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Direitos Humanos versus Liberdade de Expressão A redação do Enem e seus critérios

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Desde 2013 um dos critérios para zerar a redação do Enem é quando o candidato, ao defender o seu ponto de vista, desrespeita os direitos humanos. No entanto, em novembro de 2017, esse item foi vetado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que gerou muita discussão entre os estudantes, professores e sociedade em geral.  Vale lembrar que em 2016, 0,08% dos 5,9 milhões de candidatos tiveram a nota zerada por esse motivo.

Por acreditar que esse critério fere um dos direitos fundamentais da democracia a Associação Escola sem Partido fez um pedido ao STF solicitando que o item fosse retirado do edital do ENEM, sob o argumento de que “ninguém é obrigado a dizer o que não pensa para poder ter acesso às universidades”. Mas será que o problema de ferir os direitos humanos se restringe apenas a uma nota zero no Enem? Será que se o Brasil fosse um país em que o seu povo tivesse com princípio básico o respeito ao próximo, seria necessário o Enem colocar em edital como um dos critérios para zerar a redação o desrespeito aos direitos humanos?

Os direitos humanos são garantidos por 192 países, entre eles o Brasil, que em comum acordo, assinaram a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. EssaDeclaração determina que todos os seres humanos, independente de raça, gênero, nacionalidades ou posicionamento político devem ser respeitados, ou seja, é uma questão de lei e cidadania respeitar as diferenças de cada indivíduo.

Porém, muitos alegam que o fato de ferir os direitos humanos ao expor suas ideias na redação do Enem acarretar na nota zero fere um direito assegurado aos/àscidadãos/ãs, o de Liberdade de Expressão, que por sinal também está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição de 1988. A Liberdade de Expressão é um conceito fundamental nas democracias, uma vez que é assegurado a qualquer indivíduo o direito de se manifestar, de buscar e receber ideias e informações de todos os tipos, seja com ou sem a intervenção de terceiros, por meio da linguagem oral, escrita, artística ou de qualquer outro meio de comunicação.

Diante do impasse, onde um direito fere o outro, os/as estudantes se questionam o que realmente devem fazer quando escreverem a redação. Falar o que realmente pensam, sem a preocupação de ferirem os direitos humanos ou não correr o risco de perder alguma nota e escreverem não o que pensam, mas o que os corretores do Enem querem ler. É importante ressaltar que não se zera mais na redação por não respeitar os direitos humanos, porém uma das cinco competências avaliadas é “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”.

Volto a afirmar que este problema não existiria se na nossa cultura prevalecesse o respeito ao próximo, se houvesse mais empatia e menos intolerância. Assim, nenhum candidato precisaria se preocupar em respeitar ou não os direitos humanos, a sua voz sempre seria ouvida, não sendo ferido o seu direito à liberdade de expressão, por isso é basilar que sejam implantadas políticas educacionais que, como afirma a ativista indiana Ruth Manorama, proporcione uma intensa educação sobre direitos humanos a todas as comunidades para superar os antigos preconceitos.

Alexandra Nunes Santana

Professoras do Mestrado em Jornalismo da UEPG lançam livro sobre mídia, gênero e lutas sociais

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Lançado pela Editora UEPG, a obra Gênero, Mídia e Lutas Sociais: percepções críticas e experiências emancipadoras, já está disponível para leitura. As organizadoras são docentes do Mestrado em Jornalismo da UEPG, Graziela Bianchi, Karina Janz Woitowicz e Paula Melani Rocha. O livro reúne 11 artigos de pesquisadoras e pesquisadores dedicados aos estudos de gênero e pode ser encontrado no formato físico e digital, esse último com distribuição gratuita.

Segundo as organizadoras, entre os objetivos do livro a ideia de promover reflexões críticas sobre a perspectiva de gênero, visibilizar demandas e experiências ligadas aos direitos das mulheres e acolher contribuições multidisciplinares vindas de diferentes áreas. A obra está dividida em duas partes. A primeira recebe o nome de Olhares de gênero e atuação das mulheres na mídia e conta com pesquisas nas áreas de gênero, mídia e política. A parte II, Enfoques de gênero e direitos humanos, fala sobre políticas públicas e direitos sociais, com contribuições multidisciplinares.

Graziela Bianchi, uma das organizadoras, membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Gênero e do projeto de extensão Elos – Direitos Humanos, Jornalismo e Formação Cidadã, enfatiza a importância de estar envolvida em uma obra que traz debates entendidos como muito relevantes. “O livro discute, do ponto de vista de diversas áreas do saber, temas de interesse na atualidade, a partir de reflexões que envolvem tanto os meios de comunicação, como discussões sobre gênero, que conduzem às lutas sociais”, explica.

O livro é resultado do trabalho desenvolvido no grupo de pesquisa Jornalismo e Gênero e discussões realizadas durante o 5° Colóquio Mulher e Sociedade, evento realizado em 2017na UEPG e que busca promover debates interdisciplinares sobre gênero, lutas sociais e direitos humanos. A versão e-book pode ser acessada gratuitamente no site da Editora UEPG (http://www.uepg.br/EDITORA/).

Por Daniela Valenga

Iniciativa oferta curso para candidatos cotistas ao Mestrado em Jornalismo

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Mestrandos em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) promovem curso de preparação para candidatos que concorrem como cotistas no processo seletivo do Programa de Pós-Graduação da instituição. As aulas acontecem às quintas-feiras, das 14h às 15h30, na Sala D 110 do Campus Central, e são destinadas a negros, indígenas, pessoas com deficiência, trans, refugiados ou técnicos da UEPG.

Este é o primeiro ano que o Mestrado em Jornalismo, da universidade, oferece vagas para cotas. A iniciativa veio dos próprios mestrandos, que apresentaram a ideia aos professores responsáveis pelo programa. “A pessoa precisa se preparar, porque se ela não tiver a nota, a cota não adianta”, explica Evelyn Silveira Barbosa, uma das idealizadoras do curso.

Ao todo são seis alunos do mestrado voluntários e cada aula terá dois responsáveis pelo planejamento. Evelyn fala que apesar das dificuldades, os acadêmicos estão se mobilizando para manter a qualidade do ensino público e o curso é uma destas ações, em que eles podem oportunizar os estudos àspessoas que possuem obstáculos na sociedade.

Até o momento, seis candidatos estão inscritos no curso. Maria de Fatima de Oliveira é um deles. Natural de Ipiranga, se graduou em Jornalismo em 2015 pela Secal e pausou os estudos para cuidar do filho. Atualmente, ela trabalha como técnica da UEPG e acredita que o Mestrado trará oportunidades para a sua carreira. “Quanto mais você estuda, mais preparada está para o mercado de trabalho”, avalia.

Ainda existe a oportunidade para se inscrever no curso através do e-mail preparatoriojornalismo@gmail.com

“Incentivamos que as pessoas participem, porque a oportunidade é única”, reforça Evelyn. Informações sobre o processo de seleção para o mestrado podem ser encontrados no edital da coordenação do programa (http://pitangui.uepg.br/propesp/ppgjor/editais/2018/Edital112018.pdf).

Por: Daniela Valenga

Coletivo dá visibilidade à cultura indígena na UEPG

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O Coletivo de Estudos e Ações Indígenas (CEAI), criado em 2017, tem objetivo de dar visibilidade ao povo indígena dentro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A iniciativa surgiu para registrar as atividades que o grupo já realizava desde 2011. “A organização em forma de coletivo é boa porque todos têm responsabilidade e mérito”, comenta Leticia Fraga, professora de Letras da UEPG e membro do CEAI.

Atualmente, o Coletivo é formado por oito membros e conta com projetos na área de pesquisa e extensão. Leticia esclarece que a própria presença dos estudantes indígenas dentro da instituição não é fácil, então o CEAI é uma forma dar apoio para que eles possam se empoderar e compartilhar sua cultura com os demais membros da universidade. “Por que a gente não traz outras maneiras de pensar que não a europeia? A presença deles é muito importante porque somos levados a pensar de outras formas”, defende a professora.

Foto: Coletivo de Estudos e Ações Indígenas

Origem

Com início das atividades de pesquisa e extensão em 2011, foi em março de 2017, que os acadêmicos Joel Anastacio e Renato Pereira propuseram um curso da Língua Kaingang. “Eles vieram falar comigo, mas não é possível que eles registrassem o curso institucionalmente sem que um professor assinasse os documentos”, conta a professora de Letras, Leticia Fraga. Foi então que os três organizaram o curso, contudo, no sistema o que constava Leticia como coordenadora e Joel e Renato membros do projeto.

De acordo com a professora, foi com a experiência do curso que se tornou mais evidente a necessidade que possuíam desde o início, a de procurar uma organização em que todos pudessem ter mérito. Assim surgiu a ideia de se organizarem como um Coletivo.

Joel, acadêmico de agronomia, conta que sempre teve a vontade de fazer algo a mais dentro da universidade. Ele queria dar mais visibilidade indígena. “O legal do coletivo é que um está sempre contribuindo para ajudar o outro quando precisar”, comenta o aluno.

Hoje o coletivo é formado por acadêmicos, mestrandos e professores da universidade, indígenas e não-indígenas. “O CEAI está aberto para quem tiver ideias para contribuir com a visibilidade indígena ou atividades que fortaleçam a ideia de que o indígena hoje pode estar dentro da universidade, e formado em qualquer área”, explica Joel.

“Nós fomos, somos e seremos indígenas”

Joel Anastacio conta que dentro da universidade o estudante indígena encontra muitas dificuldades, o que não deveria, por ser um espaço aberto a todos. Ele destaca que o que para muitos são só brincadeiras, para o indígena pode ser motivo de desistir da universidade e se isolar em sua comunidade. “Quando eu me identifico como indígena, eles já me olham com outro olhar”, relata.

O acadêmico de agronomia fala que a universidade precisa ouvir e dar mais visibilidade para o estudante indígena. Neste sentido, destaca o empoderamento que o Coletivo trouxe. “Antes tínhamos medo, hoje lutamos para que tenham indígenas dentro das organizações acadêmicas e para mostrar que temos muito para contribuir”, reforça.

Joel ainda relata que existe um estereótipo de que o índio é aquele que está no mato caçando. “Ouço coisas como ‘ah, tá na universidade, então não é mais indígena’ quando ser indígena vai muito além disso, é se reconhecer como. Eu tenho isto como uma lição de vida, que futuramente vou estar passando para os meus filhos: que nós fomos, somos e seremos indígenas, independente da profissão que levamos”.

Atividades do Coletivo

Além do curso da língua Kaingang ofertado no ano passado, o Coletivo disponibiliza dois livros para o domínio público, possui trabalhos de Iniciação Científica e Extensão e publicou artigos sobre a origem do grupo e a resistência indígena dentro da universidade.

Dos dois livros já lançados, um é uma cartilha de alfabetização da língua Kaingang e outro traz a compilação de receitas medicinais indígenas. Ambos desenvolvidos em parceria com a comunidade Kaingang da Terra Indígena de Mangueirinha e estão disponíveis no site do Laboratório de Estudos de Texto da UEPG (http://sites.uepg.br/let).

Os próximos projetos do Coletivo contam com material didático de alfabetização na Língua Kaingang e livro infantil trilíngue, em português, espanhol e guarani, que está sendo desenvolvido em parceria com a comunidade Guarani de Inácio Martins. Os projetos do Coletivo podem ser acompanhados pela página no Facebook do projeto (https://www.facebook.com/ceaicoletivoindigena/).

Por: Daniela Valenga

Graduada em Jornalismo pela UEPG produz microdocumentário “Mãe que Luta”

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Trabalho de conclusão de curso de Anna Cuimachowicz aborda o cotidiano de mães de crianças com patologias graves.

 

A jornalista Anna Cuimachowicz, formada na UEPG em março de 2018 e atualmente mestranda no curso de Pós-Graduação em Jornalismo pela mesma instituição, apresentou como trabalho de conclusão de curso uma série de microdocumentários que retrata o dia-a-dia das mães de crianças com patologias graves, em Ponta Grossa. Anna contou com a orientação do professor doutor Felipe Pontes no desenvolvimento do documentário, que também explora as dificuldades enfrentadas pelas mães e crianças na ausência de políticas públicas no município. O espectador ao assistir a série irá ter contato com perfis de mulheres ativistas, avós acolhedoras, mães que lidam com o luto, entre outras nuances da vida de famílias que encaram o cuidado de crianças com patologias neurológicas graves.

 

Elos: Anna quais são as doenças são retratadas na sua série documental e como se caracteriza o cuidado dessas crianças? São majoritariamente pelas mães, é isso?

 

Anna: A série retrata mães de crianças com patologias neurológicas graves em múltiplas nuances. O ser mãe muitas vezes aparece nos cuidados de uma avó, da mãe militante que luta pelo remédio de seu filho, da mãe que recebe um diagnóstico de vida junto do diagnóstico de seu filho e isso ocorre perante as falhas nas políticas públicas vigentes. As patologias retratadas são: Microcefalia, Crises epilépticas graves, Síndrome de William-Beuren, paralisia cerebral e Síndrome de Michels.

 

Elos: Quais as principais dificuldades enfrentadas pelas famílias no contato com o poder público? Na sua visão o que deve ser melhorado neste âmbito em Ponta Grossa?

 

Anna: Em muitos casos as mães se organizam e se reestruturam a partir de grupos de apoio criados por iniciativa própria, como é o caso da Associação de Mãe de Menores Especiais- AMME. Não existem grupos de apoio estruturados pelo Estado, então lá elas buscam informação e criam redes de apoio. Em uma pesquisa de recepção realizada para o Trabalho de Conclusão de Curso verifica-se como uma das principais demandas destas mães questões de acessibilidade. Muitas das crianças fazem uso de cadeira de rodas e as mães dizem que para além da dificuldade de transitar pela cidade o transporte público também é uma imensa barreira de acesso. Além disso, questões como educação e acesso à saúde constituem grande parte da dificuldade da vida destas mães. As mulheres retratadas são fortes e já estão em luta por seus direitos. Não é um caso onde uma minoria tem de se fazer ouvida, isso já é a vida delas, essas políticas públicas têm de emergir de uma empatia coletiva pela luta dos outros.

 

Elos: Como jornalista, como é produzir um trabalho que envolve tantos dramas humanos? Seus estudos no Mestrado dão continuidade ao trabalho que começou na graduação?

 

Anna: É muito difícil retratar a dor dos outros, muita leitura foi feita diante deste aspecto ético, mas essas situações são constantemente colocadas frente ao ator jornalista e suas subjetividades e lidar com elas ultrapassa leituras. Mas o jornalismo pode ser a serviço de diversos agentes sociais, trazer visibilidade para os mais variados temas. Criam-se noções de visibilidade e auto representação discursivas quando se altera o foco para atores constantemente marginalizados. Visualizar tudo isso fez com que eu me apaixonasse pela temática como área de pesquisa. Atualmente no mestrado eu investigo as articulações sociais realizadas entre mídia e receptor e a manutenção de discursos e valores apoiados em um background histórico; a mídia atua construindo as percepções e moldando o imaginário social – e assim eu investigo como se dá o discurso jornalístico a respeito da maternidade em Ponta Grossa.

Por Ligia Tesser.

Veja toda a série documental:

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=NKog_kfTjLU[/embedyt]

ALUNOS DO MESTRADO EM JORNALISMO OFERECEM CURSO PARA COTISTAS

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Os candidatos da seleção para o PPG/JOR 2019, que concorrem pelo sistema de cotas, podem se inscrever no curso preparatório até o dia 09 de setembro. A iniciativa é de mestrandos, que vão ofertar aulas presenciais entre os dias 13 de setembro e 19 de novembro.

Para se inscrever no curso, basta enviar uma mensagem para o e-mail preparatoriojornalismo@gmail.com Lembramos que o curso é EXCLUSIVO para candidatos que são negros, indígenas, pessoas com deficiência, trans, refugiados ou técnicos da UEPG.

O edital do mestrado está disponível em:https://goo.gl/xKD6q3

Comunidade escolar do bairro Santa Paula planeja a produção de um jornal

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Na última quinta-feira, 15 de agosto, professoras, professores, alunas, alunos e diretoria do Colégio Estadual Alzira Correira de Sá Fernando Oliveira se reuniram junto com a coordenação do projeto Elos para iniciar o planejamento das etapas de produção do jornal.

O projeto do jornal proposto pela professora de História, Maria Antonia Marçal, em colaboração com as professoras e professores de Arte, Matemática, Português, Sociologia, Geografia, Filosofia, Inglês e a pedagoga Regiane Pedroso, visa integrar a escola com a comunidade local, além de fortalecer os laços e as múltiplas identidades dos moradores e estudantes. Outra característica é trabalhar a interdisciplinaridade no aprendizado.

Para isso, o jornal será produzido pelos alunos junto com a participação e coordenação dos professores e em parceria com o projeto de extensão Elos e irá abordar pautas do ambiente escolar e do bairro e vilas que compõem a comunidade.

Durante a reunião os participantes traçaram as próximas etapas do projeto. A primeira diz respeito ao concurso para definir o nome do jornal,  seguida das oficinas.

Foto: Fernando Oliveira

 

Foto: Fernando Oliveira

 

Foto: Fernando Oliveira

 

Lei de Cotas: um passo importante nos horizontes da universidade pluriétnica brasileira

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O projeto de Lei que criou uma política de ação afirmativa nas instituições federais de ensino foi aprovado e sancionado pela Presidência da República em agosto de 2012 na forma da Lei 12.711/2012. A Lei estabeleceu a obrigatoriedade da reserva de vagas nas Universidades e Institutos Federais, combinando frequência à escola pública com renda e cor (etnia).

É uma das importantes conquistas no campo de acesso à educação superior por parte de segmentos sociais historicamente excluídos, entre eles os povos indígenas, já que promove a igualdade de oportunidade para todos os brasileiros, na sua ampla diversidade sociocultural e imensa desigualdade econômica. Entretanto, não pode ser vista como um fim em si mesma ou como a salvaguarda de todos os problemas de desigualdade e exclusão educacional no país, como observou à época o professor Gersem Baniwa. “É um ponto de partida para se pensar o enfrentamento mais pragmático das desigualdades associadas à exclusão e discriminação racial, sociocultural, econômica e étnica” afirmava, destacando que “o alcance da Lei depende de ações e estratégias a serem adotados pelo Ministério da Educação e pelas Instituições Federais de Ensino” (LUCIANO, Gersem José dos Santos, Museu Nacional, UFRJ, 2012).

Na sua reflexão, calcada na experiência como pesquisador e formulador de políticas para a educação superior indígena, lembrava que a Lei vinha para fortalecer experiências pioneiras no processo de política afirmativas na área, tais como os programas de educação tutorial, a formação intercultural de educadores indígenas e os vestibulares diferenciados, através de vagas suplementares. Experiências impulsionadas pela Constituição Federal de 1988 e legislações internacionais, bem como pela iniciativa de professores indígenas, e não-indígenas, para fazer valer o direito à educação diferenciada, como direito coletivo, comunitário.

O acesso institucionalizado aponta, assim, para oshorizontes de uma universidade pluriétnica gestada nos desafios de um campo com importância estratégica para a construção de espaços e experiências de convivência multicultural entre povos indígenas e a sociedade nacional, através da troca de saberes, orientada pela interdisciplinaridade, qualidade e compromisso social com a melhoria de vida das comunidades indígenas.

No processo de institucionalização da Lei de Cotas éprimordial a ligação entre o acesso, acompanhamento e permanência dos estudantes indígenas. Tais trajetórias acadêmicas configuram alteridades coletivas em uma sociedade multicultural, em que é preciso enfrentar práticas discriminatórias, racismo e fazer valer seus direitos, cobrando dos governos a constituição de um Estado diferente que possibilite a igualdade de condições de vida para todos.

Nessa perspectiva, a recente mobilização dos estudantes indígenas e quilombolas contra o anúncio de cortes de Bolsa Permanência, pelo Ministério da Educação, é exemplar.

Após várias manifestações em Brasília, audiências públicas nas universidades e resistência contra qualquer retirada de direito, o MEC garantiu 2.500 novas bolsas para alunos matriculados no primeiro semestre, conforme publicado no site do ministério. A abertura do MEC para o cadastro de novos indígenas é uma conquista dos estudantes indígenas e quilombolas. Contudo, diante da conjuntura de severos cortes orçamentários e dos contínuos ataques aos direitos indígenas e quilombolas, continuam vigilantes e querem que o Programa de Bolsa Permanência* se torne projeto de lei, pois é a condição material para os povos continuarem ocupando e pintando de jenipapo e urucum a academia.

*O Programa de Bolsa Permanência (PBP) é uma ação do Governo Federal, por meio do MEC, em conjunto com vários órgãos, que visa democratizar o acesso e a permanência no ensino superior de estudantes indígenas, quilombolas e daqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Carmem Rejane Antunes Pereira

EUA fora do Conselho dos Direitos Humanos da ONU: problema ou solução?

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Marina Demartini

Surpresa não é a palavra que define a saída dos Estados Unidos do Conselho dos Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas (ONU). Tal decisão não é considerada inesperada apenas devido à política “América em 1º lugar” empregada por Trump, em que filhos são separados de seus pais, líderes autoritários são recebidos de braços abertos e acordos internacionais, como o de Paris sobre mudanças climáticas e o nuclear do Irã, são abandonados. Na realidade, na atual ordem (ou desordem) mundial, a falta de tolerância é de longe um espanto.

A relação dos EUA com o Conselho nunca foi estável, nem mesmo quando o órgão foi criado em 2006 para substituir a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos.  Inicialmente, o país se recusou a participar do Conselho, argumentando que, como a antiga comissão, o CDH havia admitido países com registros questionáveis de direitos humanos. Apenas em 2009, no governo de Barack Obama, que os EUA decidiram ser unirao Conselho. As críticas, no entanto, não pararam com a sua adesão.

Além dos Estados Unidos, outros países e grupos de direitos humanos expressaram reclamações sobre o corpo em 2013, depois que Arábia Saudita, Argélia, China, Rússia e Vietnã foram eleitos membros. Israel também critica o Conselho desde o seu surgimento, alegando vigilância injusta do órgão em relação às suas atividades militares em Gaza e nos Territórios Ocupados. O país, aliás, é o único sujeito a revisão permanente na agenda do CDH sob o “Item 7”, chamado de “Israel e os territórios palestinos ocupados” da agenda. Em apoio a Israel, Nikki Haley, representante dos EUA junto às Nações Unidas, disse no ano passado no Conselho que era “difícil aceitar” que resoluções contra Israel haviam sido aprovadas sendo que nenhuma foi considerada no caso da Venezuela.

​Desse modo, a saída dos Estados Unidos do CDH não é surpreendente. Contudo, ela reforça uma discussão que é recorrente em meios acadêmicos e diplomáticos: afinal, o modelo proposto para o órgão é realmente eficaz? Antes de responder a essa pergunta, é importante entender como o Conselho funciona e quais são as suas principais atividades. O órgão é composto por 47 países de diferentes regiões do mundo que participaram de eleições para se tornarem líderes do Conselho por três anos. Cada candidato é obrigado a mostrar um bom registro de direitos humanos e os membros eleitos que cometerem transgressões podem ser expulsos – até hoje, apenas a Líbia foi convidada a se retirar do órgão. Entretanto, a politização entre países vizinhos ou que possuem relações amigáveis continua. Isso porque, nações considerada mais poderosas, como os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, simplesmente decidem quais países são adequados para proteger os direitos humanos.

Outro ponto importante é que o CDH faz reuniões três vezes ao ano que servem para analisar os registros de direitos humanos de todos os 193 membros da ONU. Essa análise é conhecida como Revisão Periódica Universal (RPU) e é um dos únicos mecanismos das Nações Unidas que examina todos os países independentemente de suas situações e posições política, econômica e social. No total, 42 países são analisados todo ano, assim as atividades de cada membro são revisadas uma vez a cada quatro anos e meio. A RPU é dividida em três etapas: na primeira e na segunda fases, relatórios são entreguem pelo próprio governo revisado, por especialistas da ONU e por ONGs para serem revisados pelo Conselho durante três horas e meia – é durante essa sessão que recomendações são feitas para os países analisados. Na terceira e última fase, a revisão é publicada com todas as recomendações aceitas pelo país analisado e quais serão os passos para implementa-las nos próximos quatro anos e meio. Após o fim desse prazo, o Conselho se reúne novamente para ver quantas recomendações foram incorporadas.

Como a maioria das instituições das Nações Unidas, o CDH também sofre de um problema comum em estados burocráticos: ritualismo. Todo esse processo meticulosamente desenvolvido e a linguagem dos direitos humanos são adotados por muitos países para desviar o escrutínio e a responsabilização, ao mesmo tempo em que ganham reputação e legitimidade positivas. Várias nações, por exemplo, ratificam resoluções, mas não as implementam. Isso acaba enfraquecendo a instituição, tornando o monitoramento um mero processo cerimonioso.

É importante ressaltar, contudo, que todo esse processo também causa efeitos positivos na sociedade. Primeiramente, há uma coordenação entre países de diferentes contextos econômico, político e social, algo que não é comum em outras instituições da ONU, como a Assembleia Geral e, especialmente, o Conselho de Segurança, com suas pautas determinadas apenas pelas grandes potências mundiais. Além disso, há uma inclusão maior da sociedade civil, como ONGs que defendem os direitos humanos e grupos de transformação social.

Outro efeito positivo da RPU é que ela revela como a regulação dos países vai muito além das regras legais propostas por tratados internacionais – também é importante salientar que a Revisão Periódica Universal é o único mecanismo obrigatório que revisa a conformidade dos países com relação aos direitos humanos – bem como abre mais a discussão sobre temas menos privilegiados, como os direitos econômicos, sociais e culturais. O órgão, por exemplo, tem sido fundamental na promoção dos direitos das pessoas com deficiência e da comunidade LGBTI. Também devido a esse constante debate, a agenda de direitos humanos é influenciada, além de provocar a mídia do país analisado, impulsionando as recomendações. Alguns exemplos disso são as investigações em Mianmar em 2017, na República Democrática do Congo e no Iémen. Além disso, a Comissão de Inquérito da Síria investiga o conflito desde o início devido ao trabalho feito pelo Conselho.

Com todos esses pontos em mente, é mais fácil entender a saída dos EUA do Conselho dos Direitos Humanos não apenas a partir da visão de política de exclusão atual do país, mas também pelo processo operacional do órgão e seus problemas de politização e ritualismo. No entanto, vale ressaltar que não é porque os Estados Unidos saíram do grupo que outros países irão seguir a sua liderança e declarar um boicote. A realidade é que o Conselho provavelmente será ainda mais severo com Israel e a desestabilização promete ser ainda maior. Tiro no pé? Talvez não. Mas com certeza um no dedão.

Torcer ou não torcer pela Seleção Brasileira: eis a questão.

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Prof Mateus Gamba Torres
UNB – Departamento de História

Um pouco antes de começar a Copa, foi muito comum ouvir comentários de amigos e parentes no seguinte sentido: “não vou torcer pela seleção nesta Copa, olha o país do jeito que está!”. Meus amigos se referiam àsituação política e econômica brasileira, que não anda nada bem, com golpes, corrupção e problemas econômicos agravados nos últimos dois anos. Essas pessoas possuem a soberba de se considerarem o suprassumo das politizadas e considerar seu ato de antipatriotismo a maior das revoltas. Para eles,as pessoas que torcem consequentemente estãoalienadas de tudo que está acontecendo no país, são ignorantes, despolitizadas. Esse sentimento não é novo. Em 1970, muitos intelectuais de esquerda e pessoas perseguidas pela ditadura militar, exiladas, que notavam a utilização da Copa do Mundo de 1970 e a posterior conquista do tricampeonato mundial como a melhor propaganda de exaltação do regime, também tinham esse sentimento e já não torciam pela Seleção Brasileira.O timeera dos sonhos, considerado por muito o melhor de todos os tempos, a vitória foi esmagadora e a utilização dela pelos militares, uma realidade. Utilizaram o futebol como um argumento de que o Brasil estava indo maravilhosamente bem em todos os aspectos e que isso coadunava com o aspecto esportivo, de que tudo estavadando certo e que a conquista do tri seria mais uma prova de que tudo estava indo muito bem.O povo se alienaria pensando apenas na Copa e se esqueceria de seus problemas e dos problemas do país porque o Brasil foi campeão, e o governo, com toda a propaganda, exaltaria, como o efetivamente o fez, o título mundial e não falaria de outros problemas. O ditador Médici realmente utilizou,e muito, o discurso vitorioso do Tri como uma façanha relacionada à ditadura. Junto a isso, o crescimento econômico (desigual e feito com dinheiro emprestado, só para lembrar!), que era chamado de milagre econômico, fazia com que a classe média conseguisse comprar, com o crédito abundante, seus apartamentos pelo BNH e seus fuscas zero quilômetro. A classe média e os mais ricosefetivamente estavam felizes, não somente com a seleção, mas também com sua ascensão social, em detrimento da maioria da população que inchava as favelas devido ao êxodo rural e a desigualdade estabelecida pelo crescimento econômico excludente e de acumulação de capital. É difícil, para mim, crer que alguém ficasse efetivamente triste com a vitória da seleção; todos e todas, dos mais diversos matizes sociais brasileiros, vibraram com o Tri. Era uma sensação construída junto com o sentimento de pátria e nacionalidade: nós somos os melhores do mundo no esporte mais popular do mundo! Porém,para mim também é difícil aceitar que as pessoas com condições sociais de miséria absoluta não soubessem que, passada a alegria, o seu estado continuava o mesmo, o governo ausente da mesma forma, e aceitar que a economia e a política, para essas pessoas,teria melhorado por causa do Tri. Normalmente quem acha que a população pobre pensava dessa forma só reforça o estereótipo do pobre ignorante, que é alienado, que não sabe pensar por si só e que não percebe a realidade em sua volta, quando sua vida melhora ou piora após a ação de um governo. Nos dias de hoje, noto muito dessa postura em pessoas com tendências políticas à esquerda, muito parecido com 1970; porém, um novo fenômeno agora acontece com a direita: ela também não torce mais para o Brasil. Por que? A esquerda até podemos entender:gente que foi contra o golpe e por isso se revolta contra tudo que está aí. Mas, surpreendentemente, o mesmo acontece também com pessoas que apoiaram a queda de Dilma Roussef e agora acham que nem tirando o PT o Brasil tem jeito. Essas pessoas são as mesmas que acham que o povo não sabe votar, que é ignorante, que vai ficar alienado com a política e não vai perceber os supostos danos que o PT fez para o país se o Brasil ganhar a Copa do Mundo. Gente desesperançosa, que achava que tirando o PT do governo as coisas melhorariam, mas quebrou a cara, pois colocouno lugar um corrupto incompetente junto com um bando denunciado em vários processos de corrupção. Agora torcem contra a seleção por causa da situação que perceberam que criaram. Por que torço pela seleção? Porque me recuso a considerá-la propriedade de um governo. Governos passam, o Estado não. O Estado brasileiro é perene, assim como a seleção, e os governossão provisórios, periódicos. Abrindo mão de torcer estamos abrindo mão de algo que é nosso, que faz parte da nossa cultura e que pertence ao povo brasileiro, e não ao governo A ou B. Algo que nos dá orgulho, algo que nos dá alegria, algo pelo que somos apaixonados e nos faz, sim, ficar felizes, pois somos pentacampeões no esporte mais popular do mundo. Para uma gente acostumada com as derrotas da vida, um pouco de vitória vista em seu compatriota de camisa verde amarela lhe dá um pouco de alento. Além disso, não existe nada mais brasileiro do que os jogadores da seleção. Em sua maioria negros e pobres, a história da maioria dos jogadores se confunde com a história da maioria do povo brasileiro. Gente que não tinha dinheiro para almoçar antes do treino, que tinha que trabalhar para pagar o passe do ônibus para treinar, pessoas criadas nas periferias e filhos de mães abandonadas pelos pais. Essas pessoas conseguiram apenas e tão somente com o seu esforço vencer, através do futebol, as barreiras econômicas e o destino, talvez funesto, que a esperava caso o futebol não lhe desse essa oportunidade. “Ah”, mas dizem essas mesmas pessoas, “eles são milionários, ganham dinheiro demais só para jogar futebol”. Interessante que isso é dito pelas mesmas pessoas que adorariam que sua empresa ou comércio ou seu emprego lhes desse tal rendimento. Qual dessas pessoas não adoraria ganhar o que ganha um jogador de futebol da seleção? Mas essas mesmas pessoas dizem, “é só futebol”! No entanto,acredito que, se elas ganhassem tal salário, independentemente do que fizessem, jamais achariam injusto, ou seja, é uma postura extremamente hipócrita. É bem verdade que a concentração de renda de uns causa pobreza em outros, e não concordo com isso, o Estado deve regular essa concentração através de uma política tributária justa; afinal, me considero comunista.Porém, o sistema em que esses jogadores foram criados é o capitalista, ou seja, vença pelos próprios meios e ganhe o máximo de dinheiro possível, sistema essedefendido com unhas e dentes pela parcela que foi pedir a queda do “comunismo” do PT. Quer dizer, a classe média pode ficar rica, mas o negro, pobre da favela não. Como pedir para essas pessoas pensarem diferente quando foramcriadas nesse sistema? Sabemos de casos de acusações de sonegação de impostos, que devem ser punidos, mas isso não invalida o fato de que nos salários dos jogadores não foi investido um real de dinheiro público e, se as empresas estão lhe pagando, é porque prestam um serviço como outro qualquer. Por fim, vejam como é dura a vida de um jogador de futebol: treinos, cobrança, concentrações, etc, isso falando apenas dos jogadores da seleção que ganham bem, sendo que a maioria dos jogadores profissionais no Brasil ganha parcos salários por seu trabalho. E é um trabalho duro! Levar lazer para as pessoas dá trabalho. Traz alegria, alento e felicidade a uma população que não é acostumada a ter nada disso. Por isso digo a plenos pulmões, e sem medo de parecer alienado: Que venha o Hexa! Que esses brasileiros vençam. Em nome de sua história e em nome de seu povo.