Portal Catarinas é alvo de ataques cibernéticos

Na manhã desta sexta (02), o Portal Catarinas, site jornalístico com perspectiva de gênero, entrou novamente no ar após ter sido alvo de ataques cibernéticos. “O ataque é uma violência política e uma tentativa de silenciamento e censura contra as nossas vozes”, afirma Paula Guimarães, jornalista e coordenadora do portal. O site ficou instável entre os dias 26 de março e 1 abril. Mesmo com a volta, a equipe quer investir em ferramentas de segurança através de financiamento coletivo.

O Portal Catarinas começou a ter problemas de queda na última sexta-feira (26). “Em um primeiro momento, não sabíamos que era um ataque”, relata Paula. A equipe do portal acreditava que a queda era causada pelo grande número de acessos no texto opinativo Homens amam outros homens: o olhar para a mulher é apenas sexual, sobre relacionamentos no Big Brother Brasil 21. “A empresa de hospedagem do site falou que o Catarinas estava muito acima da capacidade de acessos, por isso nossa programadora otimizou o sistema e o site voltou ao ar por um período”, recorda. Porém, ao longo do fim de semana, o site voltou a cair. A programadora e a empresa de hospedagem não conseguiram identificar o que estava acontecendo. “O site voltava e caía de volta, de formas sucessivas”, explica Paula.

Na quarta (31), em contato com o suporte técnico da empresa de hospedagem, a equipe identificou que o site estava sofrendo um ataque DDoS (Distributed Denial Of Service). Nesse tipo de ataque, são dados milhões de comandos de acesso em um endereço eletrônico, o que sobrecarrega o sistema e faz com que o link saia do ar. “Eles não atacaram uma única matéria, mas todo o site, por isso tudo caía”, explica Paula. A jornalista relata que anteriormente o Portal Catarinas já tinha sofrido quedas. “Mas não podemos afirmar se foi causado por ataques, porque não tínhamos conhecimento que isso poderia acontecer para investigar na época. Tanto que só fomos descobrir o que estava acontecendo agora, seis dias depois que o site começou a sair do ar”. 

Após denunciar os ataques pelas redes sociais, o portal recebeu o apoio técnico de homens e mulheres da Outsiders Black, da Repórteres Sem Fronteiras e do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). Além disso, várias pessoas, organizações e coletivos feministas divulgaram o ataque e apoio ao Portal pelas redes sociais, como o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). “Foi importante receber esse apoio. Ao mesmo tempo que estávamos desgastadas pelo o que estava acontecendo, fomos fortalecidas através de todas as pessoas que nos apoiaram”, expressa Paula.

Para investir em tecnologia de segurança, além de custear a produção das reportagens e do conteúdo para as redes sociais, o Catarinas conta com um financiamento coletivo. É possível contribuir através da  Catarse (www.catarse.me/catarinas) ou por meio de um PIX para 48991775888 (telefone). “O financiamento coletivo é fundamental para a nossa existência e precisamos dele para potencializar nossas ações. Por isso, fazemos esse pedido para aqueles que leem e gostam do nosso conteúdo: que nos apoiem financeiramente também”, expressa Paula.

Portal Catarinas

Catarinas é um portal independente de jornalismo especializado em gênero, feminismos e direitos humanos. A ideia de fundar o Portal ganhou força no início de 2016, através de atividades realizadas por movimentos feministas e da ação na Rede Nacional Feminista de Saúde, instalada em Santa Catarina desde 2012. O objetivo era criar um espaço para produzir conteúdo, realizar a curadoria e observar os debates públicos sobre gênero. Para financiar a criação do portal, foi desenvolvida uma campanha de financiamento coletivo em 8 de março daquele ano. A meta foi atingida após 45 dias de campanha. O site foi ao ar em 28 de julho de 2016.

Atualmente, o Portal Catarinas é composto por dez integrantes, associadas à Associação Portal Catarinas, entre elas uma antropóloga, duas administradoras, e sete jornalistas. O Conselho Editorial é formado por sete mulheres que prestam suporte teórico à pluralidade de ideias na construção do conteúdo. Karina Janz Woitowicz, parte do conselho editorial do Catarinas, doutora em Ciências Humanas e pesquisadora sobre jornalismo e gênero na Universidade Estadual de Ponta Grossa, fala que o trabalho independente e colaborativo desenvolvido pelo portal é notável, por ser um espaço que contempla as lutas dos movimentos sociais, a defesa dos direitos humanos e o respeito às diferenças.

Karina também destaca que o jornalismo com perspectiva de gênero, uma das bandeiras levantadas pelo Catarinas, têm contribuído para inserir temas no debate público que não são trabalhados pela mídia tradicional, além de visibilizar as vozes das mulheres. “A perspectiva de gênero perpassa os mais diversos assuntos e acolhe as demandas das mulheres negras, indígenas, LGBT+, trabalhadoras rurais e urbanas, pobres, encarceradas, entre outras, contribuindo para o reconhecimento de direitos em uma sociedade conservadora e desigual”, defende.  

Ataque a Jornalistas

O ataque ao Portal Catarinas não é um caso isolado. O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil  2020, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mostrou que em 2020 houve um crescimento de 105,77% no número de ataques dirigidos a jornalistas no Brasil. Foram registrados 428 casos no ano passado, em comparação a 208, em 2019. O relatório também aponta que o presidente Jair Bolsonaro foi responsável por 175 registros de violência contra a categoria, o que representa 40,89% do total de casos.

Além disso, mulheres jornalistas são duplamente suscetíveis a serem vítimas de violência por exercerem seu direito à liberdade de expressão e por razões de gênero, como indica o relatório Mulheres jornalistas e liberdade de expressão, publicado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em março de 2019. Já o relatório Mulheres no Jornalismo Brasileiro, desenvolvido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em fevereiro de 2018, indica que 41% das jornalistas mulheres já sofreram insultos ou ameaças pela internet.

 

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