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Uma imprensa que deveria lutar pelas questões de gênero

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A violência é uma questão discutida todos os dias nos noticiários locais, mas e a segurança dos grupos minoritários? O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) em 2017 foram contabilizados 179 assassinatos de travestis ou transexuais, ou seja, a cada 48 horas uma pessoa trans é assassinada no Brasil e em 94% dos casos é contra o gênero feminino.

É pressuposto que colocar em discussão estas e outras questões de gênero seja papel importante dos meios de comunicação. Quando isso não acontece a população fica carente de informação e quem mais perde com isso é a população trans. Perdem sua identidade e o direito a voz.

Nesta semana, foram publicadas diversas matérias sobre o atropelamento de Gaby Scheifer, a qual era uma mulher trans. Entretanto, das três matérias analisadas (em três veículos diferentes), pode-se dizer que nenhuma teve a preocupação com a história desta mulher. O telejornal Paraná Tv 1ª edição e o portal de notícias aRede não tiveram a preocupação de tratá-la pelo nome social.

Foi constatada que Gaby havia levado três tiros antes do atropelamento, as matérias supõem que a vítima fugia do assassino. Colocam afirmações como “o crime pode ter conotação sexual, já que a vítima era transexual”, dando um tom pejorativo para a matéria. Em nenhum momento as publicações têm a preocupação de dizer quem era a vítima e o que fazia, muito menos em contextualizar com dados e estatísticas a luta das pessoas trans. Perde-se aqui, a identidade de uma mulher e a oportunidade de se fazer o bom jornalismo. Esta semana, mais uma vez, o jornalismo pecou em pontos essenciais e em casos importantes para a luta de gênero.

Links:

http://m.arede.info/ponta-grossa/219198/trans-atropelada-levou-tres-tiros-antes-de-morrer

https://www.diariodoscampos.com.br/noticia/transexual-morre-na-rodovia-prc-373

http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-1edicao/videos/t/ponta-grossa/v/sete-pessoas-morrem-em-acidentes-no-fim-de-semana-em-ponta-grossa/6831152/

  Kethlyn Lemes

Mini-documentário: “Uma visão dos Migrantes Refugiados em Ponta Grossa”

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O mini-documentário “Uma visão dos Migrantes Refugiados em Ponta Grossa”, realizado pela estudante do 1° ano do curso de Jornalismo da UEPG, Amanda Gongra, mostra uma combinação de entrevistas com refugiados de Angola, Síria e Haiti que atualmente moram na cidade de Ponta Grossa. O vídeo foi divulgado ontem, 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado. O trabalho mostra a história de pessoas que tiveram que sair de seu país de origem e encontraram refúgio na cidade. É baseado nos textos da filósofa Hannah Arendt, uma judia que viveu na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e também foi refugiada. O produto quer dar voz aos refugiados e suas histórias, mostrando suas perspectivas sobre o tema.

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=Ayhjbjh35Io[/embedyt]

A invisibilização do Negro na Teledramaturgia Brasileira

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A teledramaturgia no Brasil é fato, acessível a todas as camadas, a todas os seguimentos e faixas etárias. Nesse sentido, poderíamos dizer que a teledramaturgia é democrática.  -Só que não.  Qual o grau de nocividade dela para o expectador?  Quando deixamos de refletir sobre o que ela apresenta?

A teledramaturgia é um produto, do qual somos consumidores. Mesmo que eu posso dizer que não assisto, a grande maioria assiste. Desta forma, o reflexo da teledramaturgia se apresenta nas relações sociais, no cotidiano, na legitimação da desigualdade, da manutenção de estereótipos, na invisibilidade do negro, personifica a estética do branqueamento.  Sendo assim, direta ou indiretamente ela nos afeta.

Então, precisamos refletir sobre as novelas que consumimos, como um produto que adquirimos cotidianamente. A teledramaturgia é materialidade para o exercício crítico, ela precisa ser pensada como um elemento ideológico legitimador da desigualdade racial no Brasil. O pesquisador e escritor mineiro Joel Zito Araújo, autor do livro e documentário “A negação do Brasil, depois de “garimpar” informações nos arquivos da Globo, da Cinemateca, com autores, diretores e atores, ele pôde concluir: “Quando a novela não é de temática sobre escravidão, em que o negro obviamente faz papel de escravo, ele interpreta empregados, motoristas, porteiros”. Para Zito o papel do negro, qualquer que seja, raramente tem destaque na trama, as  empregadas domésticas podem até ser engraçadas, porém não apresentam uma história própria, estas mulheres negras que desempenham papeis que estão sempre  apoiados aos personagens brancos.

No momento, vivemos um retrocesso na questão da abordagem racial, com ínfima participação de negros, mesmo quando retratam o estado da Bahia em que a população negra apresenta um percentual de 76,3%, ela é retratada por um elenco majoritariamente branco, havendo a negação do negro e o branqueamento explícito. A trama anterior: A força do Querer de 2017, se desenvolveu no Estado do Pará, que é constituído por 76,7 % de negros, no entanto, o elenco novamente hegemonicamente branco, sendo que uma das protagonistas branca dançava o Carimbo, dança tipicamente de origem indígena, e africana. Podemos afirmar que  a ideia Freireana do mito da democracia racial é uma falácia, constatamos a inexistência de negro nas novelas. Quando há uma preponderância de atores negros em novela ou trata-se de tema de escravidão, ou em espaço como favelas, presídios, marginalidade em situações que só reforçam o preconceito atuando no imaginário coletivo de forma a naturalizar o racismo e a manutenção de estereótipos de inferioridade do povo negro, justificando que deve retratar a “realidade”, o compromisso com a verdade somente quando reforça estereótipos.  Não para retratar a cultura, a diversidade, a sociedade, como no caso em evidência a nova novela das 21h em que a Bahia é branca e muito mais.

É lamentável perceber o caráter ideológico destas produções, no processo de solidificação do preconceito, do racismo, da desapropriação cultural e na ratificação de subalternidade, marginalidade e invisibilidade da maioria da população brasileira. Somos mais de 53%, entre negros e pardos, na sociedade brasileira. Sendo assim, é preciso um exercício crítico, uma vez que somos consumidores de novelas que não nos representam, que alienam e não fortalecem a nossa contribuição cultural,econômica e social no Brasil.  Ratificando assim, apenas a marginalidade e invisibilidade do povo negro, ou seja nega a existência da maioria da sociedade, seu  próprio consumidor. Sendo este um desejo das elites, este processo de branqueamento a cada geração, há uma pressão estética enorme, a qual não é positiva, ela é muito colonizada e está a serviço de uma política e na manutenção da desigualdade social e na manutenção desta sociedade.

Precisamos nos defrontar no espelho com a aquilo que somos, compreendendo a importância do povo negro e a sua contribuição para a construção da sociedade brasileira,trata-se de uma maioria negra que compõe e contribuiu e contribui econômica, cultural mente com este país, atitude que vai na contramão da cultura do branqueamento que valoriza os traços arianos, exercendo um papel perverso e cruel com o ator negro e com seu povo, invisibilizando-ose reforçando cotidianamente o mito da democracia racial,agindo de forma a enfraquecer, abalar a auto estima, a sua representatividade e o poder político de que quem constitui a maioria da população deste país. A teledramaturgia brasileira ao falar de seu povo não pode ignorar sua composição étnica, negando-a. Afinal, qual é o papel da arte? Qual o papel da teledramaturgia no Brasil?

Não é exorbitante ou mesmo excessivo  reiterar que o problema nacional não é única e exclusivamente  dos negros, ou da população indígena. É um problema do Brasil, é uma questão relacional entre os vários seguimentos constituintes da sociedade brasileira, ou seja,  brancos, negros, índios e amarelos. “A sua superação é uma portanto uma tarefa de todos e exige uma reeducação coletiva do nosso imaginário, do nosso sentido, da nossa afetividade, em direção ao um  conceito multirracial onde a contribuição civilizatória não pode ser somente européia”.

ARAÚJO, Joel Zito.  A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2000.

http://atarde.uol.com.br/bahia/noticias/1546867-bahia-apresenta-o-maior-numero-de-negros

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/11/para-tem-maior-percentual-dos-que-se-declaram-pretos-ou-pardos-diz-estudo.html

Quantos minutos são necessários para se ter uma perspectiva de gênero no Jornalismo?

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Doze mulheres são assassinadas todos os dias, em média, no Brasil, é o que mostra o levantamento feito pelo site de notícias G1, relativo aos casos relatados em 2017. Este ano a violência contra a mulher continua. Nos últimos sete dias, foram apresentados no telejornal da RPCTV, filiada da Rede Globo, três desses feminicídios que aconteceram no estado do Paraná. A reportagem apontou a lentidão das investigações.

Quinta-feira, 07 de junho: “Justiça nega pedido de liberdade de ex-namorado acusado pela morte de Nathalia Deen”. O feminicídio foi amplamente repercutido pela imprensa local, desta vez, a matéria apresentada tem quase seis minutos e ocupa uma parte considerável do telejornal. Acompanhada de uma tentativa de serviço, a reportagem tenta colocar e incentivar as mulheres a recorrerem aos seus direitos, como a proteção e segurança.

Sábado, 09 de junho: “Irmão é condenado por tiro que deixou jovem em estado vegetativo”. A matéria é a mais curta das três analisadas, tem apenas 57 segundos e apenas apresenta os fatos ao público.

Terça-feira, 12 de junho: “Exame confirma que corpo encontrado em região de serra é de jovem desaparecida”. Mais um caso em que o ex-companheiro se coloca no direito de privar a mulher da sua própria vida. Nesta reportagem a contextualização não é dado e também não aparece de forma alguma a perspectiva de gênero necessária para se tratar este tipo de material. Aqui não há a preocupação em orientar e alertar sobre a conduta abusiva de parceiros ou ex-parceiros.

Pode-se perceber o quanto o Jornalismo ainda deixa de mostrar  informações sobre os casos de feminicídio  em Ponta Grossa. Talvez se todas reportagens tivessem maior tempo de produção seria possível a inserção daperspectiva de gênero e informações em casos de violência contra a mulher. Contudo, conhecimento e informações sobre este assunto ainda são necessários e é papel do jornalismo diário trazer as contextualizações adequadas para as pautas mesmo com tempo limitado.  

Links

http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-2edicao/videos/t/ponta-grossa/v/justica-nega-pedido-de-liberdade-para-ex-namorado-acusado-pela-morte-de-nathalia-deen/6794485/

http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-1edicao/videos/t/ponta-grossa/v/exame-confirma-que-corpo-encontrado-em-regiao-de-serra-e-de-jovem-desaparecida/6804634/

http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-1edicao/videos/t/ponta-grossa/v/irmao-e-condenado-por-tiro-que-deixou-jovem-em-estado-vegetativo/6798997/

https://www.diariodoscampos.com.br/noticia/onu-mulheres-defende-ampliacao-da-participacao-feminina-na-politica

 

Kethlyn Lemes

VÍDEO: Artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos

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O grupo Elos realizou uma parceira com o curso de Jornalismo da Secal. Confira o vídeo produzido por eles sobre os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=xM2E1NErspY[/embedyt]

UEPG lembra 50 anos de maio de 68 com atividades durante o mês

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A exibição do documentário Matanza de Tlatelolco, na segunda-feira, 4 de junho, no Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), marca o início de diversas atividades que ocorrem ao longo do mês, durante o ciclo comemorativo “50 anos de maio de 1968”. A data é simbólica para os movimentos sociais, porque destaca a luta por direitos em diversos países. “Lembrar maio de 68, no contexto que estamos vivendo, faz com que a gente tome consciência em relação a importância das garantias das liberdades individuas e dos processos democráticos”, explica Silvana Oliveira, professora de Literatura do Departamento de Letras da UEPG e uma das organizadoras do ciclo.

O movimento maio de 68 teve origem com uma série de protestos estudantis na França, que sofreram forte reimpressão policial, fato que atraiu adesão para a causa, e no fim do mesmo mês este ano, todo o país estava paralisado por uma greve. A ampliação dos direitos civis era a principal reivindicação do movimento na década de 60, que se espalhou por diversos países, durando por todo o ano e repercutindo até os dias atuais. No Brasil, o marco foi a Marcha dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, que protestava contra a Ditadura Militar.

No México, a organização estudantil lutou por mudanças democráticas no país, maior liberdade política e igualdade social, isso fez com que o governo promovesse um massacre em 2 de outubro de 68 na Praça das Três Culturas na capital. Assim, o documentário Matanza de Tlatelolco apresenta relatos de participantes e imagens do movimento, que descrevem como o massacre resultou em um número de vítimas desconhecidas e no enfraquecimento do movimento naquele país, que por muito tempo ficou esquecido na história.

Programação audiovisual na UEPG

A programação audiovisual é uma das atividades realizadas dentro do Ciclo, por meio da mostra de documentários Um Ano Que Dura Cinco Décadas, organizada pelo projeto de extensão “Cultura Plural” do curso de Jornalismo da UEPG. Karina Janz Woitowicz, coordenadora do projeto, conta que a exibição dos longas é uma oportunidade para conhecer produções que fazem referência ao maio de 68 e debater o movimento. A mostra contará com mais quatro exibições, em faculdades e colégios da cidade.

O Ciclo ainda conta com palestras ao longo de todo o mês de junho e lançamento, no dia 18, da exposição “Imagens de uma jovem rebeldia”, organizado pelo projeto de extensão Lente Quente, do curso de Jornalismo da UEPG. Toda a programação está disponível no evento no Facebook e é aberta ao público em geral, com emissão de certificado de participação.

50 anos de Maio de 1968 é promovido pelo Programa de Pós-Graduação (PPG) Jornalismo, PPG Estudos da Linguagem, PPG Educação, projeto de extensão Agência de Jornalismo e Faculdade Santana, com apoio do PPG Ciências Sociais Aplicadas, PPG História e pelo projeto de extensão Cultura Plural.

Daniela Valenga

COTAS: sobre discriminação e Constituição.

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Quer se goste ou não, as cotas são uma realidade, seja nas Universidades, nos concursos da Administração pública, ou mesmo nas empresas privadas. Basicamente, as cotas reservam uma quantidade de vagas, segundo algum critério (raça, renda, sexo, gênero, existência de algum tipo de deficiência física, etc.), possibilitando que as pessoas daquele grupo concorram entre si, em paralelo às demais não enquadradas naquela categoria. Os que discordam desta política, em geral, argumentam a partir de duas bases: a jurídica e a discriminatória.

A primeira se daria no sentido que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 5º, determina que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza […]”. Tal conceito é o de igualdade formal, típico da primeira dimensão de direitos humanos (tratado na coluna anterior – “Direitos humanos é coisa de esquerda?”), concretizando os mesmos direitos de propriedade, liberdade, votar e ser votado, dentre outros para diferentes pessoas. Isso porque as pessoas são iguais, certo?

Contudo, a própria Constituição também nos diferencia, ao reconhecer, no Art. 7º, XX, o direito de “proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei”. E o artigo 203 determina a prestação da assistência social para amparar crianças e adolescentes carentes (inc. II), bem como a garantia de um “salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família” (inc. V). Ora, por que as mulheres, pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes carentes têm estes direitos, não garantidos da mesma forma à, por exemplo, um homem de classe média?

Porque somos, simultaneamente, iguais e diferentes. Iguais no que nos torna todos humanos, ou seja, animais dotados de racionalidade. Mas também nos diferenciamos, por sermos homens ou mulheres; negros ou caucasianos; portadores ou não de deficiências; hetero, homo, bi ou transexuais, dentre outras inúmeras classificações e critérios.

Neste sentido, a própria realidade já desmonta o segundo argumento dos contrários às cotas, de que elas promoveriam uma maior discriminação. Convenhamos, as cotas não tornam alguém preconceituoso, pois este preconceito já existe; e existe por uma consideração negativa das classificações sociais mencionadas. Enfim, negar os referidos “rótulos” seria desconsiderar a própria realidade. Uma realidade que, aliás, é perversa com aqueles que não se enquadram na noção do que é mais aceitável socialmente (homem, hétero, branco, com boa renda), de modo que as cotas promovem maior convivência entre indivíduos que, normalmente, encontram-se segregados geográfica e socialmente. E um modo de combater o preconceito é justamente pelo convívio, humanizando e normalizando o “outro”.

No Brasil de hoje, “as mulheres recebem, em média, salários 30% menores que os homens quando ocupam os mesmos cargos e com a mesma formação. Para as mulheres negras o cenário é ainda pior: recebem menos de 60% dos salários dos homens brancos e possuem renda média mensal 40% menor que a renda média das mulheres brancas”1. No campo da violência, segundo o IPEA, “a estimativa é que os cidadãos negros tenham um risco 23,5% maior de sofrer assassinato em relação a outros grupos populacionais”2. E a “expectativa de vida de uma Mulher Transexual ou de uma Travesti é de apenas 35 anos, 80% dos assassinos não tem ligação com a vítima e 95% destes assassinatos apresentam requintes de crueldade”3.

Daí que as cotas (e outras ações afirmativas) fazem, sim, uma discriminação a partir de um certo critério escolhido, mas uma discriminação positiva, numa tentativa de concretizar a segunda dimensão de direitos humanos, de modo a (ao menos, tentar) concretizar uma igualdade material, substancial. Em outras palavras, as oportunidades de alguém que sofra preconceitos diários, seja alvo preferencial de violência e tenha uma renda menor são, obviamente, menores do que uma pessoa que nasceu em uma família bem estruturada e com boa renda. A probabilidade deste obter uma boa nota no vestibular é maior do que a do outro e, diante disso, as cotas se justificam, até porque, depois de inserido no ensino superior, os dados mostram que o desempenho entre cotistas e não cotistas se equivale4.

Mas, ainda mais importante, as cotas também servem para mudar a situação de invisibilidade social pela qual passam os beneficiados pelas cotas. Se você já frequentou uma escola ou universidade, eu pergunto: quantos dos seus colegas e professores eram negros ou LGBT assumido? Quantas presidentes de grandes firmas são mulheres? E quantos representantes destas minorias são representantes políticos? Ora, o melhor meio de tornar as minorias visíveis ainda é a inserção no mercado de trabalho, e o caminho para se chegar a isso é uma boa formação (tanto fundamental quanto superior). Neste sentido, hoje se discutem, além de cotas raciais e de renda, aquelas para pessoas transgênero5, de modo a tentar promover a igualdade material a todos os humanos, independentemente de como elx é classificadx pela sociedade.

Por último, é preciso salientar que quase não há discordância, entre os defensores das cotas, de que esta deveria ser uma política temporária. Porém, enquanto durarem as condições que fundamentam oportunidades desiguais a seres igualmente humanos, elas se mostram necessárias. E muito bem-vindas, inclusive porque iniciam debates sobre preconceito, direitos e igualdade.

Pedro Miranda

Anistia Internacional lança clipe “Manifestação” em defesa aos Direitos Humanos

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O clipe e música “Manifestação”, lançado ontem, dia 28 de maio de 2018, tem a intenção de manifestar a defesa dos Direitos Humanos. O clipe conta com a presença de Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Criolo, Chico Cesar, Ludmilla, Rincon Sapiência, entre outros. 

Confira:

Filhos de Quem? denuncia a quebra de direitos na destituição familiar em Ponta Grossa

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O documentário Filhos de Quem? retrata a vivência de famílias separadas quando crianças e adolescentes são levados a abrigos pelos conselheiros tutelares. Produzido em novembro de 2008 por Maria Czelalski, assistente social de Ponta Grossa, e Douglas Moreira, jornalista, o longa foi gravado em apenas um dia e, segundo Maria, é um grito diante de toda a violência contra crianças e adolescentes.

Segundo dados apresentados pela assistente social, em Ponta Grossa existe uma média de 7000 famílias abaixo da linha da pobreza. “Perdi meus filhos por ser pobre” é um dos relatos do documentário. A falta de direitos básicos garantidos pela Constituição Federal de 1988, como à moradia, são alguns dos principais motivos para que crianças e adolescentes sejam retirados de seus lares. Maria ainda destaca que muitas vezes há falta de justificativas concretas para haver o afastamento da família de origem.

O Art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fala que “é direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”, mas como denuncia o documentário, isso pode não ocorrer na realidade.

As crianças e adolescentes acabam por passar todo o período entre a destituição familiar à maioridade dentro de casas de acolhimento, porque não são encaminhadas para adoção. Como é relatado no longa, dentro desses locais não falta o básico, como alimentação e higiene, mas eles acabam por não receber os apoios psicológicos necessários nessa faixa etária e quando saem do acolhimento, não possuem condições de se sustentarem, o que muitas vezes provoca que esses jovens se envolvam em atos ilícitos.

“Se eles não são filhos de suas famílias de origens e também não são cuidados pelo Estado que os tirou delas, então são filhos de quem?”, conta Douglas sobre a escolha do título do documentário. O jornalista ainda lembra que mesmo depois de 10 anos do lançamento, o longa continua atual, porque a situação não mudou dentro das casas de acolhimento.

O documentário foi exibido na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) durante a Semana de Enfrentamento às Violências Contra Crianças e Adolescentes. Dentro do evento, na quinta-feira, dia 17 de maio, haverá uma panfletagem nas vias Vicente Machado e Benjamin Constant, das 11:30 às 13:30, sobre o tema. No dia 18, a partir das 13:00 no Parque Ambiental, atividades educativas serão oferecidas à comunidade em geral. Filhos de Quem? em breve estará disponível no YouTube para a visualização de quem tiver interesse.

Daniela Valenga

Assinatura da Lei Áurea completa 130 anos

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Assinada em 13 de maio de 1888, neste domingo completa 130 anos que a Lei Áurea foi instituída pela princesa regente do Brasil, Isabel. A partir da promulgação desta lei, qualquer negro que ainda permanecia na condição de escravo estava finalmente livre. O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão, que se deu apenas por causa do interesse da Inglaterra, no mercado consumidor que ganharia, caso ocorresse a libertação.

O governo de Dom Pedro II aprovou, antes de abolir definitivamente, outros decretos conhecidos como “Leis para Inglês Ver”. Por pressões da Inglaterra, em 1850, foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, proibido o tráfico negreiro no Brasil. Logo após foi determinada a Lei do Ventre Livre (1871), tornando a partir de sua promulgação livres todos os filhos que nascessem dos escravos, e por fim, a Lei dos Sexagenário (1885), tornando liberto qualquer escravo com mais de 60 anos.

Apesar desta lei ter sido assinada, a vida do negropouco mudou. Sem ter aonde ir, a população negra acabou ocupando as margens das cidades, vivendo em situação de extrema miséria, excluídos e esquecidos pela sociedade. Não trazendo nenhuma mudança política, econômica e social para época.

A comemoração do 13 de maio traz questionamentos. A Sociedade Afro-Brasileira Cacique Pena Branca realiza a 32ª Feijoada da Abolição da Escravatura neste domingo. A associação festeja um novo significado para esta data, comemorando o dia do Preto Velho, que são entidades que em vidas passadas foram escravos e voltam para ajudar as pessoas.

Já o Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais, não comemora a data, considerando apenas como ummomento de recordação para este fato, mas que não merece ser festejada, já que a libertação apenas ocorreu por interesses financeiros, e atualmente os negros ainda viverem numa situação de segregação por parte da sociedade.

No dia 20 de novembro é comemorada como Dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares, maior símbolo de luta e da causa negra no Brasil. A recusa da comemoração do 13 de maio e o festejo em 20 de novembro é entendida como uma forma de valorizar a cultura negra, que mesmo nos dias atuais, anda sofre tanto preconceito. Também uma forma de questionamento sobre a construção de uma vida digna e mais igual a todos os cidadãos, independente de sua cor.

Emanuelle Benicio