022), no Brasil, o número de pessoas Surdas passa dos 10 milhões, e parte delas se comunicam através da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Por isso, garantir que essas pessoas tenham acesso igualitário à informação é fundamental em uma sociedade que busca, mesmo que a pequenos passos, a inclusão. Neste contexto, uma questão ganha relevância: os jornalistas, como profissionais da comunicação, precisam estar aptos a atingir todos os públicos, e isso inclui, dominar Libras.
O jornalista tem um papel de responsabilidade social por intermediar fatos e notícias. Contudo, esse papel só será cumprido de forma plena quando todos, sem exceção, tiverem acesso à informação. Por mais que o jornalismo tenha evoluído em diversos aspectos, a formação dos profissionais ainda carece de um ponto crucial: o ensino de Libras na graduação de jornalismo. Infelizmente, essa não é uma obrigatoriedade na maioria das universidades. A inclusão da língua oficial da comunidade Surda brasileira na formação do jornalista seria um grande passo para garantir que, desde o início de suas carreiras, esses profissionais já estivessem preparados para cumprir seu papel de maneira inclusiva. A inclusão da comunidade Surda no acesso à informação vai além de uma bondade, é um direito constitucional. Deixar a comunidade Surda à margem dos acontecimentos no país e no mundo é privá-la de participar ativamente da vida social, cultural e política do país. Muitos Surdos relatam a sensação de viver como estrangeiros em seu próprio país. Isso ocorre porque em uma sociedade majoritariamente ouvinte, a comunicação se dá quase exclusivamente pela língua portuguesa oralizada. Os meios de comunicação, por não serem acessíveis em Libras, reforçam essa barreira. No entanto, a comunicação através de Libras é uma realidade para milhões de Surdos e, para que essa barreira comunicacional seja rompida, é urgente que os jornalistas comecem a entender a importância de se adaptar a essa realidade. Ao dominar Libras, o jornalista está exercendo seu papel de forma ética e responsável, garantindo que a informação jornalística seja entregue ao maior número de pessoas.
Neste Dia Nacional do Surdo, que possamos refletir sobre a importância de tornar o jornalismo acessível à comunidade Surda e sobre o papel transformador que os profissionais da comunicação podem desempenhar na inclusão social.
Mais de 100 vagas são ofertadas em instituições de acolhimento para população em situação de rua na cidade
De acordo com o levantamento realizado em 2023 pelo Observatório Nacional dos Direitos Humanos, 570 pessoas vivem em situação de rua na cidade de Ponta Grossa. Com a intenção de amenizar as dificuldades sofridas por esse público, na cidade há lugares que prestam serviços e atendem as necessidades básicas de quem se encontra em tal situação, como a Casa da Acolhida dos Vicentinos e o Albergue Noturno Maria Isabel Wosgrau.
O Albergue, localizado na rua Generoso Marques dos Santos, 197 – Centro, oferece serviço de acolhimento noturno. Regina Pedrozo, assistente social e responsável técnica, explica sobre a direção do ambiente: “O local é comandado desde 2023 pelo grupo Renascer através de um termo de colaboração com a Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG). O grupo propõe um encaminhamento para o acompanhamento complementar ao trabalho social com as famílias, através do Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) e o de Referência Especializado (CREAS), inseridos no território, para que a população necessitada obtenha acesso a serviços específicos”, ressalta
Regina ressalta que o serviço ofertado pelo Albergue é pontual, unicamente noturno, sem qualquer vínculo ou acompanhamento com o usuário. Em relação às vagas, a assistente social informa: “Os lugares são distribuídos por ordem de chegada. Porém, quem comparece todas as noites e chega cedo, tem sua cama garantida.”
São 70 vagas disponibilizadas pelo albergue, mas o lugar se adapta oferecendo mais espaço dependendo da demanda, que aumenta em dias de inverno, por exemplo.
Cláudio Cavalcante, 51 anos, utiliza o serviço oferecido pelo Albergue. “Minha família não é daqui, vim do Norte para tentar uma vida melhor tem um mês. Não consegui emprego ainda e quando cheguei não tinha nem lugar para dormir. Aí me indicaram o albergue. Passo minhas noites lá e de dia tento procurar alguém que esteja contratando. É muito bom ter pelo menos onde repousar sem medo”, conta.
A Casa de Acolhida dos Vicentinos, localizada na rua Doralício Correia, 316, oferece um serviço focado no acompanhamento dos usuários ao invés de um acolhimento pontual. ‘’Nós aqui da Casa oferecemos abrigo provisório para população em situação de rua oferecendo, além do espaço na casa, que pode ser de até 90 dias, roupas, calçados kit higiene, quatro refeições diárias e todo auxílio necessário para ajudar a pessoa no processo de saídas das ruas, organizando suas documentações, inclusive currículo para buscar trabalho’’, explica a assistente social Patrícia Stunitz.
São 70 vagas exclusivas para quem está no processo de acompanhamento. Mas, através da parceria da Casa da Acolhida com o Ministério Melhor Viver, são disponibilizadas 40 vagas extras para pernoite, diariamente.
Casa da acolhida localizada no bairro Cará-Cará. Foto: Lorena Maria
Layana Mendes, 25 anos, relata: “Eu vivia na rua com o meu companheiro, a gente dormia e passava os dias lá. Faz uns dois meses que ele morreu. Me vi sem rumo e através da Casa de Acolhida, além de dormir sem medo, afinal para mulher é muito mais difícil na rua, eu consegui novas oportunidades. Documentos, emprego, vida nova.”
O mês de agosto registrou temperaturas negativas em Ponta Grossa. O frio trouxe reclamações por parte da população, mas a parcela que mais é atingida é a em situação de rua. “No inverno a procura aumenta. Quem está na rua está mais sujeito aos prejuízos do frio e precisa ser acolhido”, observa Patrícia.
Quando identificados casos de pessoas em situação de rua no município, a orientação é de que se entre em contato com a equipe do Serviço de Abordagem Social pelo telefone ou WhatsApp: (42) 98879-3792. Uma equipe se desloca até o local para fazer o atendimento, prestando orientação e encaminhamentos para locais de acolhimento disponíveis.
O Brasil é o país com a maior prevalência de depressão na América Latina. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofre com o transtorno, o que equivale a 11,7 milhões de brasileiros. Segundo um relatório divulgado em 2015 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), apesar da depressão atingir pessoas de todas as idades e camadas da sociedade, a chance de alguém desenvolver a doença aumenta com a pobreza e com o desemprego. Além do risco ser maior, existe a dificuldade de tratar o problema por conta dos custos do tratamento psicológico.
Neste Setembro Amarelo, trazemos relatos de psicólogos e estudantes de instituições que já trabalharam ou ainda trabalham com a psicologia voluntária, a fim de ajudar pessoas que não têm condição de pagar o tratamento.
Psicologia para crianças
O psicólogo Ednilson Rossa concluiu a graduação no ano de 2015 com a intenção de trabalhar com as crianças da instituição Guarda Mirim. Ednilson é corretor de seguros e não depende da psicologia para viver, assim, destina dois dias da semana para atender gratuitamente seus pacientes. “Alguns dos pacientes que eu atendo entram em processo terapêutico, outros ficam mais para uma psicoeducação, que é mais uma posição de ouvir e de orientar, o que não deixa de ser importante”.
Rossa tinha uma escola de balé gratuita para as crianças da Guarda Mirim em 2019 e fechou em 2020 por conta da pandemia. Ele conta que solicita aos seus pacientes o apoio com sapatilhas e roupas para a reabertura da escola, prevista para 2025. “Eu deixo combinado com os meus pacientes o seguinte: quando voltarmos com essa instituição, vocês me ajudam a arrumar sapatilha ou roupas para as crianças participarem, para que elas possam exercer o balé sem custo”, explica. Além das famílias da Guarda Mirim, ele recebe pessoas de outras instituições que os colegas encaminham ou famílias que não estão ligadas a nenhuma instituição mas estão vinculadas ao CRAS ou ao CAPS, atendendo adolescentes e adultos.
Atendimento na Universidade
O estudante do quarto ano de Psicologia na Universidade Cesumar, Pedro Augusto, realiza atendimentos gratuitos pela Universidade. Segundo ele, os alunos do quarto ano realizam o psicodiagnóstico, que são sete sessões dedicadas a buscar informações sobre o paciente, suas queixas, e entender se há algum transtorno, doença, déficit. “O psicodiagnóstico é uma etapa inicial e indispensável ao psicólogo atuante em psicologia clínica, é a etapa inicial, de entendimento”.
Os pacientes são informados sobre as possíveis opções e escolhem se querem encerrar os atendimentos ou continuar com o tratamento, com sessões que duram cerca de 50 a 60 minutos. Pedro ressalta que os alunos do quarto e quinto anos já possuem bagagem teórica, sendo capazes do atendimento, e realizam sessões de supervisões semanalmente com o professor orientador para discussão do caso e da postura do psicólogo. “Tudo é conduzido com sigilo profissional, garantindo a segurança do professor, dos alunos e principalmente do paciente”, conclui Augusto.
Para se cadastrar, basta ir na clínica que se localiza na Universidade Cesumar. Também é possível enviar mensagem via WhatsApp, no número (42) 9165-3457, para solicitar e entrar na fila de atendimento.
Atendimento social
Melissa Perinotti atua há um ano na área da psicologia. Realiza os atendimentos particulares, porém, conta que abriu a agenda para atendimentos sociais logo após se formar e estar com todas as questões burocráticas regularizadas.
“Sei que a realidade financeira de muitas pessoas não permite que elas possam pagar pelo valor de sessões particulares, por isso decidi, desde que estava na faculdade, que quando iniciasse a minha carreira iria abrir agenda para atendimentos sociais”, relata a psicóloga.
Melissa explica como realiza o processo terapêutico: “Eu não trabalho com um tempo pré-determinado na psicoterapia, pois pela maneira que atuo o paciente possui a liberdade para trazer suas demandas de maneira livre e normalmente as sessões podem ocorrer por um período mais prolongado”. Ela também oferece uma outra modalidade de psicoterapia breve para pacientes com sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Nesses casos as sessões são presenciais e podem levar um período mais curto para a sua finalização: “se ocorrer a presença correta do paciente pode levar em média de dois a três meses aproximadamente para a terapia ser concluída, a depender das questões a serem trabalhadas durante as sessões”.
Atualmente o atendimento abrange adolescentes e adultos, em sua maioria na modalidade online. Porém, se o paciente possui preferência pelo atendimento presencial, ela realiza conforme agendamento prévio. O atendimento pode ser adquirido mediante uma conversa, para que a psicóloga possa compreender melhor a realidade daquela pessoa e conceder o serviço.
A psicóloga Adriana Dal Bosco também trabalhou como psicóloga voluntária em algumas instituições de Ponta Grossa. Além de crianças, ela também atendia mulheres em situação de vulnerabilidade social, mas deixou de trabalhar pela escassez de lugar apropriado nessas instituições e por falta de interesse das pacientes. “Nas instituições meu trabalho não era levado a sério e até servia como ameaça para as crianças. Com as mulheres eu reservava um horário para atendê-las e acabavam não conseguindo comparecer por diversos impedimentos pertencentes à realidade delas”, relata.
Para Adriana, é evidente que elas deixavam de querer cuidar da saúde mental para suprir problemas básicos como por exemplo arrumar um emprego e pagar as contas, que nesses casos eram as prioridades. A psicóloga não atende de maneira gratuita, mas oferece a possibilidade do atendimento pelo valor social de 40 a 50 reais.
Saúde mental de estudantes
Bruna Fidelis, psicóloga educacional vinculada à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UEPG, afirma que durante o período de formação acadêmica a sensação de insuficiência e de sobrecarga, causada pela rotina de estudos, pode fazer com que o estudante desenvolva algum tipo de transtorno. “Grande parte dos alunos não recebem remuneração para arcar com um tratamento particular e enxergam como única saída abandonar o curso. Eles precisam saber que podem contar com os serviços da Universidade e recorrer sempre que preciso”.
A psicóloga explica que ela não realiza serviço clínico na instituição, mas faz o devido encaminhamento. No momento em que ela recebe a solicitação, que pode ser feita por meio do número (42) 2102-8656, ela analisa e identifica a condução ideal para o paciente em questão, dependendo das suas demandas.
O encaminhamento é feito para o ambulatório da saúde mental da UEPG, que também pode ser diretamente contatado pelo número (42) 99141-8937, ou para a Unidade Básica de Saúde mais próxima a esse paciente. Há uma lista de espera em que o indivíduo é inserido e aguarda ser chamado. Todas as fases que antecedem e o tratamento em si são totalmente gratuitas.
Dia 09 de outubro haverá o lançamento do Grupo de apoio em saúde mental para estudantes. Os encontros acontecerão quinzenalmente, com alternância entre a UEPG Centro e Uvaranas, para que todos os estudantes sejam incluídos. Com temáticas trazidas pelos participantes, o grupo compartilhará suas questões com a orientação de uma equipe psicológica especializada. A iniciativa funcionará como uma terapia em grupo e a intenção é que haja uma identificação seguida da resolução dos problemas apresentados.
Interessados podem preencher o formulário disponível pelo link: https:/www.upeg.br/grupo-de-apoio-prae/
Serviço público
O Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS, também é uma alternativa para quem necessita de um tratamento gratuito. Ele faz parte da rede de atendimento do SUS e funciona como um serviço de portas abertas. Não há a necessidade de encaminhamento para o atendimento ser realizado, basta o paciente chegar e solicitar acolhimento. O CAPS conta com uma oferta multiprofissional que atende de acordo com a necessidade de cada indivíduo. O pedido pode ser feito diretamente no endereço: Av. Antônio Rodrigues Teixeira Júnior, n. 229, ou pelo telefone 3220-1021.
O evento abordou temas como acessibilidade e o empreendedorismo para pessoas surdas
O 2º Seminário Surdidade foi realizado nos dias 10 e 11 de setembro no Grande Auditório do campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O evento contou com a participação de professores, especialistas e estudantes, que discutiram acessibilidade para pessoas surdas. A Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação bilíngue e o empreendedorismo foram alguns dos temas abordados.
No primeiro dia (10), o professor surdocego, Carlos Eduardo Vilela , compartilhou sua experiência pessoal e os desafios enfrentados, que incluem dificuldades na comunicação e o preconceito que muitas vezes limita as oportunidades de inclusão. Vilela ressaltou a necessidade urgente de maior inclusão de surdos e surdocegos em diferentes setores da sociedade. “É crucial ter profissionais guiados e ouvintes preparados para conviver com surdos e surdocegos”, destacou.
Ele também abordou as formas de comunicação para surdocegos – como Libras tátil e Tanoma – e discutiu sua própria experiência com a bengala, que considera um símbolo de segurança e autonomia. “Usar a bengala me trouxe liberdade e independência após um período de vergonha”, relatou Vilela. Além disso, mencionou a Lei 14.951/2024, que estabelece a regulamentação das cores da bengala para identificar diferentes graus de deficiência visual e desmistificou algumas ideias preconceituosas sobre a capacidade dos surdocegos em realizar tarefas diárias.
No último dia do evento (11) , a professora Denielli Kendrick abordou o papel do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) de Guarapuava. Kendrick destacou o impacto significativo do CAS, que oferece suporte a 44 municípios do Paraná, na capacitação de educadores e no atendimento às necessidades da comunidade surda. “O CAS tem sido fundamental para capacitar professores e fornecer suporte necessário às pessoas com surdez e suas famílias”, afirmou. Em seguida, a professora Fabielly Kolisnek discutiu o ensino de Libras como primeira e segunda língua, enfatizando a importância da formação bilíngue nas escolas para promover uma educação inclusiva e de qualidade.
O seminário foi encerrado com fala do professor Éden Veloso, que falou sobre o empreendedorismo surdo e a importância da independência financeira. Veloso compartilhou sua trajetória profissional e incentivou a comunidade surda a buscar protagonismo no mercado. “O empreendedorismo nos dá a oportunidade de mostrar que podemos ser protagonistas de nossas próprias histórias”, concluiu.
As inscrições para o XXIV Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná acontecem até o dia 3 de outubro, às 17 horas, e podem ser feitas pelo site. Inscrições manuais vão até o dia 26/09 e devem ser enviadas pelo correio ou entregues nas Universidades com os documentos e especificidades presentes no edital.
A prova oral acontece dia 24 de novembro e a prova de conhecimentos gerais e redação no dia 25. Podem se inscrever para os cursos de graduação das universidades estaduais do Paraná ou da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pessoas pertencentes às comunidades indígenas do Paraná.
Já os pertencentes a etnias indígenas localizadas em outros estados do Brasil podem se inscrever para os cursos de graduação da Universidade Federal do Paraná. O vestibular oferta seis vagas em cada uma das sete universidades estaduais do Paraná e dez vagas na UFPR para o ano letivo de 2025.
Dados do Anuário de Segurança Pública demonstram tendência crescente no abandono afetivo e material
De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), 8 crianças são abandonadas por dia no Brasil. No Paraná, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Brasileira, a cada 200 mil crianças (entendidas pelo documento como crianças e adolescentes, de 0 a 17 anos), cerca de 24 delas foram abandonadas pelos pais.
A taxa de abandono parental no Paraná, que considera um caso a cada 100 mil indivíduos, apresenta uma crescente desde 2020. Atualmente, os números aumentaram em todas as faixas etárias, principalmente dos 5 aos 9, dos 10 aos 13, e dos e 14 a 17, com um aumento de 24,1%, 20,4% e 34,3%, respectivamente.
Irene Nunes da Silva, funcionária pública de 52 anos, foi abandonada pelo seu pai, quando tinha 16 anos. De acordo com a ela, seu pai traiu sua mãe e possuía vício em jogos de azar, o que resultou num divórcio conturbado. “Foi bem triste. Inclusive, no auge da história, eu ajudei e encorajei a mãe a colocar ele pra fora de casa”, relata.
O distanciamento, em suas circunstâncias acentuadas, fez com que a relação de Irene com seu pai fosse profundamente ferida. “Como eu ajudei a mãe a colocar o pai pra fora de casa, ele saiu rogando praga na gente, que nós nunca íamos ser ninguém na vida, sabe?”, conta a mulher. Como a mais velha de duas irmãs, a mulher foi mais presente na discussão que acarretou no divórcio e, após isso, seu pai cortou a comunicação por anos. Além do abandono afetivo, o pai de Irene não pagava pensão, o que configura abandono material.
Para as mães das crianças abandonadas, a situação é ainda mais grave, como afirma Kathleen Van de Riet, psicóloga familiar e professora do curso de Psicologia na Cescage. Enquanto a visão de que ela é a mãe de uma criança que foi abandonada é majoritária, é necessário ressaltar que anteriormente a isso, aquela mulher é alguém que foi abandonada pelo seu cônjuge. “A palavra cônjuge vem de conjunto, é aquela pessoa com quem decidimos construir a vida em conjunto”, diz Kathleen, “Então, para a mulher, não é só sobre um processo de parentalidade, tipo, meu companheiro parental, mas é sobre o companheiro relacional também.”
Tudo isso pode culminar na solidão parental da mãe, que foi abandonada enquanto mãe e como parceira de vida. Dessa maneira, as mulheres podem se ver numa situação de sobrecarga, seja emocional, física, psicológica ou de trabalho.
O abandono de incapaz, de acordo com o artigo n° 133 do Código Penal, se configura como crime com punição de seis meses a três anos de reclusão, com agravantes que podem aumentar a pena. Se caracteriza como crime o ato de isentar-se dos cuidados de alguém que, de outra forma, seria incapaz de defender-se dos riscos do abandono.
Para os filhos, as consequências são duradouras e podem impactar sua vida em diversas áreas. “A gente tem o processo de insegurança em relação a relacionamentos, em relação à questão financeira. Então, às vezes, são pessoas muito inseguras. São pessoas, às vezes, muito intensas e muito… Que, às vezes, são muito impulsivas.” afirma a profissional de psicologia. Ainda, a psicóloga diz que essas crianças abandonadas possuem a tendência de procurar apoio em lugares onde possam sentir a sensação de segurança (mesmo que não verdadeira), como relacionamentos abusivos e dependência química.
O abandono material, criminalizado pelo artigo n° 244 do Código Penal, se caracteriza quando alguém, que possui obrigação de auxiliar financeiramente (seja seu cônjuge, filhos com menos de 18 anos ou pais idosos) deixa de cumprir com tal responsabilidade. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a média geral que contabiliza todas as faixas etárias (crianças e adolescentes de 0 a 17 anos), no Paraná teve uma baixa. No entanto, ao analisar de maneira específica, a taxa de abandono, contabilizando um caso a cada 100 mil, aumentou nas faixas de 5 a 9, e 10 a 13 anos.
O abandono afeta negativamente a vida de quem é vítima. Para Irene, toda a experiência fez com que desenvolvesse traumas que ela levou consigo para sua vida adulta, além de todo o sofrimento emocional no momento do abandono propriamente dito. “Naquela época, eu lembro que eu chorava muito, além de triste eu me senti decepcionada, porque você imagina uma pessoa e de repente descobre que ela é outra”, conta ela. O trauma em sua vida emocional fez com que criasse receio de repetir o ciclo em seus relacionamentos, o que gera um descontentamento e desgaste em relações interpessoais.
Infelizmente, Irene se viu em uma situação parecida com a de sua mãe. Seu então parceiro a traiu, ocasionando outro término doloroso em sua vida. A mulher, agora mãe, reconhece que situações como essa afetam suas crianças, “O que eu acho é que dói muito você não ter um pai presente em vários momentos. Sinto isso hoje na vida dos meus filhos, porque eles não têm o pai presente e eu passei por isso”.
Kathleen explica o fenômeno que pode justificar a existência de ciclos de relacionamentos abusivos e abandonos. “A gente chama isso inclusive de transgeracionalidade, é o entendimento de que costumes e valores e comportamentos, inclusive estruturas e familiares, elas vão passadas geração e geração. Então, a gente aprende com os nossos pais o que é ser família. Eles aprenderam isso com os pais deles, que aprenderam os pais deles, que aprenderam com os pais deles.” A profissional ainda explica que, em vista de romper o ciclo do trauma geracional, é necessário apoio psicológico e comunicação intrafamiliar.
Ao ser questionada sobre como funciona a psique do homem que abandona seu filho, Kathleen diz que existe um processo de quebra, e quase um luto para ele. “Existe um papel que vai ser quebrado assim que ele pisar fora de casa, sair da vida familiar, vai existir uma quebra relacional muito grande”. Mesmo assim, a psicóloga afirma que essa não é uma regra que se aplica a todos os pais, mas que é válido pensar caso a caso, e que dificilmente o abandono é uma decisão impulsiva.
“Você só se torna pai se você tiver filhos. É a única forma de você conseguir esse papel. É quando alguém olha para você e fala ‘você é o meu pai’.” Ao optar por abandonar o filho, o homem também abandona parte de sua identidade, o único fator que faz dele um pai, e a psicóloga assegura que é um processo complicado, possivelmente doloroso também.
Irene afirma que, apesar de todas as adversidades, aprendeu a lidar com a perda e, após saber de toda a situação e erros de seu pai, se tornou mais fácil viver sem ele em sua vida. “Então, independente de tudo o que aconteceu, tanto com o meu pai como com o meu marido, eu não parei de acreditar que a gente pode sim achar uma pessoa que seja leal, que seja parceira, que possa conviver com a gente. Então a única coisa que eu deixaria de mensagem é: não desista”, conclui.
Projeto promove a integração de pontagrossenses de diferentes idades e gêneros no universo literário
Bando-Mulheres
No dia 31 de agosto, foi realizado o encontro mensal das mulheres que integram o grupo de leitura “Bando-Mulheres”, um dos grupos que compõem o projeto “Bando de Leitura”. O local da reunião fica no bairro de Oficinas, onde reside Lucélia Clarindo, contadora de histórias e líder do projeto. Além de sediar reuniões de tantos grupos, também dá palco para espetáculos culturais desde 2014.
A entrada indica o caminho para a imersão no mundo da cultura. Foto: Lorena Santana
Agosto é marcado como o mês de conscientização no combate à violência contra a mulher, por isso a reunião do Bando-Mulheres contou com apresentação da peça “Jornada de Ida”, interpretada pelas atrizes Aline Navarro e Viviane Oliveira. A peça aborda aspectos da ancestralidade e expõe situações em que a sociedade se mostra tão invasiva e violenta com a mulher.
A peça integrou o 3° Festival Catavento, que é uma realização do Coletivo Cacareco. O festival concede oportunidades para grupos de teatro de Ponta Grossa circularem em espaços da cidade que não são tão centrais, chegando a públicos que talvez não tivessem oportunidade de usufruir dessa arte.
A ancestralidade é um tema fortemente explorado durante a apresentação. Foto: Lorena Santana
A direção ficou por conta da própria atriz Viviane Oliveira, que teve como inspiração o livro “Mulheres que correm com os lobos”. O livro também é utilizado como base para as leituras e discussões feitas nos encontros do Bando-Mulheres. Viviane idealiza o lado lúdico e visual da peça e Aline entra com a perspectiva de histórias reais que se misturam e resultam na apresentação que chega para o público. Ela e a companheira de cena estudaram teatro juntas e foi assim que se conheceram. O desejo era fazer uma peça autoral e independente.
Durante as conversas e discussões de ideias para a peça sempre surgiam “angústias comuns”. Foi aí que surgiu a ideia para a apresentação. “A intenção é trazer com a peça experiências coletivas para que as mulheres não se sintam isoladas em suas vivências, com suas histórias, mas que haja uma identificação e assim um incentivo para uma perspectiva de melhora.” declara Aline.
O cenário contribui para a expressão das emoções das atrizes. Foto: Lorena Santana
A direção ficou por conta da própria atriz Viviane Oliveira, que teve como inspiração o livro “Mulheres que correm com os lobos”. O livro também é utilizado como base para as leituras e discussões feitas nos encontros do Bando-Mulheres. Viviane idealiza o lado lúdico e visual da peça e Aline entra com a perspectiva de histórias reais que se misturam e resultam na apresentação que chega para o público. Ela e a companheira de cena estudaram teatro juntas e foi assim que se conheceram. O desejo era fazer uma peça autoral e independente.
Durante as conversas e discussões de ideias para a peça sempre surgiam “angústias comuns”. Foi aí que surgiu a ideia para a apresentação. “A intenção é trazer com a peça experiências coletivas para que as mulheres não se sintam isoladas em suas vivências, com suas histórias, mas que haja uma identificação e assim um incentivo para uma perspectiva de melhora.” declara Aline.
A peça transita entre: o que a mulher ainda é, o que ela quer ser e as barreiras que ela precisa vencer. Foto: Lorena Santana
“É muito fácil a gente não fazer o que quer e se perder de si buscando atender a todas as demandas que a sociedade coloca nas nossas costas. É tão natural que a gente nem se dá conta”, constata Viviane.
Após a encenação, houve uma oficina com as mulheres que assistiram, onde elas compartilharam suas experiências em um exercício de ouvir e serem ouvidas.
Uma das participantes do Bando-Mulheres é Viviane da Cunha. Emocionada com a peça, afirma que o principal motivo foi a identificação em relação aos medos que a mulher carrega: “Nós, mulheres, carregamos uma vida inteira de medos, traumas e por muitas vezes acabamos nos acostumando de tão naturalizados que são. Quando a gente percebe que consegue superar esses medos, a gente fica mais forte. A arte tem o poder de tirar a venda que nos cega e nos dá força para lutar contra essas imposições”.
O Bando da Leitura:
Sobre a origem do projeto, Lucélia conta que após ter se aposentado da sua ocupação de professora, duas ex-alunas expressaram um interesse incessante em continuar ouvindo as histórias que ela contava no pátio da escola municipal Frei Elias Zulian. E foi assim que na tarde de um quarta-feira, em 2007, ela abriu pela primeira vez as portas de sua casa para recebê-las.
Além das meninas, um grupo de interessados em participar da roda de leitura também iniciaram as visitas. O grupo, por vezes, chegava a contar semanalmente com 30 integrantes, variando entre crianças e adolescentes. Tal iniciativa fez nascer o grupo que segue até hoje.
Através de um edital do Ministério da Cultura em 2008, ela conseguiu alguns livros e materiais para montar uma sala de leitura no seu terreno. Por meio de parcerias, dois anos depois estaria concluída aquela que hoje é a sala de leitura do Bando.
O Bando da leitura é dividido em três grupos:
O “Bando-Bando”, pioneiro em 2007 que reúne semanalmente crianças e adolescentes. Atualmente, o dia do encontro é nas sextas-feiras, no período da tarde.
Além da sala de leitura, há um ateliê que conta com itens de papelaria onde as crianças ficam livres para expressar sua criatividade. Foto: Lorena Santana
O “Bando-Mulheres” reúne o público feminino e conta com encontros mensais para a discussão de leituras e exposição de reflexões. O início se deu em 2022 e hoje conta com 12 mulheres.
E por fim, o “Bando da Saudade” que foi iniciado junto ao Bando-Mulheres em 2022., Consiste em um almoço mensal com os idoso do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) do Cará-Cará. Após a refeição, elas promovem uma arte terapia com os participantes.
Lucélia assume que o gosto pela leitura mudou sua vida e é isso que ela quer transmitir para os participantes do grupo. Seu irmão sempre falava que para quem não tinha posses, a única saída eram os estudos e os livros. Segundo ela, a leitura dá asas, liberta e permite conhecer novos horizontes.
“Cheguei a conclusão que é o pobre quem deve ler. Porque o livro, é a bússola que há de orientar o homem no porvir” – Carolina Maria de Jesus. Foto: Lorena Santana
Em caso de interesse em participar do projeto, é possível contatar Lucélia através do telefone: (42) 99972-6424.
Em cinco anos, mais de 40 denúncias de situações vivenciadas foram recebidas pela Associação das Doulas do Rio de Janeiro
A Associação das Doulas do Rio de Janeiro recebeu mais de 40 denúncias de violência obstétrica entre 2019 e 2024, sendo quatro delas registradas em São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Bahia. As denúncias foram feitas por meio de um canal de denúncia online do projeto Doula a Quem Quiser e encaminhadas para o Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher Vítima de Violência de Gênero (Nudem), da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que avalia a possibilidade de abrir um processo judicial para reparação de danos morais, físicos ou psicológicos.
Segundo cartilha do Ministério da Saúde, a violência obstétrica é caracterizada pelo desrespeito às pessoas que gestam, à sua autonomia, ao seu corpo e seu processo reprodutivo, na gestação, no parto ou no pós parto, podendo se manifestar através da violência física, verbal ou sexual e pela realização de intervenções e procedimentos desnecessários ou sem comprovação científica.
A doula, educadora e uma das criadoras do projeto Doula a quem quiser da Associação de Doulas do Rio de Janeiro, Paula Inara, acredita que o receio em denunciar parte do desconhecimento, vergonha e falta de crença de que a denúncia será ouvida. Porém, sempre que um caso é veiculado ou divulgado na mídia, o número de denúncias no site e na ouvidoria da ADOULAS aumenta. Ela afirma a necessidade da criação de um disque denúncia em todos os estados do Brasil. “Os abusos e violências obstétricas acontecem em todos os estados, e todas as mulheres precisam ter acesso a esse canal de denúncias.”
Histórias de violência
Janete Dalcol compartilhou a história do parto de seu quinto filho, no qual sofreu violência obstétrica. Paulo Henrique nasceu quando Janete tinha 43 anos, ela decidiu fazer a laqueadura junto ao parto, pois não tinha saúde para enfrentar mais uma gestação. Durante a gravidez, teve muitas complicações e foi orientada pelo obstetra a fazer a cesariana quando estava com 36 semanas.
Após o parto, o bebe não reagia. “Quando o meu obstetra entrou no quarto eu estava muito nervosa, chorando muito, e perguntei pra ele: ‘Doutor, e agora? O senhor fala que estava na hora de fazer a cesariana e o bebê não está reagindo’, e ele olhou pra mim rindo e disse: ’Não se preocupe, vai ficar tudo bem’, como se eu fosse um nada para ele, como se a vida do meu filho não importasse”, contou. Ela relatou que nessa hora se sentiu abandonada e sozinha e que se desespera ao lembrar que tudo isso aconteceu porque era final de ano e o obstetra iria viajar, então queria que o parto acontecesse logo, por isso recomendou a cesariana tão cedo.
A mãe também conta que sofreu com a anestesia. “O anestesista furou minhas costas duas vezes e eu falei pra ele que estava doendo muito, a dor era horrível e eu não conseguia me abaixar na posição que o médico mandava, então ele falou alto e grosso: ‘Abaixa mais, assim não vai ter condição’ ,gritando”.
Janete afirma que hoje em dia o seu filho está bem e saudável, mas que se culpa por ter deixado fazerem a cesariana. “Eu carrego essa culpa, eu me culpo o tempo inteiro, o médico deveria ter me orientado. Isso me trouxe traumas que até hoje eu não consigo superar, além de que ainda tenho muita dor na barriga. Vai fazer 10 anos e tem momentos que eu passo o dia inteiro com o barulho da UTI no meu ouvido”, lembra. Ela ressalta que poderia ter evitado todo esse trauma se tivesse o apoio de alguém que falasse que era possível realizar a laqueadura depois, e que não precisava ter feito a cesariana, caso tivesse mais informação sobre o assunto.
A psicóloga neonatal, Nicole Lemos dos Santos, fala sobre a dificuldade em identificar e denunciar a violência obstétrica. Segundo ela, isso acontece devido à falta de informação sobre o que é normal e o que se caracteriza como violência obstétrica dentro de um processo gestacional e de parto.
Nicole esclarece que a percepção se torna difícil para a mulher devido a situação, na qual ela está com dor, medo, ansiedade e todas as emoções envolvidas no nascimento de seu bebê. Por isso, é muito importante também que o acompanhante esteja bem informado. “A informação sobre os tipos de violência obstétrica auxilia muito na prevenção dessa situação.Tanto a gestante quanto o acompanhante de parto precisam estar bem informados sobre o assunto”.
A psicóloga alerta sobre a importância de buscar acompanhamento psicológico em casos de violência obstétrica para trabalhar os possíveis traumas e transtornos causados. Além disso, afirma que é fundamental realizar a denúncia. “Isso ajuda muito a diminuir as chances de que aconteça com outras mulheres ou até com elas mesmas novamente. Quanto mais denúncias houverem, mais isso será evitado”, comenta. Nicole pontua a necessidade de transmitir a quem já sofreu esse tipo de violência, que nenhuma mulher tem culpa por ter passado por isso. Os únicos culpados são aqueles que praticaram tais atos.
Na visão da psicóloga neonatal Verônica Mendes, a violência obstétrica é uma grande causadora da mortalidade materna e do bebê e que isso não é uma questão apenas do parto ou pós parto. “A gente considera como dados da mortalidade materna, tanto na gestação, quanto 40 dias após o parto, quando, por exemplo, a mulher já está em casa e ocorre hemorragia interna, questões de cicatrização e infecção nos cortes”, comenta.
A profissional também fala sobre as consequências que este tipo de violência pode causar na vida da mãe e do bebê. Segundo ela, além do trauma, pode desencadear diversos transtornos mentais, desde estresse pós-traumático, tocofobia, caracterizado pelo medo de ficar grávida novamente, depressão pós parto e dificuldade de criar vínculo com o bebê.
O levantamento Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que 30% das mulheres atendidas em hospitais privados em 2012 sofreram violência obstétrica. No Sistema Único de Saúde (SUS), a taxa foi de 45%.
Além do Disque do projeto Doula a Quem Quiser, a violência obstétrica pode ser denunciada por meio do canal de denúncias on-line do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (NUDEM) da Defensoria Pública do Estado do Paraná, no Disque Saúde (136) ou no Disque violência contra a Mulher (180).
Mesmo com lei que proíbe, é comum encontrar locais com elementos urbanos que impedem uso público
Gradil, pontas de metal, bancos com divisórias, blocos de concretos e cercas: esses são alguns dos elementos urbanos criados para evitar a circulação, permanência e o uso público de determinados espaços, principalmente para pessoas em situação de rua. Esse conjunto de técnicas, medidas e construções é chamado de arquitetura hostil. O Estatuto das Cidades, a lei Padre Júlio Lancellotti nº 14.489/2022, proíbe esse tipo de construção e estabelece a retirada dessas estruturas.
Em Ponta Grossa, são encontrados exemplos em vários pontos da região central e do comércio, como no Clube Ponta Lagoa, localizado na rua Marechal Deodoro da Fonseca; no Banco Itaú, na rua Dr. Colares, nos Correios, que fica na rua Augusto Ribas, entre outros locais.
A arquitetura hostil não afeta apenas pessoas que estão em situação de rua, mas também dificulta a acessibilidade de todos que fazem uso dos ambientes públicos, tornando a cidade excludente. Situações do cotidiano são impactadas por esses elementos hostis, como explica a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicesumar, Andressa Woytowicz Ferrari.
“Em paradas de ônibus, por exemplo, a falta bancos para evitar a longa permanência de pessoas em situação de rua impede o descanso de pessoas idosas, mães com crianças, ou qualquer um que precise deste apoio”, pontua, complementando que mesmo elementos que inicialmente não são julgados como hostis, como muros altos de condomínios residenciais, retratam hostilidade e são sinais claros de segregação social que dividem e tornam os espaços públicos impessoais.
A professora ressalta que a arquitetura hostil não é apenas um aspecto físico, mas um problema social, econômico e político que precisa ser analisado de forma mais profunda. “A arquitetura hostil leva a sociedade a normalizar a hostilidade, pensar que é algo natural e que podemos ser cada vez menos empáticos uns com os outros”. Por isso, ela entende que os espaços públicos precisam ser pensados para todos, para que a segregação social seja evitada e combatida.
De acordo com a defensora pública e vice-presidente da Associação dos Defensores Públicos do Paraná (ADEPAR), Ingrid Lima, o objetivo dessas construções hostis é afastar a população em situação de rua dos espaços comuns, e isso se caracteriza como aporofobia, um conceito para designar a aversão a pobres. “A aporofobia está totalmente ligada a políticas públicas que excluem as pessoas em razão da sua condição de pobreza. O intuito dessas construções é que essas pessoas não sejam vistas e sejam cada vez mais afastadas dos locais de convívio da comunidade”, afirma.
A profissional cita o programa Moradia Primeirocomo uma das soluções efetivas para que o número de pessoas em situação de rua diminua. O projeto é uma iniciativa do governo federal baseado no modelo Housing First (Casa Primeiro), originalmente desenvolvido nos Estados Unidos, e que atualmente possui dois projetos pilotos no Brasil: um em Curitiba, no Paraná, e outro em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Com a proposta de oferta de moradia, o projeto conta com serviço de assistência social e saúde. Além disso, propõe que essas pessoas sejam acompanhadas por equipes multidisciplinares para que possam se restabelecer. Em Ponta Grossa, existe o Ministério Melhor Viver que busca o acolhimento e ressocialização de pessoas em situação de rua, visando restaurar a dignidade através da oferta de oportunidades.
De acordo com dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos, em 2023, foram registradas 570 pessoas em situação de rua em Ponta Grossa. Segundo Ingrid Lima, para que essa situação seja resolvida, a construção de políticas públicas efetivas que envolvam áreas sociais básicas, como saúde, educação, e emprego são fundamentais.
A defensora pública ressalta que a sociedade precisa compreender que existem inúmeras vulnerabilidade além da pobreza, como vínculos familiares interrompidos e questões de saúde. Ao entender isso e construir essas políticas públicas, é possível ter um olhar mais humanizado para essa população.
Organizações coletivas oferecem o acompanhamento de mulheres que precisam de auxílio para desenvolver as técnicas de amamentação
Agosto é o mês escolhido para falar sobre a amamentação, conhecido como Agosto Dourado. A Coletiva de Doulas de Ponta Grossa realizou, durante todo o mês, movimentos de conscientização sobre o assunto. Foram feitas rodas de conversa, pinturas gestacionais e diversas ações durante todo o período. A integrante da coletiva, Juliane Carrico, ressalta a importância das atividades que são desenvolvidas no mês. “É preciso lembrar o que as outras pessoas podem fazer para apoiar a causa, não apenas as mães que estão amamentando”, ressalta.
A doula e consultora de amamentação, Sabrina Domingues, ministrou rodas de conversa na cidade durante o último mês de agosto. Ela explica que a amamentação é questão de saúde pública. “A realidade do Brasil é de que muitas mulheres não têm condições de bancar uma fórmula”, afirma, fazendo referência à alimentação destinada às crianças. Ela lembra que a sociedade como um todo deveria abraçar a causa da amamentação. “Existem muitos tabus e mitos em relação a amamentação, como o leite fraco ou a ideia de que é feio amamentar em público”, lamenta.
Sabrina lembra que a falta de informações sobre o assunto é o que mais prejudica as mulheres. “A mãe não tem obrigação de saber como amamentar, são os profissionais da saúde que devem ensiná-la”, destaca. A doula compara o ato da amamentação com andar de bicicleta. “Amamentação não é instintivo, como muitos pensam, é técnica, precisa praticar para aprender”, finaliza.
O Ministério da Saúde apoia o aleitamento materno, trazendo iniciativas como o Hospital Amigo da Criança e as Salas de Apoio à Amamentação. Porém essas iniciativas não são obrigações, apenas recomendações para as instituições. O coletivo de doulas da cidade traz como objetivo conscientizar a população sobre a relevância dos assuntos maternos.
Relembre
Em março deste ano, aconteceu um protesto na Universidade Federal do Paraná. Uma estudante estava amamentando na instituição e sofreu preconceito por parte de outros estudantes. Eles utilizaram palavras ofensivas e afirmaram que a amamentação não deveria acontecer em lugares públicos. Em resposta, diversas mulheres se uniram e protestaram contra esta atitude, exigindo reconhecimento sobre a causa da amamentação.