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Vivências cruzadas, o contraste na paternidade atípica

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Diferentes experiências mostram a importância da figura paterna na vida de pessoas com deficiência

 

Com o mês dos pais, se torna inevitável refletir sobre o papel dessa figura na formação de um indivíduo. De acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), o Brasil registra mais de 91 mil crianças sem o nome do pai em cartório. Para além da presença paterna, fundamental no desenvolvimento de uma criança, uma parte dessa população necessita de um apoio a mais, como no tratamento de uma deficiência.

Nesta reportagem serão contadas duas histórias complementares e opostas: a de Kletson, pai solo de Greta*, uma garota de cinco anos no espectro autista; e de Nic**, uma mulher com deficiência visual que cresceu sem a presença de seu pai. Através do contraste dessas histórias, será ressaltada a importância da figura paterna e retratada a vivência de quem não teve o mesmo privilégio.

 

“Meu foco hoje é criar minha menina”

Pai solo de uma menina de cinco anos com grau 2 de autismo, Kletson Filip conta que descobriu o diagnóstico da filha quando ela tinha um ano e meio de vida e, naquela mesma época, sua esposa faleceu. Filip narra que no começo da vida de pai tentava ajustar seus horários de trabalho com a rotina de sua filha, algo indicado para o tratamento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Eu falo que ela tem um relógio escondido”, diz ao comentar sobre a necessidade de rotina para Greta. “Se eu passo poucos minutos do horário de buscar ela na escola, já começa a perguntar para as professoras ‘cadê o papai?’”. Ele explica que entrava mais tarde e saia no horário combinado com a escola para buscá-la, para que assim não comprometesse a rotina da filha.

Com o passar dos anos e uma necessidade maior de cuidar da filha, o pai travou diversos argumentos com a empresa para mudar seus horários de trabalho para ter mais tempo de cuidado com ela. “Falei que poderia trabalhar menos e receber menos”, comentou ele, complementando que tentou uma redução da jornada, “mas a empresa, nessa parte, não foi flexível”. Assim, entrou em acordo com a empresa, onde trabalhava no setor de qualidade dos produtos de usinagem, para que não ficasse desamparado financeiramente. 

Kletson, como pai solo, já passou por situações em que se sentiu discriminado pela sua situação familiar. Após o desligamento de seu antigo trabalho,  um determinado vizinho sugeriu que ele se casasse novamente, pois, supostamente, as tarefas domésticas não deveriam ser de um homem. O pai fala ainda que brinca com comentários do tipo, especialmente quando questionam sobre a capacidade de criar sua filha sozinho.  “Meu foco hoje é criar minha menina”, diz, ao mencionar tudo que precisou reajustar em sua vida para atender às necessidades de Greta, tanto como criança em fase de crescimento, como de pessoa no espectro autista.

Kletson relembra que, antes da morte da esposa, ela o preparou para cuidar sozinho de Greta, ensinando-o como ajudar uma criança em suas necessidades básicas, como dar banho e fazer a mamadeira. “Não sei se pode falar que foi um pressentimento do que estava para vir, mas ela sempre estava me treinando para isso”.

Nostalgicamente, Kletson relembra sobre os planejamentos que teve com sua esposa para que num futuro pudessem criar uma família. “A gente sempre planejou que teríamos filhos depois que construíssemos nossa casa, casássemos, fizéssemos tudo certo, não na loucura”. No final, ele revela que em casos em que se vê perdido na criação de Greta, ele pensa: “O que minha esposa faria?”. 

A dedicação é quase uma devoção. “Eu tento o máximo que posso me moldar para ela”. O pai narra que seu tempo é praticamente todo voltado a cuidar de sua filha, seus momentos distantes dela são somente aqueles em que Greta está estudando.  “O que eu tenho hoje é minha menina; ela  é meu alicerce”.

 

“A relação com meu pai só me prejudicaria”

Nic descobriu sua deficiência a partir de exames ainda recém nascida. Seu pai não participou do processo de diagnóstico. A princípio, pensava-se tratar apenas de uma catarata que não progrediria facilmente. Por decisão da família, sob influência da avó, foi concluído que não fariam a menina passar por nenhum procedimento e ela obteria a cura a partir da fé: “foi decidido que Deus ia me curar, e é isso”, conta a mulher com um sorriso conformado.

“Eu decidi correr atrás, aos dez anos”, discorre a mulher sobre sua vida. “Eu não me sentia bem, sofria muito bullying e coisas do tipo”. A mãe buscou auxílio médico após a equipe pedagógica da escola alertar sobre a deficiência, “mas, em nenhum momento meu pai participou”.

Infelizmente, aos 10 anos, o tratamento já não seria efetivo e, além de submeter uma criança a uma cirurgia sem chances de sucesso, o risco da condição afetar o olho restante era uma ameaça real, e o tratamento foi deixado de lado. “Minha mãe ainda se sente culpada por ter deixado isso acontecer”, relata, “foi uma decisão delas de não seguir com o tratamento (enquanto ainda era possível)”.

Houve um momento de paz e relativa aproximação, aos 14 anos, quando o pai de Nic ofertou pagar uma lente colorida para ela, visto que sua deficiência afetava sua autoestima. “Meu pai sempre teve uma vida financeira bem melhor que a da minha mãe, e eu pedi ajuda a ele porque eu queria esconder”. No entanto, ela não se adaptou ao uso da lente e decidiu não utilizá-la.

“Eu tinha colocado na minha cabeça que eu ia conseguir fazer uma cirurgia, arrancar todo meu olho e colocar outro”, relata a estudante. “Eu estava tentando ver a burocracia para me inscrever num site de doação, mas o médico me explicou que seria impossível”.  Nic afirma que após constatar que suas opções estavam esgotadas, recorreu ao tratamento psicológico para se aceitar como ela é.

Atualmente, Nic estuda na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e sua visão foi permanentemente comprometida por conta da decisão de sua família de afastar a criança do tratamento. Ao ser convidada para dar a entrevista sobre sua vivência com seu pai, disse que não haveria muito a falar, visto que aquele homem não foi muito presente em sua vida. “Quase nada, pra falar a verdade”, complementa a mulher ao final da frase, entre um riso descontraído.

Ao tentar resumir sua relação com seu pai em poucas palavras, a resposta foi “ela é complexa, e cheia de turbulências”. Ele não estava presente na criação de sua filha: “meu padrasto foi mais próximo que ele”, diz. Ainda assim, Nic fala que sempre tentou manter o contato, por mais que os laços não fossem tão fortes.

“Eu não teria tantos problemas psicológicos, não tentaria me agarrar em outras pessoas para conseguir suprir a falta que ele me fez”, responde ao se indagar sobre como seria sua vida caso seu pai tivesse estado presente na infância. “Se ele tivesse ficado perto de mim, eu tenho certeza de que seria mais independente”.

“Não falo com ele há anos”, relata a estudante sobre seu pai. Ao ser perguntada sobre o motivo do afastamento, ela fala sobre o acúmulo de brigas que resultou na ruptura. “A gente brigava muito, eu e ele falamos muitas coisas pesadas”. Nic diz que foi até seu pai inúmeras vezes para pedir perdão, mas não obteve sucesso.

Durante a entrevista nos corredores da universidade, Nic interrompeu sua fala sempre que outras pessoas se aproximavam, e pediu para que fosse utilizado um nome fantasia. O assunto é marca de uma criação com diversas faltas, e a ausência paterna é uma delas. No entanto, é notória a resiliência da garota e a leveza com que ela respondeu a entrevista, salpicando com risos e piadas sempre que pôde. Além disso, ela possui consciência da responsabilidade do pai em sua educação. “Uma relação péssima com meu pai não iria me ajudar, só me prejudicaria”.

 

Paralelas, mas diferentes

As histórias acima retratam uma realidade muito frequente. A ausência do pai de Nic é um fator fundamental para a construção de sua vida como ela é hoje, e apesar dos traumas gerados por essa falta, a mulher se mostra pronta para traçar seus objetivos e seguir a vida, com sua mãe e padrasto como apoio. Enquanto isso, Greta terá um pai que dedica a vida para garantir que suas necessidades específicas sejam atendidas.

 

*Pseudônimo criado para preservar a identidade da criança a pedido do pai

**Nome fantasia escolhido pela fonte para manter sua identidade em segredo

Texto por Gabriel Aparecido e Victor Schinato

“Verão de Lenço Vermelho”: A literatura como ato de resistência

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“Verão de Lenço Vermelho” se destaca ao entrelaçar a narrativa juvenil com uma poderosa crítica à opressão política. Situado em um acampamento soviético dos anos 1980, o romance vai além da ficção, desafiando a censura e provocando reflexões profundas sobre a liberdade e a resistência

 

“Verão de Lenço Vermelho” transcende a definição convencional de um romance juvenil, mergulhando profundamente na arena da resistência política e cultural. Ambientado em um acampamento soviético dos anos 1980, o livro não se limita a explorar a experiência juvenil, mas se estabelece como um símbolo potente contra a censura e a opressão. Desde seu lançamento, a obra, fruto da colaboração entre Katerina Silvánova e Elena Malíssova, tornou-se um fenômeno literário e político significativo, capturando a imaginação de leitores globalmente e, simultaneamente, provocando uma reação severa por parte do governo russo.

O romance segue a história de Yura e Volodya, dois jovens cujos sentimentos amorosos emergem em um contexto de intensa repressão política. A escolha do cenário de um acampamento de pioneiros soviético não é meramente estética; ela serve para iluminar as complexas tensões entre a liberdade pessoal e a opressão institucionalizada. 

Silvánova revelou, em uma entrevista para o ELOS, que uma das inspirações para o livro surgiu de suas próprias memórias de infância. Segundo ela, o acampamento “Latochka”, que figura no romance, é uma recriação de um lugar que representava tanto alegria quanto repressão naqueles anos difíceis.

 

O processo criativo por trás da obra envolveu uma imersão profunda e emocional. Silvánova e Malíssova desenvolveram os personagens e a trama em uma conversa colaborativa via Skype, resultando em uma criação espontânea e vibrante. A construção dos personagens e suas interações foram estabelecidas rapidamente, refletindo a complexidade e a intensidade dos sentimentos humanos em um ambiente opressivo. Este método criativo permitiu uma narrativa rica e carregada emocionalmente, demonstrando o impacto da repressão sobre a experiência pessoal e social.

 

A recepção da obra foi notável, especialmente nas redes sociais, onde o livro encontrou um espaço de destaque no TikTok. A viralização na plataforma ajudou a ampliar sua audiência e fomentou discussões sobre temas controversos e muitas vezes silenciados. Silvánova observou que, longe de ser a ferramenta principal, as redes sociais servem como um amplificador para narrativas LGBTQIAP+, cuja relevância e impacto já são evidentes no mundo moderno.

 

A censura, que teve início em maio de 2022, resultou na proibição oficial da obra na Rússia. Este ato de repressão, paradoxalmente, acirrou o interesse do público e estimulou uma demanda ainda maior pela obra. Silvánova observou que, mesmo antes da censura, o livro já contava com um público fiel e apaixonado, e a proibição apenas intensificou o desejo dos leitores de acessar o texto. Isso demonstra o poder da literatura como um veículo para desafiar regimes opressivos e inspirar resistência.

 

A decisão de publicar uma sequência do livro, mesmo diante das crescentes ameaças e perigos, foi um ato de firmeza e coragem. Silvánova e Malíssova justificaram sua escolha afirmando que “não podíamos ter medo e esconder a cabeça na areia”. Elas vêem a escrita como uma forma de expor as fraquezas do regime e oferecer esperança aos leitores. Este compromisso com a continuação da história reafirma o papel essencial da literatura na resistência e no apoio durante tempos de repressão.

 

“Verão de Lenço Vermelho” se ergue não apenas como uma obra literária, mas como um poderoso símbolo de resistência e esperança. Através de sua narrativa envolvente e do impacto cultural que provocou, o livro desafia a censura e continua a inspirar leitores ao redor do mundo. Silvánova encapsula o impacto contínuo da obra com uma frase marcante: “Sempre há esperança. A literatura e a arte continuarão a desafiar – elas sempre fizeram isso. A questão é se esses desafios podem ajudar a derrubar esses regimes repressivos.” Assim, o romance não só testemunha a capacidade da literatura de desafiar normas e inspirar mudanças, mas também reforça seu papel vital na promoção da aceitação e na luta contra a opressão.

 

Texto por Maria Gallinea
Arte: Divulgação/Editora Seguinte

Ponta Grossa está entre as cidades com maiores taxas de estupro do País

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O local mais frequente para os abusos sexuais são as residências, somando quase 62% dos casos

 

O Paraná é o estado com maior número de cidades presentes no ranking de maiores taxas de estupros do país, com nove municípios. Entre as cidades estão Guarapuava (8º posição), Almirante Tamandaré (9º posição), Colombo (20º posição), Araucária (21º posição), Piraquara (31º posição), Fazenda Rio Grande (32º posição), Ponta Grossa (34º posição), Paranaguá (40º posição) e Cascavel (43º posição).

O ranking foi divulgado no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, junto com a informação de que o Brasil atingiu um novo recorde de casos de estupro. De 2011 para 2023, o número de vítimas no país aumentou cerca de 92%, praticamente dobrou em um período de 13 anos. De acordo com os registros policiais, foi registrado um crime de estupro a cada seis minutos no Brasil no último ano.

Apenas 15,3% dos casos de violência sexual foram praticados por desconhecidos das vítimas. Familiares são os agressores em metade dos casos de violência sexual no país, parceiros íntimos e ex-parceiros representam 20,8% dos agressores e 14% são outros conhecidos das vítimas.

A professora de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Maria Cristina Rauch Baranoski, explica que o estupro é uma forma não consentida da realização de um ato sexual, seja entre desconhecidos ou parceiros amorosos. “Muitas mulheres não conseguem perceber que existe violência em uma relação, pois muitas têm a ideia de que se há um casamento ou união, existe a obrigação da mulher sempre estar disponível para a prática do ato sexual”, lamenta. A advogada explica que a tipificação da violência sexual está presente na lei Maria da Penha, não importando quem seja o agressor.

Maria Cristina fala sobre a dificuldade de evitar um crime que acontece em ambiente privado, sem a presença de testemunhas. “A sociedade acaba justificando o crime falando que a culpa é da mulher por usar um tipo específico de roupa ou por sair à noite, por exemplo”. A professora relata que a culpa é na maioria das vezes jogada na vítima, por conta de todo um envolvimento social com uma ‘cultura do estupro’. “O medo do julgamento impede muitas vezes a denúncia”, finaliza.

Denúncias devem ser feitas na Delegacia da Mulher. Em Ponta Grossa, pode ser usado o número (42) 3309-1300. O Sistema Único de Saúde (SUS) deve prestar atendimento integral e gratuito para as vítimas de estupro, de acordo com a lei 12.845. É recomendado que a primeira ação da vítima seja buscar o atendimento de saúde, pois para ter acesso ao serviço a mulher não precisa ter feito o boletim de ocorrência.

 

Por Ester Roloff e Ticyane Almeida

PG registra baixa procura por imunização contra poliomielite

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A doença está erradicada do país desde 1994, mas para continuar é preciso atingir os 95% recomendados pelo Ministério da Saúde

Ponta Grossa enfrenta um cenário preocupante em relação à poliomielite, com a cobertura vacinal abaixo do ideal. Até o momento, em 2024, o Paraná já registrou 10 casos da doença, somando 98 nos últimos quatro anos, de acordo com o painel epidemiológico do Ministério da Saúde. No município, a vacinação contra a poliomielite atingiu apenas 81,82% para a Pólio Injetável (VIP) e 82,73% para a Pólio Oral Bivalente, bem abaixo dos 95% recomendados para garantir a imunidade de rebanho.

Essa insuficiência eleva o risco de reintrodução do poliovírus, especialmente em um cenário nacional onde o Brasil foi classificado como de muito alto risco em 2022 e de alto risco em 2023 para o ressurgimento do vírus. Segundo informações da Campanha Nacional de Vacinação Contra Poliomielite deste ano, disponibilizada no site do Ministério da Saúde  com dados contidos na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) atualizados no dia 8 de agosto, dos 19 mil da população alvo, apenas 5 mil doses foram aplicadas, e entre crianças de 1 até 4 anos uma média de 26% foram vacinadas.

Danielle Ruiz Miyazawa Ferreira, médica infectopediatra do Hospital Universitário de Londrina e do Hospital do Câncer de Londrina, destaca a importância de atingir a meta de 95% nas campanhas de vacinação. “Essa porcentagem garante a imunização de rebanho, protegendo inclusive os 5% que não podem ser vacinados devido a reações alérgicas ou outras contraindicações”.

Ela ressalta que, desde a pandemia, a adesão às campanhas caiu significativamente, pois muitos pais temiam sair de casa para vacinar seus filhos. Além disso, Ferreira alerta para o impacto negativo das fake news, que dificultam ainda mais os esforços de vacinação. “A orientação médica tem um papel fundamental na adesão às vacinas. Quando os pais levam a carteirinha de vacinação para o médico conferir, a probabilidade de manter as imunizações em dia é maior”, explica. Para reverter a baixa adesão, ela sugere que uma divulgação mais intensa, informando sobre os locais de vacinação e a realização de mutirões, pode aumentar a cobertura vacinal e ajudar a atingir a meta necessária. 

Maria Eduarda Solano Baptista mantém as vacinas de sua filha em dia e diz que, mesmo não recebendo a explicação do que necessariamente significa a poliomielite, nunca rejeitou as vacinas, pois se elas existem é porque são importantes.

 

Importância da prevenção

O vírus da poliomielite pode ser transmitido por via fecal-oral, ou seja, a pessoa pode se infectar através de água ou alimentos contaminados. O vírus se aloja no intestino e em alguns casos pode atingir o sistema nervoso central, causando então uma paralisia.

Maria Eduarda também destaca a importância de combater o pensamento negacionista da sociedade brasileira sobre as vacinas, que acabou crescendo drasticamente com a pandemia do Covid-19. “O pensamento negacionista se reverte com educação, sem dúvidas o fortalecimento das políticas públicas, com desenvolvimento de ações para firmar a vacinação como algo obrigatório, pode evitar futuros problemas”, observa.

A campanha contra a poliomielite acontece todos os anos entre os meses de maio e junho, mas é obrigatório que os postos de saúde disponibilizem a vacina durante o ano todo para os responsáveis que a procurarem.

 

Projeto lança campanha para combater a desinformação nas eleições

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O projeto de extensão Combate à Desinformação nos Campos Gerais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), realizou nesta segunda-feira (12) o lançamento da campanha de combate à desinformação nas eleições de 2024. O evento ocorreu às 19 horas, no Grande Auditório do Campus Central da UEPG, com a participação de professores e estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação em Jornalismo, Direito e História.

A campanha tem como objetivo combater a disseminação de informações falsas durante o período eleitoral na região. O professor Sérgio Gadini, coordenador do projeto, explica que o programa de Combate à Desinformação partiu da iniciativa do Supremo Tribunal Federal (STF) e foi lançado no final do ano de 2021 com apoio de diversas instituições. “O programa surgiu após uma série de confirmações de que, no país, infelizmente aumentaram de forma gradual e mais agressiva as notícias falsas nas redes sociais em momentos de disputa eleitoral”, relata. O programa visa explicar à comunidade que o uso de fake news e boatos nas redes sociais podem prejudicar a democracia e os candidatos.

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, desembargador Sigurd Roberto Bengtsson, participou do lançamento da campanha “PG contra a desinformação”. O desembargador apresenta expectativas positivas para as eleições municipais, considerando a cultura da paz, para que todo o processo se desenvolva com respeito principalmente ao eleitor e à eleitora paranaense.

A campanha “PG Contra a Desinformação” busca desenvolver ações possíveis e solidárias para combater a desinformação, em consonância com a legislação vigente durante o período eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lança disque-denúncia contra desinformação nas eleições: ao ligar de forma gratuita para o número 1491, as pessoas podem denunciar a circulação de notícias falsas durante o processo eleitoral.

UEPG promove evento sobre assédio nas instituições de ensino superior

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“O assédio é um problema social e, como problema social, ele pode se manifestar dentro do nosso contexto”, explicou a palestrante Marcela Godoy

 

Na terça-feira (30), a professora Dra. Marcela Teixeira Godoy ministrou a palestra “O modus operandi do assédio sexual na IES: prevenção, encaminhamento e enfrentamento”. O evento foi uma ação conjunta com a campanha “A UEPG está de olho”, por meio da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), e aconteceu no Grande Auditório do Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Na palestra, a professora falou sobre os casos de assédio dentro das universidades, em específico a relação entre professores e alunos.

Segundo uma pesquisa realizada com as pesquisadoras Stefânia de Castro Helmond, Cristina Trindade Ituassu e Alice de Freitas Oleto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 56% das mulheres entrevistadas já sofreram assédio nas universidades. Além disso, 73% das pessoas conhecem algum caso de assédio dentro das instituições de ensino superior.

Ainda, o estudo mostra que membros do corpo docente vitimam aproximadamente 30% das estudantes de graduação e 40% das mulheres na pós-graduação. Do total, 90% das alunas de graduação reportaram comportamentos indesejados de seus colegas do sexo masculino. 

Na 6° Turma, o Supremo Tribunal de Justiça reconheceu que o crime de assédio sexual (art. 216-A, do Código Penal), associado à superioridade hierárquica em relações de emprego, pode ser caracterizado no caso de constrangimento cometido por professores contra alunos. 

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o Paraná foi o 2° estado com mais casos de assédio sexual e estupro, além de ser o 3° em importunação sexual. No total, foram registrados 1.040 casos de assédio, 7.578 estupros e 3.237 importunações sexuais. O Anuário registrou que no país, de 2011 a 2023, os estupros cresceram uma taxa de 91,5%, e 88,2% das vítimas  registradas são do sexo feminino, sendo em sua maioria mulheres negras (52,2%). No total, foram 41.371 registros de importunação sexual e 8.135 de assédio sexual no Brasil. 

No Anuário, consta ainda que 16% dos homens já cometeram algum tipo de violência contra mulheres. Porém, ao mudar o formato da pergunta (ex: “Você alguma vez já humilhou sua parceira?”), 56% dos entrevistados assumiram que sim. 

De acordo com a palestrante, a ascensão de movimentos ultraconservadores no cenário político brasileiro ajudou a aumentar a violência contra a mulher, já que eles estabeleceram a pauta do debate de igualdade de gênero como uma adversária. Também, há violências que não entram nas estatísticas, como a desconfiança das instituições, a burocracia e dificuldade do acesso a serviços e a denegação que fazem com que a violência não seja reconhecida.

De 122 instituições avaliadas em pesquisa realizada pelo Intercept em 2019 (34 particulares e 88 públicas), 80% dos assédios se concentraram nos campus e seus arredores, enquanto 20% ocorreram na internet, jogos universitários, acolhida aos calouros e república de estudantes. Em 60% dos acontecimentos, os agressores eram estudantes e os outros 45% eram do corpo docente. Essa pesquisa mostrou que, desde 2008, mais de 550 mulheres foram vítimas de violência em instituições de ensino.

No cotidiano, outros tipos de violências veladas citadas por Marcela também se mostram perceptíveis, como por exemplo, o gaslighting, mansplaining e o manterrupting. O gaslighting acontece quando o abusador distorce e tenta invalidar a fala da vítima no intuito de fazer ela questionar sua consciência, enquanto o mansplaining é quando um homem tem a tendência de explicar algo para uma mulher sem considerar que ela já sabia daquilo. Ainda, o manterrupting ocorre quando os homens interrompem o raciocínio de uma mulher de forma desnecessária, de modo que ela não consegue ter seu espaço para ser ouvida. 

A palestrante também falou sobre o seu projeto de exposição “O que você estava vestindo?”, realizado em conjunto com a Universidade do Kansas, que busca dar acolhimento para as vítimas de violência sexual desde 2019. Ele também mantém parceria com o Ministério Público, a Vara da Infância e a Polícia Civil e Militar e trabalha junto à presença de advogados e psicólogos. “Eu vejo o quanto faz a diferença o acolhimento e o encaminhamento correto”, afirmou.

O assédio é caracterizado como toda e qualquer conduta indesejada de natureza sexual que humilhe a vítima e restrinja sua liberdade, além de insinuações e gestos explícitos ou velados. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), as denúncias podem ser feitas através do e-mail praeescuta@uepg.br, pelo WhatsApp (42) 3220-3237 e presencialmente na Ouvidoria da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), localizada na Reitoria do Campus Uvaranas, na Avenida General Carlos Cavalcanti, 4748.

 

Texto por Bruna Sluzala

‘Impostora: Yellowface’ – Uma Sátira Ácida Sobre Apropriação Cultural e Identidade Racial

Novo livro da autora R.F. Kuang, que chega às prateleiras do país neste mês, traz pautas importantes, como o yellowface, um tema ainda carregado de misticismo e desconhecimento pela população brasileira

 

 

A recente obra “Impostora: Yellowface”, de R.F. Kuang, surge como um catalisador crucial para uma reflexão mais profunda sobre apropriação cultural e identidade racial. O livro, com seu enredo envolvente e crítica mordaz, coloca em foco o conceito de yellowface, uma prática de apropriação cultural onde indivíduos não asiáticos assumem estereótipos ou papéis asiáticos, frequentemente de forma insensível e reducionista. A obra de Kuang não apenas expõe essas práticas, mas também explora as complexidades da identidade racial através de uma sátira aguda, na qual a protagonista da obra é uma mulher branca que pratica yellowface.

 

O que é yellowface?

 

O termo yellowface refere-se ao uso de maquiagem, trajes e outros dispositivos para simular características asiáticas em atores não asiáticos, historicamente com o objetivo de reforçar estereótipos ou para preencher papéis que poderiam ser melhor representados por atores asiáticos. Esta prática, que remonta a filmes como “The Good Earth” (1937), onde um ator branco foi pintado de amarelo, perpetua uma visão distorcida e desrespeitosa das culturas asiáticas.

 

Conversas Necessárias

 

Beatriz Amaral, criadora de conteúdo literário, acredita que “Impostora: Yellowface” é um importante ponto de partida para discussões sobre yellowface e apropriação cultural. Segundo Amaral, apesar da apropriação cultural já ser um tema debatido, inclusive nas redes sociais, falar em relação às pessoas amarelas ainda é um tópico obscuro. Por isso, ela observa que o livro pode servir como uma “porta de entrada” para que o público aprenda mais sobre questões de racismo amarelo e apropriação cultural.

 

Amaral também aponta a forma como a obra aborda a apropriação cultural em comparação com outras mídias: “A Kuang faz de uma forma muito genial, que eu acho que é uma forma meio dúbia, porque a gente acompanha a protagonista, que é a pessoa que faz yellowface.” Ela destaca a habilidade do livro em desafiar o leitor a considerar a ética das ações da protagonista, apesar de entender seus dilemas.

 

Para Victor Kiyoshi, também criador de conteúdo literário, essa obra é como um meio eficaz de provocar reflexão.”A história é narrada pelo ponto de vista da pessoa branca, então eu vejo que a obra de Kuang é um ótimo gatilho para o início dessas conversas.” Ele aprecia a forma como o livro permite ao leitor refletir sobre os temas abordados sem simplificar ou reduzir a complexidade das questões.

 

Crítica ao Mercado Editorial

 

Ambos entrevistados concordam que “Impostora: Yellowface” oferece uma crítica significativa ao mercado editorial e às práticas de publicação. Para Amaral, é importante ter alguns cuidados quando o(a) autor(a) escreve sobre um grupo étnico do qual não faz parte. Ela destaca a necessidade de uma leitura sensível e a importância de envolver vozes da própria cultura ao tratar de temas de identidade racial.

 

Para Kiyoshi, a autora fez uma boa escolha em deixar uma pessoa branca fazer a narração da história. Assim, proporciona uma crítica mordaz e direta às práticas de apropriação cultural no mercado editorial.

 

Experiências Pessoais e Impacto Emocional

 

Os críticos refletem sobre como suas identidades pessoais influenciam a interpretação de “Impostora: Yellowface”. Amaral, que tem descendência japonesa, acredita que é muito mais enriquecedor ouvir uma história contada por alguém que faz parte daquele grupo. Ela destaca que, apesar de não ter sofrido bullying, suas vivências moldam a visão crítica sobre o livro.

 

Kiyoshi, por sua vez, relata que a leitura do livro lhe trouxe uma sensação de cura e alívio. “Foi uma leitura tão boa e divertida, sinto que o livro me ajudou a ‘curar’ uma parte que existia muita raiva por viver em uma sociedade racista”, afirma. Ele aprecia como o livro aborda questões raciais sem provocar uma raiva duradoura, o que é raro em discussões sobre racismo.

 

“Impostora: Yellowface”, de R.F. Kuang, não é apenas uma sátira sobre a apropriação cultural, mas também uma obra que provoca uma reflexão crítica sobre o mercado editorial e a representação racial. Através das perspectivas de Beatriz Amaral e Victor Kiyoshi, entendemos a importância de abordar essas questões com nuance e cuidado. A obra de Kuang, ao explorar o yellowface e suas implicações, oferece uma oportunidade valiosa para uma conversa mais ampla sobre identidade, representação e ética na literatura e na mídia de pessoas amarelas.

 

Texto por Maria Gallinea e Ticyane Almeida

Projeto “Câmara Jovem” promove o protagonismo estudantil na política pontagrossense

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A integração entre os colégios e a Câmara Municipal de Ponta Grossa possibilita que adolescentes tenham uma experiência completa no legislativo da cidade

Em parceria com o programa “Eleitor do futuro”, promovido pela Vara de Infância e Juventude de Ponta Grossa, e Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o projeto “Câmara Jovem” visa inserir os adolescentes de 12 a 16 anos de maneira prática na vida política.

A primeira edição, organizada pela Câmara Municipal de Ponta Grossa, aconteceu em 2023 e contava com apenas sete escolas. Neste ano, 18 escolas passaram a fazer parte da representação do projeto. Dentre elas, quatro são da rede privada e 14 da rede pública de ensino. Além do coordenador do projeto, Afonso Verner e de sua auxiliar Renata Lino, cada participante é apadrinhado pelo gabinete de um vereador, assim, os assessores os acompanham e lhes prestam o auxílio necessário. 

Sobre conscientizar e inserir os jovens na política, Renata afirma: “É de extrema importância, pois o futuro que será usufruído por eles está sendo construído no agora. Então, perceber o interesse deles com a melhoria da cidade e com o bem comum é gratificante e tranquilizador.” Ela ainda destaca a evolução percebida durante o processo. “É evidente uma maturidade sendo construída principalmente com relação aos argumentos dos adolescentes e com a relevância dos assuntos apresentados”.

Renata preza pela independência dos adolescentes mas está sempre disponível para prestar o auxílio necessário. Foto:Lorena Santana

Como é feito o processo de escolha dos representantes até a participação efetiva deles no projeto:

Após o preenchimento de formulário e inscrição prévia por parte das escolas interessadas, o TRE-PR cede uma urna eletrônica para cada colégio para que a votação seja realizada. O processo democrático é realizado desde o princípio. Para concorrer, os alunos defendem suas ideias e convencem seus eleitores em uma espécie de campanha. Tendo decidido seu candidato, há o processo de votação para que os vereadores jovens passem por todo o processo da vida política: desde as eleições, até as sessões. 

O programa tem um ciclo mensal dividido da seguinte maneira: 

A primeira semana é destinada à coleta de demandas. O vereador identifica as necessidades da comunidade e planeja o que pode ser feito em relação a isso. A segunda semana é a de orientações por parte do gabinete que acompanha o vereador mirim. Na terceira semana eles enviam o projeto para os coordenadores, para que sejam feitos os ajustes e correções necessárias. 

Na terça-feira da última semana é realizada a reunião das comissões onde é avaliada a constitucionalidade dos projetos, ou seja, se o projeto está de acordo com a constituição federal. E para finalizar, na quinta-feira, eles realizam a sessão onde ocorrem as votações e discussões em torno dos projetos apresentados. 

Por conta da ausência de autonomia política, os projetos que eles apresentam não podem ser efetivados. Porém, caso algum dos gabinetes tenha interesse por algum projeto, pode acolher a ideia e levar para a votação no parlamento convencional, assim como já ocorreram em vezes anteriores. 

Último estágio do ciclo mensal: a sessão ordinária na Câmara Municipal. Foto: Lorena Santana

Ana Santos, 15 anos, representante do Colégio Estadual Cívico-Militar Professor Colares, relata como se sentiu quando eleita. “Eu me senti um pouco assustada pela responsabilidade que me foi concedida, mas hoje o projeto faz parte de quem eu sou. Tenho muita gratidão pelo programa, ele só veio acrescentar em minha vida.” 

Ela reconhece que dentro da Câmara, enxergou que as cobranças feitas por parte da sociedade para com os vereadores por vezes é injusta. “Lá dentro eu percebi que eles possuem bastante limitações e que muitas coisas cobradas pelo povo não cabe a eles realizar.”, disse.

Durante o projeto, realidades se encontram e laços se formam… Foto: Lorena Santana

A constatação de Ana assegura a afirmação de Renata: “A inserção dos alunos no projeto os afasta da bolha na qual eles estão inseridos e os incentiva a ir ao encontro da realidade do outro e enxergar além das suas próprias convicções.”

Mudanças feitas pelo governo estadual nos últimos anos diminuem matrículas na Educação de Jovens e Adultos no Paraná

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O encerramento de atividades em 81 estabelecidos do EJA teve como justificativa a falta de alunos

Desde 2019 o número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem diminuído. É o que mostra o Censo Escolar da Educação Básica 2023 feito pelo Instituto Nacional de Ensinos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em parceria com todas as escolas públicas e privadas do país. De 2019 para 2023, o número de matrículas no Paraná diminuiu de 125.881 para 31.743, o que representa uma queda de 75% do número de estudantes.

O Sindicato dos Professores e Funcionários de Escolas do Paraná, APP-Sindicato, acusa a Secretaria de Educação (Seed) de tornar os estudos do EJA inflexíveis. Antes, os estudantes podiam escolher os dias e horários para fazer as disciplinas, que poderiam ser realizadas em períodos diferentes. Em 2020, o governo adaptou o sistema, que passou a ser semestral, com quatro disciplinas consecutivas e presença diária obrigatória. “O governo vai dizer que não tem demanda para a educação de jovens e adultos. No formato que está oferecendo, não tem mesmo, pois não foi pensada para o trabalhador e estudante da escola pública”, afirma a professora Maria Aparecida Zanetti, integrante do sindicato.

O professor do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paulo Rogério de Almeida, explica a gravidade do problema. “É preocupante, pois o EJA é uma forma da pessoa que não teve oportunidade de seguir o ensino regular ter uma formação”, afirma. Metade dos estudantes do EJA têm mais de 30 anos, então precisam conciliar estudos e trabalho, de acordo com o Censo. “Devemos dar mais incentivo para que haja mais cursos e mais vagas para aumentar a escolaridade das pessoas”, ressalta o professor.

  O trabalhador Davi de Souza completou o ensino médio com 30 anos. “Sempre ia e desistia, fiquei assim por anos, mas terminei mesmo com 30 anos. Vi que o mercado de trabalho está mais exigente e fui em busca de terminar os estudos para conseguir um emprego com salário melhor”, relembra Davi sobre o porquê decidiu entrar no EJA. Ele conta que conseguiu fazer cursos de especialização e concursos públicos após finalizar os estudos, o que fez com que sua auto estima aumentassem. “Me sentia tendo uma outra oportunidade e com esperança de que poderia ir até a universidade”, ressalta.

Os dados coletados pelo Censo Escolar destacam outras questões presentes no EJA, como quase 80% dos estudantes se identificarem como pardos/pretos, número três vezes maior que a quantidade de alunos que se identificam como brancos.

As matrículas do segundo semestre para o EJA estão abertas até o dia 9 de agosto. Para se inscrever, basta comparecer em alguma das escolas da rede estadual que oferece o EJA ou realizar a matrícula de forma online através do site da Secretaria da Educação.

 

 

Paraná é o segundo estado brasileiro com mais casos de feminicídio em 2024

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Em Ponta Grossa, são quatro casos ocorridos no primeiro semestre deste ano 

De acordo com dados apresentados pelo Monitor de feminicídios no Brasil (MFB), o estado do Paraná é o segundo do país com a maior quantidade de casos de feminicídios consumados e tentados no primeiro semestre de 2024, atrás apenas de São Paulo, com 283 registros. O Paraná contabiliza 168 ocorrências, sendo 69 casos consumados e 99 tentados.   

O município de Ponta Grossa registrou quatro casos, sendo dois consumados e duas tentativas. No início de julho, a cidade presenciou a morte da jovem Jaine Kochanski, de 27 anos, que foi morta a facadas em sua residência. O marido, principal suspeito de ter cometido o homicídio, morreu em um acidente de trânsito. 

No Dia Estadual do Combate ao Feminicídio, 22 de julho, menção à data em que a advogada Tatiane Spitzner foi morta pelo marido, em 2018, a Casa da Mulher de Ponta Grossa realizou uma panfletagem em frente ao Terminal Central. Os órgãos da rede pública de enfrentamento distribuíram panfletos e conversaram com a população sobre ações de combate ao feminicídio e a violência contra mulher. 

A soldado do 1º Batalhão de Polícia Militar, Andreia Vaz Staddlan, conta que o foco da panfletagem foi conscientizar as mulheres sobre os diferentes tipos de violência. “Muitas vezes as vítimas não percebem que estão sofrendo algum tipo de abuso. Elas não tem conhecimento que a violência moral, verbal, financeira e patrimonial também são consideradas violências, elas acham que é só a agressão física.” Andreia destaca que a violência, na maioria dos casos, tem precedentes familiares, por isso, muitas vítimas demoram para entender que estão sofrendo.

A soldado do 1º Batalhão de Polícia Militar, Iasmin Martins Pedroso, lembra que existem cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher que estão previstas na Lei Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. De acordo com o Capítulo II, art. 7º, incisos I, II, III, IV e V, a violência física consiste em qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. 

 

Os tipos de violência contra a mulher

 

É considerada violência psicológica qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Trata- se de violência sexual qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. A violência patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. E a violência moral é qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

A juíza de Direito do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Vara de Crimes contra Crianças, Adolescentes e Idosos, em Ponta Grossa, Alessandra Pimentel, explica os métodos de combate ao feminicídio. “Em primeiro lugar, é importante que as vítimas façam o registro da ocorrência, e que não sofram a violência em silêncio. A partir do momento que a mulher faz o registro, o poder público vai conseguir atuar para auxiliá-la, e se for o caso, conceder medidas protetivas de urgência”, destaca. 

De acordo com Alessandra, essas medidas são concedidas por um juiz ou juíza, e a partir delas, o agressor não pode entrar em contato e nem manter nenhum tipo de aproximação com a mulher. Isso auxilia para que a vítima não venha a sofrer novas violências. A juíza também ressalta que as campanhas são importantes para que haja visibilidade dos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher. “Nós temos números muito altos de violência contra a mulher, e números assustadores de feminicídios no Brasil. As campanhas levam essa situação até a sociedade, fazem com que a população saiba que existe esse crime, entenda as formas de proteger as mulheres e os métodos de prevenção e de combate”, afirma.

A advogada e secretária adjunta da Comissão da Mulher de Ponta Grossa, Adrielly de Almeida Ferreira do Prado, também destaca a importância das campanhas de conscientização e defende a necessidade delas iniciarem nas escolas. “O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher. Por isso acredito que a educação de gênero vai ajudar no combate ao aumento dos índices de violência”, destaca Adrielly. 

 

Denúncias podem ser feitas pelos telefones: 

 

190: Polícia Militar (casos de violência em flagrante);

 

181: Disque Denúncia (denúncias anônimas no Paraná);

 

180: Central de Atendimento à Mulher (denúncias, orientações às mulheres em situação de violência e informações sobre direitos da mulher);

 

153: Patrulha Maria da Penha (serviço de proteção e monitoramento de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, que receberam da Justiça as medidas protetivas de urgência).

 

(42)3220-1043 e (42) 99956-3621: Casa da Mulher (oferece atendimento psicológico e social)